Falámos
dos canais. A minha amiga tem preferência pelos que ensinam medicina, e é por
isso que me atazana com perguntas que envolvem o cérebro, sobretudo das
crianças que tomam comprimidos para forçar a atenção na escola, o que ambas
condenamos, ou dos adultos com problemas depressivos, o que também já me
sucedeu, mas de cuja medicação me desfiz voluntariamente, atribuindo o problema
diagnosticado a uma crise passageira de baixa
auto-estima, diagnóstico que se aponta hoje muito para as depressões, embora eu
não ache que a tenha, reservando para a minha bolsa o problema da baixa. Mas
não me seduzem os programas sobre doenças que põem a minha amiga a falar com
tanta autoridade e insistência nessas questões mórbidas. Prefiro programas de
disputas políticas, embora os problemas sociais do país me ponham, por vezes, à
cata do canal Memória, que nos transmite realizações do passado bem concebidas,
não esquecendo José Hermano Saraiva, para enterrar a cabeça na areia, como o
avestruz. A minha irmã fala no segundo canal, e concordamos que tem programas
magníficos. Falámos no Don Giovanni que ambas tínhamos visto na véspera,
com Carlos Guilherme e outros cantores e cantoras de ópera, espectáculo
realizado em Faro, e nesse mesmo dia – domingo - pude ver, com admiração,
encanto e gratidão, o Bailado Pedro e Inês, da Companhia Nacional
de Bailados, criação de Olga Roriz, de 2004, que achei o máximo, tanto
na concepção, como na coreografia, como no desempenho, provando que sabemos e
podemos criar tantas coisas belas e
modernas no universo artístico, que a televisão deveria divulgar mais. Um
segundo Canal que eu própria me arrependo de não ver mais vezes, incitada por
outros interesses como os de cinema ou
os shows de maravilha da TV5, entre os quais o de Culinária antes do “Questions…”
do Julien Lepers, seguindo uma linha de orientação sóbria, didáctica e educada,
que me leva a comparar com o nosso espécime de “Bonjour Chef” do 1º Canal, em
tudo seu avesso – profuso, impertinente, exibicionista e sem nível didáctico, a
relembrar as botas de biqueira exagerada que Carlos da Maia
encontra na sua passagem final por Lisboa, e que tanto definem o nosso catitismo
provinciano. A par de espectáculos bem concebidos de canto ou bailados,
permite-se, na TVI, contudo, um programa da Teresa Guilherme, com absoluta
falta de nível, ao que me pareceu e que mais carrega de cores sombrias o
problema educativo da nossa sociedade.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2014
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