Enviou-me
o meu filho João um email sobre as mulheres afegãs dos anos 50 e sessenta ,
tempos da nossa ditadura, mulheres
idênticas às ocidentais, com cursos superiores, bonitas e bem vestidas, com
vestidos originais da moda afegã, mulheres que conviviam naturalmente com os
homens afegãos. Mulheres actualmente de burca, mulheres e raparigas que
deixaram de poder estudar, a guerra tudo devastou. E o mundo permite, o mundo
não ajuda. Pelo contrário, a intervenção do mundo, tanta vez por interesse
próprio, parece que provoca reacções de maior destruição, com os ódios
acirrando-se por conta de uma religião islâmica que parece impor, provindos de
um profeta, princípios de diferente interpretação, mas que se pretende fazer
alastrar pelo mundo democraticamente receptivo. Também já em tempos me enviaram
fotos de contrastes entre os tempos de outrora, numa universidade do Egipto, e
os tempos de agora, de raparigas afastadas dos companheiros, em pose rígida e
sem alegria, imposições de idênticas forças islâmicas. Lembro, desses anos sessenta ou anteriores, um
casal famoso, o Xá da Pérsia e uma bela mulher de olhos verdes, Soraya, que
teve de abdicar do marido e do trono por ser infértil, tendo-lhe sucedido Farah
Diba, que trouxe filhos ao Xá. Eram ambas belas, o caso da imperatriz Soraya,
longamente apontado na imprensa pela sua dor e beleza, o Xá com o seu ar de boa
pessoa triste, desenvolvia o seu Irão num clima de modernização e riqueza,
gerando, pelos vistos, oposições fortes no povo e seus orientadores de opinião.
A verdade é que o Xá foi deposto, substituído por um Ayatollah Khomeini, de cara feroz que impôs novas
regras. E mais guerras houve em que um estadista americano usou falsos
pretextos divulgados como verdadeiros para despachar o presidente iraquiano Saddam Hussein. Uma jovem
heroína paquistanesa recente quer que a difusão das luzes do conhecimento
escolar seja propícia a todas as crianças do mundo e com isso obteve um prémio
Nobel da Paz, depois de ter sido baleada por um representante da Al Qaeda.
Entretanto, um povo judaico, que tanto sofreu numa guerra anterior, pela
sordidez de um mentecapto facínora, vai singrando altivamente, com a
inteligência de todos invejada. Histórias de interesses e fanatismos, que
indignam as pessoas pacíficas que amam a vida e não entendem o requinte teatral
dos assassinos jihadistas, estoirando com a vida dos sírios e de gente do
ocidente em panorâmica de espectacular monstruosidade
que corre o mundo..
Por
cá, as nossas misérias de banqueiros falidos salvaguardando despudoradamente,
na voz impassível e monocórdica e
esperteza de rato, as fortunas e as reputações da própria família e as suas,
numa atitude devotamente moral, sem referir os lesados que tinham depositado as
suas fortunas no tal banco de reputação reconhecida. E muitos mais acusados de
falcatruas abundam, não parando de crescer voluptuosamente, sempre em presunção
de inocência.
E no
meio de tanta sujeira, um artigo de Vasco Pulido Valente, mostrando a
irrelevância do dia da Restauração, como dia sem dimensão na nossa história,
que nos libertou de uma governação estrangeira, durante a qual perdemos terras
e valores que necessariamente nos tornou mais empobrecidos. Não creio que Pulido Valente não acredite no
patriotismo do povo português. Haverá os que afirmam desdenhosamente que a sua
pátria é o mundo inteiro, aldeia global das suas passeatas ou das suas leituras
de intelectuais superiores. Os cidadãos
portugueses, na sua maioria, amam a sua terra, o seu país, a sua bandeira. Como
qualquer outro povo. Mas, por uma questão de política de boa vizinhança, talvez
seja melhor ignorar, em termos formais, esse dia. O povo, provocador por conta
de chefes, deslizará pelas avenidas, tocando marcialmente e clamando contra a extinção do feriado. Sempre
seria mais um, para o merecido descanso.
Leiamos
Vasco Pulido Valente (Público,7/12)
A
conspiração do “1 de Dezembro”, como sempre apropriadamente lhe chamaram, foi
um movimento de uma pequena parte da grande nobreza indígena para pôr no trono
o duque de Bragança, de resto um potentado da península que a Espanha temia por
razões dinásticas. A altura era favorável: o conde-duque de Olivares tinha
pedido a Portugal algum dinheiro e uns tantos soldados, na Catalunha as coisas
não corriam bem para Madrid e havia em Portugal um descontentamento difuso. Mas
ninguém se lembrou de ver naquilo o renascimento da Pátria; pelo menos, durante
mais de 15 anos. A “guerra da independência” consolidou os Braganças, sem ter
nunca criado uma verdadeira “identidade nacional”. A importância que hoje o PS
e o CDS resolveram dar ao episódio não se compreende.
Durante
a Monarquia Constitucional o feriado que sobre todos comemorava o regime era o
“24 de Julho” de 1833, dia em que as tropas do duque da Terceira atravessaram o
Tejo e tomaram Lisboa a D. Miguel. Na segunda metade do século, ninguém se
lembrava do “1 de Dezembro” e os críticos do regime de Ramalho Ortigão aos
republicanos desprezavam e ridicularizavam a “Sociedade 1º de Dezembro” (que
não sei se ainda existe), como centro de propaganda da corte e dos Braganças.
Só os criados se metiam nessa fantasia, que o grosso do país letrado não levava
a sério. Os republicanos, logicamente, não continuaram os festejos da dinastia
(agora no exílio) e os monárquicos para se poupar a maçadas também não. O
próprio Salazar, embora restaurasse o feriado, nunca fez um alarido à volta do
caso e deixou a “Sociedade” agonizar no Rossio com a maior indiferença.
A
República escolheu para seu feriado o “5 de Outubro”, que o terrorismo do
regime não permitia que fosse uma data nacional. E a Ditadura inventou o “10 de
Junho”, sem raízes, nem conotações políticas desagradáveis, para se tornar dona
e senhora do maior símbolo da “Raça e do Império”. O bom povo nunca
espontaneamente participou nesta aberração. O “25 de Abril” adoptou o “25 de
Abril” para celebrar a vitória do MFA, e não tocou na série de feriados já
estabelecidos; ou nos feriados da Igreja; ou sequer nos santinhos regionais,
que muitas vezes se juntam e continuam por semanas. Claro que a trapalhada
vigente precisava de uma reforma radical. Mas com certeza que não merece no meio
da miséria de Portugal uma única palavra.
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