quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Ai balancé, balancé…



A moral de Florian,
Nesta história de uma glória
Que vai seguir-se,
Aplica-se
 À mocidade estouvada
Habituada a definir-se
Pela contestação,
Sem nas regras se apoiar
Como balancé desprezado
Que a farão ir ao chão
Se para longe o atirar.
Vejamos a fábula já,
Que nos mostra que, como outrora,
A juventude de agora
Não mudou tanto, afinal,
E se mais recuarmos ainda
Veremos que a coboiada
Já entre os clássicos se via,
Para arrelia
Da velharia:

«O dançarino da corda bamba e o balancé»
 Sobre a corda esticada
Um jovem volteador
Aprendia a dançar e já a sua habilidade
Os seus fortes volteios
Plenos de agilidade,
Faziam aparecer muito espectador.
No seu estreito caminho de corda,
Vêem-no avançar,
A mão no balancé, em liberdade,
Corpo direito, ousado,
Hábil e ligeiro;
Ele eleva-se, desce,
Vai, vem, mais alto se lança.
Volta a subir, volta a cair
Em cadência.
E semelhante a certos animais
Que rasam voando
A superfície das águas,
O seu pé toca, sem que se veja,
Na corda que verga
E no ar o relança.
O nosso jovem dançarino
Vaidoso do seu talento
Disse um dia:
 Para quê
Este pesado balancé
Que me cansa e me embaraça?
Se eu dançasse sem ele
Teria muito mais graça
Ligeireza e força.
Dito e feito! O balancé  
Ao chão atirado,
O nosso estouvado
Estendeu os braços
Partiu o nariz, caiu
E toda a gente se riu.
Mocidade, mocidade,
Ninguém te disse
Que sem regras nem freio
Cedo ou tarde se sucumbe?
A virtude, a razão, as leis, a autoridade
Nos vossos desejos fogosos
Causam-vos alguma pena;
É o balancé que vos cansa
Mas que vos dá segurança.»

Sabemos que tem razão,
Florian
Na crítica à mocidade,
Na  sua tola autoridade
De contestação
Que a maior parte das vezes
Vai ao chão.
Não se passa assim connosco,
De mocidade já perdida
Nos volteios da sua vida
Sem pontes nem horizontes,
A não ser lá para fora,
Sem demora.
Aqui,
Os que atiram o balancé
Com força ao chão,
Significando aquele
Vileza de corrupção
No abandono das regras
Da educação,
São antes os que vão singrando,
Nas rodas do seu fervor
Apenas ávido de lucro
E enriquecimento mor,
Não geral mas pessoal.

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