Um texto de história e de valores que relativiza, afinal, a
coragem, a qual abranda quando o medo é real, contra os cinismos e os
interesses por aí espalhados… De José
Augusto Fonseca. Publicado no “A Bem da Nação
VAMOS LÁ TER CALMA...ESQUECIMENTOS
Caro Amigo Henrique Salles
da Fonseca,
1 –
Três textos fizeram que, modestamente, viesse de novo à ribalta, acolhido pelo
A Bem da Nação. O pano começa a descer sobre a boca de cena e apenas ficam na
plateia os que não se esquecem, até para assistirem aos próximos andamentos. E
os textos são de Berta Brás (a quem cumprimento) titulado "O
Herdeiro", o de Manuel Serrão (Dr.) no Jornal de Notícias (14.01.2015) com
"Os Anjinhos de Charlie" e o do Henrique "Je ne m'apelle pas
Charlie".
2 - E
tudo pelo miserável ataque e respectivas consequências sobre o Charlie Hebdo. E
aí vem o "choradinho" dos valores ocidentais e do choque
civilizacional em que os muçulmanos são o alvo. Mas gostaria de ter visto
sempre, mas sempre, o mesmo empenho quando na Alemanha (RFA) o Baaden Meinnhof
liquidava civis e militares, quando as Brigate Rosse na Itália liquidaram Aldo
Moro ex-PM, quando o Herri Batasuna (País Basco) liquidava empresários que não
pagavam o chamado imposto revolucionário, e o Sinn Fein (Irlanda do Norte)
fazia "coisas" bem pouco católicas, sendo eu católico. E a questão
que se coloca é esta: esta gente que actuava indiscriminadamente era muçulmana?
E os valores ocidentais, aqui, onde estão?
3 - E
por falar nestas "brutalidades" do chamado EI e da Al-Qaeda, quem foi
que as animou? Começando pelos EUA (sou um ATLANTISTA) que ataca o Iraque para
derrubar Saddam Hussein, dissolve o Exército Iraquiano e não prevê o DAY AFTER.
O Presidente Obama (que admiro) vai à Universidade do Cairo e o seu discurso é
quase um incentivo ao derrube do Patriarca Mubarak, que já com idade, pouco
pode fazer para animar os seus. Discursa-se... e o "day after"?
Depois a Líbia. O ditador Khadafy é derrubado com a ajuda de uma coligação
ocidental, imitando Bush no Iraque e como não quis ver as consequências
iraquianas, temos hoje a Líbia envolta numa tragédia, mesmo à porta da Europa
Mediterrânica. E aqui não posso esquecer a senhora Clinton com "we came,
we saw, he died" que, mesmo para quem, como eu, não gostava do teatro de
Khadafy com a sua tenda por toda a Europa (e que a elite política europeia
aceitava bem), acha declaração lamentável. E por último a tentativa de derrube
do Presidente Bachir el Assad, filho do "leão de Damasco" Hafez el
Assad, por grupos e mais grupos que eram já o ninho das víboras que nos atacam
agora. Então, repito, ninguém viu ou preparou o "day after". E lembro
o general Lamari, quando na Argélia a FIS e o GIA quiseram derrubar o poder
argelino perante a complacência ocidental na década de 90, vendo o que se
preparava disse e passo a citar " se para salvar a Argélia tiver que matar
cem mil argelinos, não hesito". Declaração muito forte (que não aceito)
mas com a mesma deixou o aviso: se o Ocidente não vê, vejo eu. E aquietou o que
se preparava.
4 -
Mas não é aqui que quero chegar. Quero chegar ao momento dos abraços (e não
só). No Afeganistão (espero estar equivocado) já não vem longe o dia em que os
Talibãs serão chamados a regressar ao governo (e vêm logo uns tantos que dizem
que são Talibãs moderados). Na Síria também não tarda que se descubram também
os moderados para conversar e que vão substituir o Presidente Assad. E depois
ninguém se entende. E a tal pergunta: quem financia quem? Porque isto exige
muitos meios e muito financiamento, que só pode vir de quem o tem. Pois é só
olhar para alguns países dos petrodólares e temos a resposta. Mas no Ocidente
(as elites) fingem que não vêem e "assobiam" para o lado.
5 -
Pois. Muitos de nós agora já mais velhos (por fora e não esquecidos), ainda nos
lembramos dos três Majores liquidados à queima-roupa na Guiné em 70, com um
Alferes e dois intérpretes no Chão Manjaco, nos Comandos Africanos da Guiné
liquidados sumariamente depois da independência. Todos sabemos quem mandou
fazer isto e mesmo assim andámos aos abraços com o tal que mandou fazer estas
"coisas" e que o disse abertamente. E quando "esse" foi
derrubado por Nino Vieira cá o acolhemos com todas as mordomias. Claro: razões
que a razão desconhece.
6 - E
quase não tenho dúvidas que alguns (se não quase todos) que hoje disparatam em
França são filhos e netos dos chamados HARKIS, que se bateram pela França na
Argélia, os que conseguiram fugir, porque a maior parte, abandonados, sofreram
o mesmo destino que os nossos Comandos na Guiné. E parafraseando ilustre
Académico que conheço (e que nem sempre, com ele concordo), tudo isto "dói
de raiva". E como diz Teresa de Sousa (Público) todos eles são terroristas
"homegrown". E por ironia da história.
7 -
Por último, e o Henrique Salles da Fonseca que me desculpe texto tão longo, peço
que todos, mas todos, não culpem de forma geral os muçulmanos (e não só), por
aquilo que alguns idiotas úteis fazem, lembrando que pelo menos 2 milhões de
indianos e 500 mil africanos se bateram pela liberdade ocidental na II Guerra
Mundial e não esquecendo a bravura dos 10 mil homens que entraram em Rangun
para libertar a capital da Birmânia do jugo japonês e que três quartos deles
ali estavam na Brigada de Infantaria dos Exércitos de Sua Majestade do UK. E
esses três quartos eram oriundos das antigas colónias. Hei-de, um dia, com a
compreensão do Henrique voltar a tudo isto. Mas por hoje chega.
Abraço,
José Augusto Fonseca
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