- Eu estou escandalizada, disse a minha amiga abruptamente, estava eu distraída a saborear o meu queque caseiro, ainda meio quente, que a senhora brasileira apresenta diariamente no seu escaparate doceiro, em atentado diário à minha gula de consequências imprescindíveis sobre o meu colesterol, segundo repete a minha esbelta amiga, na preocupação da minha linha que não é igual à sua.
- Que foi? perguntei, decidida a não me deixar impressionar por nenhum facto que quebrasse o meu bem-estar gustativo, equiparando-me modestamente ao Jacinto na sua primeira refeição em Tormes, de um “arroz com favas (que) nem em Paris, Belchior amigo!”, Paris donde acabara de chegar, trepando a "serra bendita entre as serras" com o seu amigo Zé Fernandes.
A minha amiga lera uma revista cuja capa apresentava o nosso PM e mais três mulheres.
- Numa época destas, vem Sócrates numa capa com três mulheres ao lado, na possibilidade de virem a ser as futuras namoradas. Mas está tudo doido ou quê? É altura de tratar das namoradas do Sócrates? E aquelas se calhar nem têm nada com isso e vêm ali na fotografia.
- Indecoroso! - confirmei, num gole final da minha bica, já disposta a segui-la com a compostura indispensável à boa meditação, sentindo quanto as nossas conversas de café nos aproximavam elegantemente das dos nossos políticos nos seus almoços ou jantares comemorativos ou alicerçantes das suas políticas de mesa.
- Falta de respeito! – A minha amiga estava mesmo encolerizada, que ela leu o artigo da revista onde se falava da mãe de Sócrates, como pessoa feliz com a nova aproximação de Sócrates à esposa, de quem afirmou gostar.
- Então, se ele pensa voltar ao lar, como é isso de tanta mulher no almoço dos cem dias – os mesmos do último governo de Napoleão, regressado do desterro de Elba, governo que Waterloo liquidou?
- São uma infâmia estas revistas que se prestam a este tipo de notícias. Já não interessa a categoria. Tudo gosta de espectáculo.
- A nossa democracia faz-se com isso, e assim é mais popular, mais autêntica, de acordo com a raiz grega .
- Deve ser para mostrar que estamos a viver bem. Este não pode continuar a ser Primeiro Ministro! Um ministro com tanta história para contar que ele nunca deslindou! Mas o que é facto é que não temos alicerces para mudar. E ele aproveita-se disso para apalhaçar cada vez mais o cargo que a decência e a obrigação mandam respeitar.
- O Pacheco Pereira tem defendido sempre a Manuela Ferreira Leite como pessoa capaz de uma mudança honorável, desde que se rodeasse de pessoas aptas. Mas o povinho graúdo e miúdo não quer ver isso. Só porque ela é educada e discreta. E aqui vamos tranquilamente a resvalar, a ler notícias como a que me chegou hoje por email, segundo um estudo da LUSA, do Ministério da Educação do Luxemburgo, e tratada no Público de hoje, uma notícia de estarrecer sobre a maior taxa de abandono e de insucesso escolar, cá dentro como lá fora.
Mostrei a notícia à minha amiga, que logo afirmou conhecer esses dados marginalizantes do nosso País.
Transcrevo o seguinte, que é grave e conhecido, extraído do blog de Venerando Matos - Vedrografias:
“... É claro que isso se deve às famílias, de baixo nível. Mas vale a pena reler: “Andou o Ministério da Educação, nos últimos anos, sob a liderança de uma Maria de Lurdes Rodrigues, e o beneplácito de um agradecido José Sócrates, acoitada por um Lemos e um Pedreira, com o apoio propagandístico de alguns opinadores como Emídio Rangel, o Miguel de Sousa Tavares a despejar sobre a opinião pública a ideia de que os professores portugueses eram uma espécie de crápulas, responsáveis pelo abandono escolar e pelos maus resultados dos alunos, para vir agora um estudo do Ministério da Educação do Luxemburgo revelar que são os estudantes portugueses naquele país os que registam mais abandono escolar e piores resultados. Afinal, como prova esse estudo, reforçado por situação idêntica noutros países, como os E. Unidos, o Canadá, a Grã-Bretanha e a Suíça, o facto de as famílias portuguesas emigrantes não valorizarem o estudo e o ensino, está na origem do abandono escolar e dos maus resultados.
“... De facto existe na sociedade poretuguesa uma tendência generalizada para desvalorizar o estudo, o esforço intelectual e a responsabilidade das famílias na educação dos filhos.
“... Num país onde opinadores e economistas e políticos, trasmitem como imagem de valorização pessoal e económica actividades como a especialização financeira e imobiliária, o futebol e os concursos de fama efémera, não é de admirar que se desvalorize socialmente o conhecimento e a aprendizagem.
“Basta olhar os escaparates dos quiosques para percebermos isso: existe uma imensidão de publicações dedicadas ao futebol, à vida cor-de-rosa de famosos por serem famosos, ou à divulgação de truques financeiros para enriquecer rapidamente...”
Não, não temos safa, comentei eu com a minha amiga, já muitas vezes tocámos no assunto. E nem vale a pena incriminar este ou aquele governante, a coisa vem dos primórdios da nossa formação como nação. A cultura no nosso país teve sempre um carácter elitista, o povo desprezado na sua condição de animal de trabalho, ao nível das bestas que o ajudavam a arrancar o sustento da terra, para os senhores se servirem. E continua elitista, apesar da abertura para o mundo trazida pelos meios do progresso. Somos um povo com tanto de iletrado como de desdentado. Os reis construíram palácios com as riquezas chegadas de além-mar, não criaram estruturas para alargarem as fronteiras do espírito desse povo vergado, sempre o mais atrasado, sempre o mais tacanho, donde emergiram muitos dos espertos – (alguns até bem inteligentes como Salazar, no tempo da penúria deixada pelos anteriores governantes republicanos) – muitos dos espertos das sucessivas governações sucedâneas ao Estado Novo. A nossa massa demográfica, nos extraordinários desníveis de que sempre se compôs - quer económicos quer culturais - não tem, realmente, vocação para o estudo sério e responsável. E a massificação trazida com a Revolução dos Cravos serviu apenas para cimentar uma amálgama de coisa nenhuma, fortalecida pelo desleixo e má criação standardizados, originada pelas tenebrosas directivas pedagógicas, cada vez mais veiculadoras da indisciplina nas escolas, como reflexo da indisciplina nas famílias, como reflexo das governações inquinadas pelo oportunismo, a injustiça e a degradação dos valores basilares de uma sociedade que se respeite, respeitando o seu País. E isso não temos.
- Que foi? perguntei, decidida a não me deixar impressionar por nenhum facto que quebrasse o meu bem-estar gustativo, equiparando-me modestamente ao Jacinto na sua primeira refeição em Tormes, de um “arroz com favas (que) nem em Paris, Belchior amigo!”, Paris donde acabara de chegar, trepando a "serra bendita entre as serras" com o seu amigo Zé Fernandes.
A minha amiga lera uma revista cuja capa apresentava o nosso PM e mais três mulheres.
- Numa época destas, vem Sócrates numa capa com três mulheres ao lado, na possibilidade de virem a ser as futuras namoradas. Mas está tudo doido ou quê? É altura de tratar das namoradas do Sócrates? E aquelas se calhar nem têm nada com isso e vêm ali na fotografia.
- Indecoroso! - confirmei, num gole final da minha bica, já disposta a segui-la com a compostura indispensável à boa meditação, sentindo quanto as nossas conversas de café nos aproximavam elegantemente das dos nossos políticos nos seus almoços ou jantares comemorativos ou alicerçantes das suas políticas de mesa.
- Falta de respeito! – A minha amiga estava mesmo encolerizada, que ela leu o artigo da revista onde se falava da mãe de Sócrates, como pessoa feliz com a nova aproximação de Sócrates à esposa, de quem afirmou gostar.
- Então, se ele pensa voltar ao lar, como é isso de tanta mulher no almoço dos cem dias – os mesmos do último governo de Napoleão, regressado do desterro de Elba, governo que Waterloo liquidou?
- São uma infâmia estas revistas que se prestam a este tipo de notícias. Já não interessa a categoria. Tudo gosta de espectáculo.
- A nossa democracia faz-se com isso, e assim é mais popular, mais autêntica, de acordo com a raiz grega .
- Deve ser para mostrar que estamos a viver bem. Este não pode continuar a ser Primeiro Ministro! Um ministro com tanta história para contar que ele nunca deslindou! Mas o que é facto é que não temos alicerces para mudar. E ele aproveita-se disso para apalhaçar cada vez mais o cargo que a decência e a obrigação mandam respeitar.
- O Pacheco Pereira tem defendido sempre a Manuela Ferreira Leite como pessoa capaz de uma mudança honorável, desde que se rodeasse de pessoas aptas. Mas o povinho graúdo e miúdo não quer ver isso. Só porque ela é educada e discreta. E aqui vamos tranquilamente a resvalar, a ler notícias como a que me chegou hoje por email, segundo um estudo da LUSA, do Ministério da Educação do Luxemburgo, e tratada no Público de hoje, uma notícia de estarrecer sobre a maior taxa de abandono e de insucesso escolar, cá dentro como lá fora.
Mostrei a notícia à minha amiga, que logo afirmou conhecer esses dados marginalizantes do nosso País.
Transcrevo o seguinte, que é grave e conhecido, extraído do blog de Venerando Matos - Vedrografias:
“... É claro que isso se deve às famílias, de baixo nível. Mas vale a pena reler: “Andou o Ministério da Educação, nos últimos anos, sob a liderança de uma Maria de Lurdes Rodrigues, e o beneplácito de um agradecido José Sócrates, acoitada por um Lemos e um Pedreira, com o apoio propagandístico de alguns opinadores como Emídio Rangel, o Miguel de Sousa Tavares a despejar sobre a opinião pública a ideia de que os professores portugueses eram uma espécie de crápulas, responsáveis pelo abandono escolar e pelos maus resultados dos alunos, para vir agora um estudo do Ministério da Educação do Luxemburgo revelar que são os estudantes portugueses naquele país os que registam mais abandono escolar e piores resultados. Afinal, como prova esse estudo, reforçado por situação idêntica noutros países, como os E. Unidos, o Canadá, a Grã-Bretanha e a Suíça, o facto de as famílias portuguesas emigrantes não valorizarem o estudo e o ensino, está na origem do abandono escolar e dos maus resultados.
“... De facto existe na sociedade poretuguesa uma tendência generalizada para desvalorizar o estudo, o esforço intelectual e a responsabilidade das famílias na educação dos filhos.
“... Num país onde opinadores e economistas e políticos, trasmitem como imagem de valorização pessoal e económica actividades como a especialização financeira e imobiliária, o futebol e os concursos de fama efémera, não é de admirar que se desvalorize socialmente o conhecimento e a aprendizagem.
“Basta olhar os escaparates dos quiosques para percebermos isso: existe uma imensidão de publicações dedicadas ao futebol, à vida cor-de-rosa de famosos por serem famosos, ou à divulgação de truques financeiros para enriquecer rapidamente...”
Não, não temos safa, comentei eu com a minha amiga, já muitas vezes tocámos no assunto. E nem vale a pena incriminar este ou aquele governante, a coisa vem dos primórdios da nossa formação como nação. A cultura no nosso país teve sempre um carácter elitista, o povo desprezado na sua condição de animal de trabalho, ao nível das bestas que o ajudavam a arrancar o sustento da terra, para os senhores se servirem. E continua elitista, apesar da abertura para o mundo trazida pelos meios do progresso. Somos um povo com tanto de iletrado como de desdentado. Os reis construíram palácios com as riquezas chegadas de além-mar, não criaram estruturas para alargarem as fronteiras do espírito desse povo vergado, sempre o mais atrasado, sempre o mais tacanho, donde emergiram muitos dos espertos – (alguns até bem inteligentes como Salazar, no tempo da penúria deixada pelos anteriores governantes republicanos) – muitos dos espertos das sucessivas governações sucedâneas ao Estado Novo. A nossa massa demográfica, nos extraordinários desníveis de que sempre se compôs - quer económicos quer culturais - não tem, realmente, vocação para o estudo sério e responsável. E a massificação trazida com a Revolução dos Cravos serviu apenas para cimentar uma amálgama de coisa nenhuma, fortalecida pelo desleixo e má criação standardizados, originada pelas tenebrosas directivas pedagógicas, cada vez mais veiculadoras da indisciplina nas escolas, como reflexo da indisciplina nas famílias, como reflexo das governações inquinadas pelo oportunismo, a injustiça e a degradação dos valores basilares de uma sociedade que se respeite, respeitando o seu País. E isso não temos.
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