Também os da Quadratura falaram do caso e Lobo
Xavier andou ali à roda, a tentar defender Passos Coelho, vivamente
atacado pelos seus parceiros (dele, Lobo Xavier). A defesa de Bagão Félix
de Passos Coelho, do texto infra - Errar é (tsu)mano? - aclara melhor a questão, mostrando que ele
próprio também votaria contra, como Passos Coelho - (só não lhe admirou o garbo
altaneiro, como eu, ainda hoje bem impressionada com o seu discurso enérgico de
recusa em apoiar a TSU, mandando Costa entender-se com os rebeldes da sua
coligação) - pois a TSU lhe parece uma falsa medida em auréola de
solidariedade, aumentando o salário aos mais pobrezinhos, e ajudando a pagar
esses aumentos subsidiando os patrões com as pinguinhas da TSU, coisa de que
discordaram inteligentemente os coligados virtuosos do governo, sempre adeptos
do reforço aos explorados, nunca aos do patronato, por definição explorador,
além de que o que eles pretendem é tirar sempre a estes, não a ajudá-los a
pagar, em medida onerosa sobre o resto do pessoal, com certeza, que somos nós,
os dependentes do Estado, embora já habituados a cobrir os bancos nas suas
falcatruas, por ordem dos governos, que só descobrem essas falcatruas sempre
muito tarde, como se tem visto num despautério, coisa impossível, nos tempos
idos, menos desordeiros que os de hoje, pois tinham quem os controlasse melhor.
Além disso, também Bagão Félix
acha que António Costa tem que aprender a ter melhores maneiras com os seus
opositores da direita, como tem nos países por onde se passeia e tem família,
sempre cortês e cortejado, não sei se para arranjar trabalho lá, para os
desempregados de cá, se para arranjar trabalho cá, ou umas férias mais em conta,
a esses familiares da sua consideração.
Agora já percebi melhor os termos de desacordo
a respeito da decisão de Passos Coelho de não auxiliar o seu inimigo, embora o Evangelho
segundo Mateus mostre que Cristo achava que sim, que se devia amar os
nossos inimigos, pois amar os amigos não era mérito que prestasse, além de
outras coisas que Cristo disse no seu Sermão da Montanha, e que transcrevo
de Frederico Lourenço, para relembrarmos, apesar de os “Mortáguas e
Companhia” já nos terem habituado a todas estas páginas espirituais, que os das
assembleias de S. Bento deviam seguir, até mesmo Passos Coelho, apesar
do seu timbre de superior qualidade:
«(5: 38-48): Ouvistes que foi dito: “olho por
olho e dente por dente” (Êxodo:
21:24; Levítico 24:20). Mas eu digo-vos que não vos oponhais a quem vos faz
mal. quem te bater na face direita, vira-lhe também a outra. E a quem
quiser pôr-te em tribunal para te tirar a tua capa, cede-lhe também a túnica. E
quem te forçar a andar uma milha, vai com ele duas. Dá a quem te pedir e não
vires as costas àquele que te quer pedir emprestado.
Ouvistes que foi dito: amarás o teu próximo (Levítico, 19:18) e odiarás o teu inimigo.
Mas eu digo-vos: amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem
(1), para vos tornardes filhos do Pai vosso, do que está nos céus, porque ele
faz nascer o sol para maus e bons e chover em cima dos justos e dos injustos.
Se amais aqueles que vos amam, que compensação tendes nisso? Os cobradores de
impostos não fazem o mesmo? E se cumprimentais apenas os vossos irmãos, que
fazeis de excepcional? Os pagãos não fazem o mesmo? Pois vós sereis realizados,
tal como realizado é o vosso pai celeste.»
Nota 1, de Frederico Lourenço: “Amai
os vossos inimigos”: a novidade é absoluta da mensagem de Jesus e o
preciso contrário do sistema de valores do mundo greco-latino (bem sintetizado
na tragédia “Antígona” de Sófocles: «um inimigo, mesmo
morto, nunca pode ser amigo.»
Errar
é (tsu)mano?
António
Bagão Félix
20 de Janeiro de 2017
Foi
publicado o DL n.º 11-A/2017 criando uma medida excepcional de apoio ao emprego
através da redução da taxa contributiva a cargo da entidade empregadora, que o
PCP e BE avocaram para votação parlamentar.
Já
aqui referi por que julgo errada a subsidiação da TSU para minorar o encargo do
aumento do salário mínimo nacional (SMN). Aliás, trata-se de um paradoxo: um
aumento socialmente conveniente e justo para o qual a economia tem de ser
subsidiada para o pagar. Alguma coisa está mal.
Se
fosse deputado — e pudesse votar sem restrições — opor-me-ia à medida.
Nem sequer se pode comparar com outros apoios de política activa de
emprego, como a redução temporária da TSU quando se contratam desempregados
de longa duração, deficientes, jovens à procura de primeiro emprego, etc. — a
ideia é diferenciar positivamente grupos de maior dificuldade no (re)ingresso
no mercado de trabalho. No caso ora em discussão não se trata de aumentar o
emprego (em tese, pode até retraí-lo para trabalho menos qualificado), mas
de ajudar as empresas a pagar o aumento do SMN.
No
plano político, a questão evoluiu para um jogo floral entre o PS e o PSD.
De um lado, o Governo que, sem o apoio dos BFF (best friends forever),
quase intima o PSD a escorar esta medida. De outro lado, o PSD a indicar que
votará contra o diploma, com a incoerência de reprovar agora o que decidiu, de
modo semelhante, há dois anos. Aliás, a “coerência das incoerências” é
recorrente entre PS e PSD, e, de tão banalizada que tem sido, já ninguém
ruboresce com argumentações e tecnicalidades de pirilampo. Lembram-se também do
que dizia António Costa sobre a baixa da TSU para outros fins?
Num
ponto, a posição de Passos Coelho até pode ser compreensível. Se o Governo e o
PS têm vergastado constantemente o PSD, culpando-o de tudo (numa completa
amnésia de quem chamou a troika), como podem agora requisitar o desprezado
oponente (e que mais deputados tem) perante uma iniciativa hostil dos outros
partidos da actual maioria? É que, quando se escolhe uma união ou matrimónio
parlamentar, é para os bons e maus momentos. O concubinato político de ocasião
é feio e pouco decente.
O
PSD apoiou o OE rectificativo por causa do Banif. Fez bem. Terá feito
igualmente bem, quando, há um ano, se absteve num diploma sobre a TSU,
semelhante ao de agora. Mas, passados 12 meses, o Governo e seus aliados
concentraram-se na reversão total da acção do Governo PSD-CDS, marginalizando
injustificadamente a agora oposição.
Se
o PS já sabia, de antemão, das posições do BE e PCP, porque não falou com o
PSD? Toda a gente fala de concertação social, mas, pelos
vistos, a necessidade de prévio diálogo e concertação política é
olimpicamente ignorada, quando era um dado adquirido que os dois partidos se
teriam de entender nesta matéria. Em linguagem futebolística, o Governo tratou
o PSD como uma espécie de suplente ali à mão, saído do banco.
Um
último ponto: a concertação social é iniludivelmente fundamental, como tem
reafirmado o Presidente da República. Mas, de há muitos anos a esta parte, tem
havido uma tendência excessiva para se substituir à decisão soberana dos
eleitos parlamentares, que apenas se limitam a apor o selo aprobatório. Por
isso, nem só concertação, nem só parlamentarismo, em função do interesse do
momento. Neste caso, o Governo foi imprudente, curiosamente depois de até
ter desvalorizado a própria concertação, ao proclamar que, com ou sem acordo, a
decisão do aumento do SMN iria ser tomada, ignorando a “factura” ora em causa.
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