Uma fábula muito simples
De Florian
Sobre a influência
Com que uma lisonja bem
urdida
Explora humanas vaidades
Em seu próprio benefício.
Também La Fontaine o dizia
Na sua fábula do Corvo e da Raposa
Manhosa.
Disse a Raposa ao Corvo
Um dia,
Depois de lhe apanhar o
queijo,
Quando o mandava cantar
Com a sua voz de encantar:
«Aprenda que todo o
lisonjeiro
Vive à custa
De quem o escuta».
A Bela que desmaiou
Quando a abelha poisou
Nos seus lábios vermelhos,
Perdoou no mesmo instante
Em que esta se desculpou
Dizendo que se enganara
Julgando que eram rosas
Os lábios em que poisara!
Àgora!
A Coquete e a Abelha
Cloé, jovem, bonita
e sobretudo
Muito coquete,
Todas as manhãs ao levantar-se,
Punha-se a trabalhar,
Quero eu dizer, fazia
A sua toilete.
E aí, sorrindo
afectadamente,
Dizia ao seu caro confidente,
O espelho,
As penas, os prazeres,
Os projectos da sua alma
Contente.
Uma abelha estouvada chegou zumbindo.
«Socorro! Socorro!» grita logo a dama.
Acudi, Lisa, Martinha, acudi prontamente!
Expulsai o monstro alado!”
Insolentemente
O monstro nos lábios de Cloé se instala.
Cloé desmaia e Martinha em fúria
Apanha a abelha, disposta a esmagá-la.
«Ai! Diz com doçura o infeliz insecto.
O meu erro perdoai!
A boca de Cloé pareceu-me uma rosa
De tão formosa, e julguei…-
A esta palavra, Cloé recuperou
Os sentidos.
“Perdoemos, diz ela,
A sua confissão sincera.
Aliás, foi ligeira a sua picada.
Desde que ela se pôs a falar
Eu já não sinto nada.”
Quanto não vale o incenso
Para as partes harmonizar!
De enganos anda também
A nossa Terra cheia,
Desde o tempo em que trocámos
Por cravos
As armas de uma teia
Urdida por quem diz amém
A tudo o que cheire a indolência
E a brincadeira.
É o que se prevê
para o
Bimilésimo décimo quinto ano
Da nossa era,
Sem esperança
De mudança
Na chinfrineira.
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