Mais
três artigos de Alberto Gonçalves (D.N. /4/1/15) que nos fazem
atenuar um pouco o vazio que a ausência de Vasco Pulido Valente, do “Público”,
nos tem imposto. Espero que não seja por doença, já que ele abusa do tabaco,
explicou a minha irmã, que igualmente sente a magia dos seus escritos e receia
as consequências do tabaco apontadas em grandes parangonas nos respectivos
maços. Alberto Gonçalves diz-se sociólogo, é jovem, e escreve com a arrogância
faceta da sua juventude corajosa e esforçada, fazendo nos seus escritos duros e
certeiros prevalecer os seus dons de análise psicológica e sociológica. Vasco
Pulido Valente, historiador, é menos jovem, e também escreve com a displicência
e um saber que não poupa a estupidez “indígena”, apoiando os seus considerandos
de aprazível informação histórica e psicológica. Ambos inteligentes, ambos originais, na precisão de um pensamento
rigoroso e sério. A minha pena, no caso de Alberto Gonçalves, é que o DN me não
deixe transferir os seus textos sem sacrifício pessoal - da escrita, com um dedo apenas – para o meu
blog, e, enquanto espero pelos de Pulido Valente, fico erguendo uma prece pela
sua saúde. Mas antes de continuar, e “já que estamos nas covas do mar”,
ou seja, no capítulo das loas e dos entusiasmos admirativos, não vou eximir-me
a citar um email que recebi ontem, de uma colega de faculdade – a Maria da
Conceição Quadros de Morais Sarmento, de quem já falei, a respeito de uma
conferência sua sobre Miguel Torga, que transcrevi no meu blog um dia.
Os 2015 textos - correspondentes ao número do ano em curso - que nele estão já contidos, com que fui preenchendo os espaços das minhas emoções ou beatitudes a envelhecer, me levaram a considerar que, ainda que parasse agora, por razões óbvias dessa última fase da vida, esta síntese da minha colega seria um justo epílogo do meu blog. Todavia, contra este último agoiro só posso exclamar: “Lagarto! Lagarto! Credo!” Eis o email recebido
Os 2015 textos - correspondentes ao número do ano em curso - que nele estão já contidos, com que fui preenchendo os espaços das minhas emoções ou beatitudes a envelhecer, me levaram a considerar que, ainda que parasse agora, por razões óbvias dessa última fase da vida, esta síntese da minha colega seria um justo epílogo do meu blog. Todavia, contra este último agoiro só posso exclamar: “Lagarto! Lagarto! Credo!” Eis o email recebido
«PASSEI
A TARDE A LER O TEU BLOG. ESTÁS A MESMA BERTA. OBSERVAÇÃO PERSPICAZ.
INTELIGÊNCIA, ESPÍRITO CRÍTICO , HUMOR. TIVE MUITO INTERESSE EM LER. OBRIGADA
POR COMUNICARES ASSIM. ATÉ À PRÓXIMA. SAUDADES. M.C.»
Respondi-lhe
assim:
«Querida
Conceição, que surpresa agradável o teu comentário! Apetece-me usá-lo em autopromoção
recreativa, mas receio algum calhau lançado sobre mim, embrulhado em um
qualquer dístico do tipo "Gaba-te cesta rota", ouvido na minha infância
a respeito de um deslize desse calibre, nosso ou alheio. Um beijinho e
acrescento: Só tu, para o reconheceres tão desprendidamente, porque tens
idênticos parâmetros e exigências de verdade e sinceridade, reconhecidos desde
os nossos velhos tempos de Coimbra. Não
são elogios lançados post mortem. Obrigada. B.»
E voltando à superfície, lá dessas covas do mar, retomemos Alberto Gonçalves e os seus
textos desta semana:
De 4/1/15, o artigo “A ignorante orgânica” ,
sobre uma Raquel Varela que usa chavões de esquerda para aplicar nas suas
causas, que facilmente se prova não passarem disso – de chavões – que nada têm
a ver com uma real competência de visão política, num país de exibição de
virtude apoiada em lugares comuns intelectuais da moda. Também esta noite captei,
já a meio, um programa de mulheres “políticas”, no Canal 6, (dirigido por um
homem), entre as quais reconheci Manuela Moura Guedes e a filha de Adriano
Moreira, esta falando sobre o “discurso de início de ano de Cavaco Silva” em termos
impertinentes e de banalidade “orgânica”, que não desligam dos tais chavões –
neste caso, os da ligação de Cavaco ao governo ruinoso de Passos Coelho, para
além doutros chavões sobre o passado governativo de Cavaco, em que todos esses cospem,
depois de terem usufruído dos benefícios que nele colheram, por conta, é certo,
de dinheiros vindos de fora. Pareceu-me
uma menininha caprichosa e assanhada, contente de si e da “mala de cartão” dos seus
tesouros arrebatadores, de dualidade semântica - pró-povo explorado, contra governo
explorador e arruinador da Nação. O que fez Moura Guedes responder com
acrimónia, lembrando dados positivos sobre Cavaco. Mas o que disseram, em alta grita, também já
eu ouvira ou lera, pensando eu com os meus botões aquilo que muitos desses “críticos”
não apontam, só desejosos de ostracizar para inglês ver, mas intimamente
sabendo que Cavaco tem sido um elemento de coesão e força, com a sua sensatez,
que mantém o equilíbrio e nos evita o charco, que o seria, caso ele seguisse
esses pontos de vista de uma esquerda hipócrita e mais desejosa da anarquia,
para reinar ela própria no espaço do caos e da crueldade. Como já se viu. E continua
a ver-se, nesses prosélitos do nosso “jihadismo nacional”, próprios da “ignorante
orgânica” que propõe Alberto Gonçalves para as nossas fraquezas
estruturais de pensamento.
Mas já é tempo de me pôr a caminho,
copiando os artigos de Alberto Gonçalves, de que a Internet me dá apenas parte
do primeiro parágrafo:
«A ignorante orgânica»
por ALBERTO GONÇALVES (DN,
4/1/15):
«Uma
senhora chamada Raquel Varela, que se diz investigadora universitária,
celebrizou-se (digamos) quando, no Prós e Contras, discutiu com um garoto de 16
anos e perdeu a discussão. O garoto criara uma marca de roupa e a dona Raquel,
que toma a iniciativa privada por sinónimo de exploração, não aprecia os
"ricos" que oprimem o povo. Agora, em nova erupção da pequena dama, a
dona Raquel mostrou que também não aprecia o povo, no caso representado pela
família de Cristiano Ronaldo, gente capaz de entrar no Ano Novo a assistir à “Casa
dos Segredos”. No entender do Facebook da dona Raquel, isso constitui “uma
vergonha, uma piroseira (sic), uma monstruosidade”.
Se
a importância da dona Raquel é proporcional à sofisticação das suas “causas”, a
verdade é que perante as afirmações em
causa, as ditas “redes sociais” fervilharam de ódio, e respeitáveis colunistas
reduziram a criatura ao estereótipo da intelectual que fala em nome das massas
enquanto sente repulsa por elas. Trata-se de um exagero.
Sendo
dona Raquel um estereótipo, é apenas o da ignorante dissimulada que, por
insegurança e arrivismo, ataca, porque é fácil, os que vivem bem com as
próprias limitações. Uma espreitadela às intervenções da dona Raquel
disponíveis na internet confirma o que ali vai: estribilhos marxistas
(desacreditados por volta de 1880), ressentimento, a veneração da “cultura”,
característica dos muito pouco cultos, exibição da “legitimidade” académica e,
a julgar pelos escritos, o domínio da língua que a academia actual achará
tolerável. Não aparenta ter mais coisas na cabeça do que os parentes de Ronaldo
– excepto doses consideráveis do lixo que, em lugares subdesenvolvidos, passa
por conhecimento.
Em
larga medida, a abundância caseira de espécimes como a dona Raquel e os
milhares de simplórios pedantes afins é que são uma vergonha, uma “piroseira” e
uma monstruosidade. Ou uma explicação do nosso atraso. A “Casa dos Segredos” é
só consequência.»
E o seu texto continua, enérgico,
irónico, esclarecedor, o de 28 de
Dezembro - «A caminho de Belém» - sobre a forma de criar mais um notável,
neste caso António Guterres – o terceiro , de 2 de Janeiro - «O túmulo da
democracia» sobre a forma de impor mais comunismo no mundo. Leiamos:
«A caminho de Belém»
«Como
se inventa um “presidenciável”? Facílimo. Repare-se no que o “Público” fez com
António Guterres, a quem dedicou um editorial aparentemente alusivo à sua
década enquanto alto-comissário da ONU para os Refugiados. O texto, assinado
pela “direcção editorial”, parece retratar um daqueles vultos que marcam a
grande história, e não o engenheiro que, com alguma simpatia e bastante
inépcia, governou a custo um país pequenino durante sete anos.
Atente-se
na frase inicial: “Ouve-se António Guterres falar e sente-se o peso do mundo”.
Muitos reservariam tão solene sentença para um ensaio sobre Lincoln, no mínimo.
O Público esbanja-a no engenheiro que nos legou os estádios do Euro 2004. E
prossegue: «O peso que se sente está nas suas palavras»; “Guterres tornou-se
uma voz que incomoda, em particular na Europa”; “Ouve-se Guterres falar, e antecipa-se
a angústia”; “Quando Guterres fala, todos aplaudem; etc.
O
tema? Os desgraçados que fogem do horror do Terceiro Mundo, e que o eng.º Guterres
gostaria de ver acolhidos com decência no Primeiro. Descontada a redundância da
piedade (quem, excepto um tarado, se alegra com o infortúnio alheio?) sobram as
restrições da realidade, ou o “fracasso” conforme admite o próprio “Público”: “Passaram
dez anos e nada melhorou.”
Ou
seja, aí está alguém que repete banalidades gentis, é exaltado por motivos
insondáveis e, no fim de contas, não adianta nem atrasa, Num certo sentido
trata-se do presidente ideal. Ou, se calhar, do presidente do costume.»
Eu diria, contudo, que o Presidente Cavaco é bem mais
sóbrio na exposição da sua comiseração, mantendo uma verticalidade que o amor
da Pátria essencialmente comprova.
«O túmulo da
democracia»
«Anda
por aí uma teoria optimista. Reza assim: o Syriza, partido de extrema-esquerda
que lidera as sondagens na Grécia, vence as eleições, impõe a “ruptura”,
escangalha de vez o que ainda resta de economia local, afasta o país do mundo
civilizado, afunda os gregos na miséria e serve de exemplo a não seguir pelos
demais estados europeus ameaçados por forças similares, as quais se dissolverão
de seguida. É a teoria da vacina, em tempos defendida por Kissinger para o
Portugal do PREC: o sacrifício de uns poucos servirá de escapatória a muitos.
Um achado?
Acho
que não. Se a prolongada experiência soviética, que aniquilou largos milhões de
vidas, raramente funcionou como anticorpo dos marxismos disponíveis no
Ocidente, não é plausível que a insignificante tragédia grega o faça. Mesmo
descontando a URSS, a verdade é que o monumental fracasso cubano sempre
alimentou os sonhos de idiotas, que os mesmos idiotas vêem no desastre
bolivariano um modelo a seguir e que alguns dos idiotas não percebem, ou fingem
não perceber, o que era o Cambodja e o que é a Coreia do Norte – isto para
evocar evidências. A imunidade da idiotia às chacinas e à repressão não se
deixará impressionar por uma quantidade anormal de atenienses a dormir ao
relento.
Caso
o Syriza chegue ao poder, a desgraça subsequente não prejudicará as ambições do
Podemos e, a uma escala meramente simbólica, dos “movimentos” que, em Portugal,
aguardam o colo do Dr. Costa. Para estes, tragédia nenhuma demonstrará a
tradição do socialismo em arrasar, sem mesuras, tudo à sua volta. Por
definição, o socialismo nunca perde. Por maldade, o capitalismo/reaccionarismo/liberalismo/fascismo
é que conspira de modo a sabotar os amanhãs que cantam. Antes da Grécia perder
o pio, a culpa já estará encontrada.»
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