Datas para lembrar, na Alemanha do século XX, mas sobretudo,
no que mais toca o mundo, a da Queda do Muro de Berlim, cujos festejos
recentes motivaram o artigo de António da Cunha Duarte Justo, publicadas no “A
Bem da Nação” - «A Divisão da Europa e do Mundo
passava, há 25 anos, pelo Meio da Alemanha»
Um texto sobre a unificação da Alemanha, mostrando o terror
da Guerra Fria que a construção do Muro iniciou, em 1961, e cuja destruição se
deveu a uma nova política de libertação instituída pelo inesquecível Gorbachev,
bela e simpática figura que inesperadamente surgiu no horizonte político russo,
pondo fim – temporariamente, embora – a governos ditatoriais e ameaçadores da
paz, com a sua Perestroika libertadora.
Um texto bom para recordar:
«A Divisão da Europa e do Mundo passava, há 25 anos, pelo Meio da
Alemanha»
O
dia 9 de Novembro, é aquele dia em que se celebra o 25° aniversário da queda do
Muro de Berlim, o dia em que a liberdade arrebentou com as portas e desceu à
rua.
Até
àquela data já tinha fugido do éden socialista, cerca de 5 milhões de “ossis”
(alemães de leste). O Politburo constatava que, por dia, fugiam de Berlim Leste
de 300 a 500 pessoas e toda a Alemanha de Leste se encontrava em efervescência
tal como acontecia já noutros países do bloco soviético; por isso decidiu
simplificar a saída e a entrada no país.
A
notícia prematura da administração (Politburo) de que no dia seguinte haveria
liberdade de circulação levou o povo a acorrer em massa, já no dia 9, às
fronteiras.
Ateado
o fogo da coragem à multidão, esta deixou a alegria saltar em cima do muro e
destruir, por algum tempo, a "cortina de ferro" entre capitalismo e
socialismo. Apenas a porta de Brandeburgo se manteve algum tempo encerrada,
devido ao titubear das instâncias socialistas, que por fim deixaram vingar a
razão, não intervindo naquele acto da força popular. Os soldados controladores
do muro abandonaram os seus postos, ao ver tal formigueiro de pessoas e trabis (auto típico da Alemanha de Leste) a querer passar
para o lado ocidental do muro. Deste modo, os alemães tiveram a sorte de
fazerem uma revolução sem tiros nem mortes. Posteriormente o funcionário superior do Politburo (Schabowski)
que, por descuido, deu início à enxurrada da liberdade, declarou-se
envergonhado do sistema socialista confessando: “fizemos quase tudo mal”
naquele “sistema incapaz de vida”.
Era
o início do fim da ditadura socialista da Alemanha de Leste. A vontade de
liberdade não se deixou dominar por mais tempo; o estado injusto com espionagem
em todos os sectores laborais e sociais, com o terror policial, a perversão da
justiça e a idiotice económica aproximava-se do fim.
Aquela
monstruosidade do muro erguida nos olhos do mundo desde 1961 caía agora devido
à força da enxurrada da liberdade represada durante 28 anos. Começava para os
cidadãos do socialismo real uma nova vida pondo-se a corar ao sol da liberdade
a mancha da vergonha. Inicia-se aqui uma nova página da História para a
Alemanha e para a Europa. Acaba-se com um mundo bipolar e com a guerra-fria,
conseguindo-se a reunificação da Alemanha a 3 de Outubro de 1990.
Os
cidadãos ao saltarem o muro do medo conseguem fazer milagres aplainando os
muros para a felicidade poder deslizar.
Tive
a dita de festejar juntamente com os alemães o dia da libertação. Um misto de
alegria, agradecimento e humildade se juntavam nos ares. Neste momento não
tínhamos nacionalidade, cor nem raça, éramos universais. Neste dia as pessoas
mesmo desconhecidas aplaudiam e choravam, abraçando-se na rua. Como é belo e
consolador quando o sol deixa de ser arrebanhado por mãos escuras e pode descer
à rua. Se a massa do povo soubesse a força
que tem, não haveria político algum que lhe resistisse e continuasse a
servir-se e a servir interesses anónimos e escuros, à sua custa.
O nove de Novembro é uma data marcada pelo destino alemão.
Em 1918 deu-se a abdicação do imperador e proclamação da República; a 9.11
de 1923 falha miseravelmente o golpe de Hitler contra a Democracia; a 9.11 de
1938 deu-se a miserável “Noite dos Cristais”, o pogrom contra os judeus em que
os nazistas incendeiam sinagogas e se deu a pilhagem das lojas judaicas - com
este dia inicia-se a perseguição sistemática dos judeus; finalmente, a 9.11 de
1989 dá-se o passo para a união e liberdade depois da abertura incontrolada do
muro.
O
sacrifício que se paga pela liberdade deve ser proporcional à vitória e à
perda! A liberdade e a justiça justificam o máximo de esforço e sacrifício.
António da Cunha Duarte Justo
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