Uma
análise muito XPTO, a de Francisco Rodrigues da Silva, saída no blog “A Bem da
Nação” e uso a sigla porque leio na internet que é de origem grega - o P
sendo na realidade o Ró (r) maiúsculo de CHRISTÓS em grego - e
com ela desejando que Cristo salve a Grécia, se os Homens da Europa entenderem
o contrário. Ou talvez a generosa América o possa fazer, ainda que com
contrapartidas, habituais nos povos da solidariedade. A Grécia não pode ser
chutada para fora do tablado europeu, Cristo! Seria um crime de lesa-pátria.
GRÉCIA-EUROPA:
O CHOQUE FRONTAL. COMO SAÍMOS DESTA?
O BCE deixou de aceitar títulos de dívida pública grega como
colateral para os bancos gregos se financiarem (ler o artigo do Expresso on-line). Trata-se de um
primeiro apertão forte às pretensões do Governo helénico, no fundo, uma
verdadeira moção de desconfiança.
Por outro lado, o encontro de hoje entre Varoufakis e o Ministro
das Finanças alemão Schäuble parece um autêntico filme de terror. Sob o
sugestivo título: “Showdown in Berlin leaves leading actors poles apart” o
“Financial Times” não mascara a situação, a título exemplificativo, passo a
reproduzir um excerto significativo (ver o relato completo aqui)
“Mr Varoufakis went
further, saying they did not “even agree to disagree”. He said: “We
did not reach agreement because it was never on the cards that we would. We
agreed to enter into deliberations as partners with the orientation of a joint
solution to European problems that’s going to put the interests of Europe at
the helm.” O que fica por dizer e
que se lê nas entrelinhas faz parte do “thriller” e não é relevante: é
relevantíssimo. Afirmar que o caldo está entornado é um mero eufemismo que não
traduz minimamente a realidade. Como tenho vindo a dizer, estamos em plena rota
de colisão à espera do grande embate. Não gosto de repetir a estafada fórmula
“eu bem vos disse", mas é exactamente isso o que vai suceder.
Preparamo-nos, pois, para a colisão frontal, o que se quadra
perfeitamente nas previsões. Recordo que Atenas necessita de 23 mil milhões de
Euros até Junho. A decisão do BCE, mais a inflexibilidade alemã, põe em causa
todo o programa de Tsipras e de Varoufakis e, mais do que isso, a permanência
da Grécia na Euro zona. Ambos os governantes prometeram o que, certamente, não
poderão cumprir, enveredaram pela via de contestação às políticas de
austeridade, impostas pelos credores – é certo –, mas estes (designadamente o
BCE e a Alemanha, mas Hollande também, ao sublinhar que as regras são para
se cumprir) querem a implementação das reformas estruturais que Atenas não
está em condições de garantir. A Grécia pretendia, efectivamente, ir mais
longe, mas entretanto desistiu da ideia (o famoso "haircut), ou seja a
anulação parcial da dívida, até porque em termos globais aquela, como se sabe,
revela-se, em rigor, impagável e insuportável. A solução poderia passar por uma
moratória (20 anos, 30 anos, mais...) ou pela engenharia financeira de
Varoufakis tal como exposta na entrevista de há dias ao FT: pagar a dívida ao
ritmo de crescimento da economia e as célebres "obrigações
perpétuas". Trata-se de um primeiro recuo do Ministro das Finanças grego,
uma vez que não há qualquer hipótese para um perdão de dívida, puro e simples.
Poder-se-á quando muito, numa segunda etapa, repito, sugerir-se uma eventual
dilação dos prazos e das taxas de juro.
Estará a Grécia disposta ao compromisso ou vai para o choque
frontal?
O que se tem verificado é que o discurso de Varoufakis tem-se
modulado ao sabor dos interlocutores, portanto trata-se de uma navegação à
bolina, sem rumo definido, apalpando-se terreno a cada curva do caminho. Bem
sei que a margem de manobra é estreitíssima. Mas quem é que promete o que não
pode cumprir, uma vez que o cumprimento não depende de quem foi eleito, mas de
outros? Pode-se argumentar – e o argumento tem peso – que a Grécia já sofreu
demais e que é preciso pôr termo definitivo à sangria desatada. Aqui
poder-se-ia jogar com a compaixão e com a via americana tão gratas, uma e
outra, a Obama: portanto, exprimindo pena pelos “poor devils”, pelos
“underdogs” e encetar uma politica expansionista (como nos anos 30 e pós-2008,
nos EUA, agora com o Quantitative Easing). Só que a Alemanha – e, sobretudo, o
contribuinte alemão – considera que, no caso grego, todos os limites foram
ultrapassados (Schäuble dixit) e que o caminho da austeridade é o que deve ser
trilhado e não outro (o fantasma de Weimar, a hiper inflação e o nazismo estão
bem gravados na memória colectiva germânica), contra ventos e marés.
Alem disso, caso se ceda às pretensões gregas, subsiste ainda o
problema dos "outros". Quaisquer cedências, quer da parte da
"Europa" (leia-se BCE, CE, Alemanha e "tutti quanti"), quer
da parte da Grécia, serão sempre vistas como provas de fraqueza. Se para Atenas
o falhanço representa a inadimplência clara do essencial do programa
governamental e, por conseguinte, o falhanço assumido. O risco maior para a
Europa "merkeliana," caso ceda a Atenas, implicará idênticas
reivindicações por parte de Portugal, Espanha, Itália e Chipre. É claro como água
e perfeitamente justificável. Espera-se que haja bom senso e, nesse quadro,
vontade de negociar e de chegar a compromissos sem perder a face, caso
contrário, o embate redundará na quebra do elo mais fraco – a Grécia. Esta,
com efeito, arrisca-se a perder e entrar, assim, em cessação de pagamentos.
É ocasião para formularmos a pergunta de um milhão de euros: a moeda comum,
a Euro zona e a própria União Europeia aguentarão?
Como saímos desta, sim, porque o problema está em cima da mesa e
vai sobrar para nós?
Francisco Henriques da Silva
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