Não põe quaisquer restrições Alberto Gonçalves, na sua
crónica de 11/1/15 - O desrespeito é muito lindo – à liberdade ilimitada
de que se arrogou Charlie com os seus desenhos de troça a Maomé, como
provocação àqueles que em nome deste cometem actos de uma crueldade ilimitada,
animais urrando e esquartejando livres na sua selva apocalíptica, e estendendo
a sua garra pelos espaços mais próximos, em ânsia avassaladora. É em nome da
liberdade, como direito absoluto, que se desrespeitam valores, como esses das
crenças religiosas, e Alberto Gonçalves é todo a favor do desrespeito. Como
arma que nos respeita a nós, ao que parece, pois os cortejos em nome dessa
liberdade e o dístico “Je suis Charlie” de que se arrogaram, comprova essa
nossa auto-estima, pelo nosso apoio à coragem de outros, mártires do seu arrojo.
Mas julgo que
Alberto Gonçalves se excedeu. Não se trata de pura irreverência malandra, essa
de que se arrogam os cartoonistas como meio de atingir determinados fins, e que
as mais das vezes provocam um efeito galhofeiro, como caricaturas de maior ou
menor alcance perverso, que nos consola ou desagrada. Porque a admissão do “vale
tudo”, sem censura nem autocensura, faz de nós, só momentaneamente, os do sem limite,
deuses poderosos que detêm a omnisciência e a sua implacabilidade. Na ânsia de nos
definirmos democraticamente como seres livres, não admitimos a contenção, o bom
senso – nem o bom gosto - da educação, dos valores, sabendo quanto são falsos esses
direitos de absolutos inexistentes, no relativismo da nossa condição humana de
sujeição e precariedade.
Passada a
borrasca que eles provocaram e os vitimizou, mantém-se um status de
agitação e medo, que os do bom senso – os do governo - terão de controlar, com
o policiamento próprio, dos seres humanos treinados para policiar, mas quantas
vezes reféns do seu medo também. Para que nós, os valentões de praça, Charlies
da galhofa, possamos reivindicar os tais direitos próprios.
Eis alguns passos da sua crónica:
«O desrespeito é muito lindo»
«Para
início de conversa, e por incrível que pareça, convém esclarecer que os
acontecimentos de quarta-feira em Paris não decorrem da austeridade, do
desemprego, do desenraizamento, da pobreza, da globalização, do individualismo,
da falta de "valores", do mau gosto, da NATO, da FIFA, da guerra no
Iraque, do conflito israelo-árabe, das Cruzadas ou do fanatismo religioso em
geral.
O
massacre na redacção do Charlie Hebdo decorre apenas de sede de sangue que
alguns revelam em nome de uma religião particular, o islão, hoje bastante
fadada a congregar tarados do género. Quem, por estratégia partidária,
convicção ideológica, conivência dissimulada com os assassinos ou pura
estupidez, procura causas avulsas para "explicar" o assassínio de 12
pessoas, fora os inocentes que tombaram nos dias seguintes, está pouco
consternado com a chacina. Não sei se, no Twitter dela, a Dra. Ana Gomes
"legitimou" a chacina com a crise económica por oportunismo ou
imbecilidade crónica. Sei que é vergonhoso a senhora representar Portugal no
Parlamento Europeu, tão vergonhoso quanto o PCP, que responsabilizou a
"exclusão social" e os EUA pelo atentado, ainda existir.
…..«Há
pois, que disseminar o desrespeito e abusar da liberdade. Há que transformar o
islamismo num pretexto viável da crítica e da chacota, as mesmas que dedicamos
às demais religiões sem consequências desagradáveis. Há que produzir desenhos,
artigos, filmes, livros, canções, peças, esculturas, pornografia e picolés
susceptíveis de enfurecer muçulmanos. Há que expor os devotos de Alá à ofensa a
que o Ocidente se habituou. Há que erradicar o tique de chamar irreverentes a
tontinhos que esgotam as transgressões na Virgem, na Merkel, no Buda ou no
Bush. Há que relativizar a coragem de humoristas que achincalham católicos e se
expõem a uma perigosíssima reprimenda do CDS. Há que perceber que o “Je suis
Charlie” só vale nos capazes da dignidade (ou da licenciosidade) pela qual os “Charlies”
originais morreram. É preciso que milhões percam o medo para que o maior risco
não se limite a meia dúzia. …………………………..»
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