História, 8º ano,(3)
Manual: «MISSÃO HISTÓRIA (Porto Editora)
Tema: Porque houve uma Reforma
Religiosa na Europa no século XVI?
I: A
crise na Igreja Católica
1 - Durante a Idade Média e até ao séc. XVI
a Igreja Católica detém muito poder na Europa.
2 - O avanço dos conhecimentos
científicos e o espírito crítico trazidos com o Humanismo
renascentista conduz aos movimentos de contestação à Igreja.
3 - Humanistas
como Savonarola (Itália), John Wycliff e Thomas More
(“A Utopia”) (Inglaterra), João
Huss e Erasmo de Roterdão (“O Elogio da Loucura”) (Europa Central) apelam ao retorno aos
princípios de simplicidade do cristianismo primitivo.
4- O
que eles condenam:
-
A interferência da Igreja e dos papas na vida política e
económica;
- A vida por vezes imoral, de
luxo e corrupção, do clero, bem diferente da doutrina que pregavam;
- A falta de vocação e de
formação religiosa de alguns membros do alto clero.
5-
Em 1513, as críticas à Igreja Católica aumentam com a publicação da Bula
das Indulgências publicada por Leão X a fim de obter
dinheiro para completar a Capela Sistina no Vaticano.
(Conceito: Indulgências:
perdão (assinado pelo papa) da penitência dos pecados, em troca de um
pagamento à Igreja.)
II- Martinho
Lutero e a Reforma Protestante
1- Em
1517, Martinho Lutero, monge alemão, afixa na porta da catedral da sua
cidade Wittemberg, uma lista com 95 Teses contra as Indulgências,
considerando caber a Deus e não ao Papa o perdão dos pecados.
2- Lutero
foi excomungado e só não foi condenado à fogueira - (ao contrário do
frade dominicano Savonarola, enforcado e queimado na praça
principal de Florença, em 1498, por ter pregado contra os
abusos e a imoralidade do clero, incluindo o Papa Alexandre VI, pai de
Lucrécia Bórgia) - por ter conseguido a protecção de príncipes alemães,
interessados em diminuir o poder papal. Lutero
criticou ainda a Igreja Católica, dando origem à Reforma Protestante.
(Conceito: Reforma protestante: Movimento
de Reforma da Igreja, iniciado no séc. XVI por Lutero, que levou
à divisão da Igreja Católica Romana, dando origem a novas igrejas cristãs: Luterana,
Calvinista e Anglicana.
III- O
que defendiam as Igrejas protestantes:
A Igreja Luterana
1
- Após ter sido expulso da Igreja Católica Romana (excomungado), Martinho
Lutero criou uma nova doutrina o luteranismo, cujos
princípios fundamentais valorizam a salvação pela fé e a leitura
da Bíblia. O luteranismo recusa a autoridade do Papa: cada
rei ou príncipe assume-se como chefe religioso do seu território.
2 - O luteranismo
surge na Alemanha mas expande-se pela Europa do Norte e Centro, apoiado por
príncipes e reis desejosos de se libertarem do poder do Papa - Lutero
escreve-se com intelectuais, beneficiando das vantagens da imprensa, e abre
caminho ao aparecimento de outras igrejas protestantes.
3 - Nos fins do séc. XVI, a Europa encontra-se
dividida em protestantismo (países
do Norte e Centro europeus), catolicismo (países do Sul).
A Igreja Calvinista:
1
- O Calvinismo foi fundado por João Calvino,
um humanista francês que, por ser protestante, teve de fugir do seu país. Foi
para Genebra, onde começou a pregar os princípios da nova doutrina.
2 - Os princípios são
semelhantes aos da Igreja Luterana -
salvação pela fé, o culto segundo a leitura da Bíblia, o sermão e a eucaristia,
mas defende a teoria da predestinação (segundo a qual o
destino de cada pessoa é definido por Deus, com a condenação de uns e a
salvação de outros).
A Igreja anglicana:
1 - O anglicanismo foi fundado em 1534,
em Inglaterra, pelo rei Henrique VIII. Este rompeu com a Santa Sé
por razões pessoais e económicas: o Papa recusou anular o seu casamento com a sua primeira
esposa; Henrique VIII, desrespeitando o Papa, voltou a casar. Fez aprovar no
Parlamento Inglês o Acto de Supremacia (1534) que o tornou
chefe da Igreja Inglesa, independente de Roma.
2- Características do anglicanismo: Salvação pela
fé; O culto segundo a supressão da missa mas mantendo a pompa das cerimónias; a
Bíblia como fonte de fé; o celibato do clero não obrigatório; sacramentos:
Baptismo e eucaristia; rejeição da autoridade do Papa(o chefe da Igreja era o
rei ou o soberano; uso das línguas nacionais no culto(e não do latim como os
católicos).
3- A implantação do anglicanismo originou
confrontos entre católicos e protestantes.
Notas:
1 - Porque se chamam
protestantes? Protestantismo é a designação pela qual
ficou vulgarmente conhecido o movimento de reforma da Igreja, iniciado por
Lutero. O Imperador Carlos V (rei de Espanha, que dominava os
territórios da actual Alemanha) e o Papa perseguiram os
seguidores de Lutero. Estes protestavam constantemente contra essas
perseguições, ficando, por isso, conhecidos como protestantes.
2 - A Divisão
religiosa no mundo no século XXI:
Muçulmanos: 20,5%;
Católicos: 18,2%; Hindus: 16,6%; Sem religião: 15,9%; Budistas:
6,2%; Protestantes: 5,9%; Outros cristãos: 5,3%; Religiões
étnicas: 3,9%; Ortodoxos: 3,7%; Novas religiões: 1,8%; Anglicanos:
1,4%; Sikhs: 0,4%; Judeus: 0,2%.
IV- A Reforma
Católica
1- Face ao avanço do protestantismo a Igreja
Católica inicia um movimento de renovação interna - a Reforma Católica -
e também de combate às ideias protestantes: a Contra Reforma.
2- Entre 1545 e 1563, o Papa reuniu um concílio
na cidade italiana de Trento para análise das críticas feitas à
Igreja Católica.
3- Os cardeais e os bispos reunidos em Trento optaram
por não fazer grandes mudanças: Reafirmados os dogmas da fé
católica; reforçado o culto aos santos e à Virgem Maria; mantidos
os sete sacramentos.
4- Tomadas medidas para reformar os
costumes do clero: criados seminários para a
formação dos membros do clero; proibição da acumulação de cargos
religiosos; obrigação de os bispos e os sacerdotes
residirem nas suas dioceses e paróquias; exigência de celibato;
construção de igrejas faustosas para atraírem os fiéis.
5- Criadas novas ordens religiosas: Companhia
de Jesus (Jesuítas), fundada em 1540. Estes dedicavam-se à pregação e
ao ensino; desenvolveram um importante papel na evangelização dos
povos ameríndios e asiáticos.
V- A Contra Reforma
1- Para travar o avanço do protestantismo a Igreja Católica cria o movimento da Contra
Reforma, reforçando os poderes da Inquisição e criando o Index.
2- A Inquisição ou Tribunal
do Santo Ofício já existia
desde o século XII, mas era pouco activa. Tratava-se de um tribunal
eclesiástico, cuja função era julgar os acusados de práticas de bruxaria,
judaísmo e protestantismo. Quando condenadas, as pessoas eram geralmente
mortas na fogueira, em cerimónias públicas, conhecidas como autos de fé.
3- Para o controlo da cultura havia o Índex, que
fazia o controlo ideológico, censurando e proibindo as obras
consideradas contrárias à religião.
Conceitos:
Inquisição: Instituição que vigiava o cumprimento
dos princípios da religião católica, perseguindo todos os que seguissem outras
religiões ou ideias consideradas heréticas, ou seja, contrárias ao catolicismo.
Índex: Listagem de livros e de outras publicações proibidas aos
católicos.
VI- A
acção da Inquisição em Portugal
1- Portugal e Espanha tinham uma situação
social e religiosa diferente dos países do Centro e do Norte da Europa: A
Inquisição pretendia lutar contra todas as heresias e manter a pureza da fé
católica.
2- Como o protestantismo teve fraca implantação
na Península Ibérica, os principais alvos da Inquisição aqui foram os judeus,
os muçulmanos e os cristãos-novos.
3- Os judeus foram expulsos de Espanha pelos Reis
Católicos em 1492. Em Portugal, D. Manuel I ordenou a sua expulsão em 1496.
4- Os judeus que não abandonaram o país foram
obrigados a baptizarem-se e a converterem-se ao cristianismo, com a designação
de cristãos-novos. Estes puderam ficar no país, mas eram isolados
nas judiarias (tal como os mouros desde a reconquista, isolados
nas mourarias), controlados e perseguidos pela Inquisição, que já
existia em Portugal desde a Idade Média, mas que foi reactivada por D. João
III em 1536, mantendo-se por mais três séculos. (Belmonte, uma terra afectada pela perseguição aos
Judeus. V. Museu judaico de Belmonte).
5- Os cristãos-novos
não eram bem aceites por uma parte da nobreza e da burguesia, que os
viam como rivais no comércio. A população considerava-os hereges, que
viviam do empréstimo do dinheiro a juro (agiotas, usurários).
6- Assim: razões de ordem religiosa,
ideológica, intelectual ou económica levaram à condenação de
cristãos-novos, em aparatosas cerimónias de autos-de-fé.
VII- O
controlo da cultura
1- A cultura em Portugal foi muito afectada
pela acção do Index e da censura inquisitorial: Muitos intelectuais
e artistas portugueses humanistas desenvolveram conhecimentos científicos
contrários às doutrinas da Igreja e tiveram de fugir para países protestantes,
de maior tolerância.
2- A Inquisição e o Index foram os instrumentos
de controlo de cultura e de repressão de novas ideias, levando a que Portugal
ficasse muito isolado, por mais três séculos, da cultura europeia.
3-
Um dos humanistas que marcou o Renascimento em Portugal foi o historiador
Damião de Góis, dos mais críticos da sua época, o que lhe
valeu a perseguição pela Inquisição.
(O
impacto cultural da expulsão dos judeus: «Desde 1496 a vida
intelectual e científica de Portugal desceu a um abismo de intolerância,
fanatismo e pureza de sangue. O declínio foi gradual. Os Portugueses
esforçaram-se ao máximo em fechar-se a influências estrangeiras e heréticas.
A educação formal era controlada pela Igreja, que mantinha um currículo
medieval centrado na gramática, retórica e argumentação escolástica.
Através desse isolamento auto imposto, os Portugueses perderam a
competência até mesmo nas áreas que anteriormente tinham dominado». (David
S. Landes, “A Riqueza e a Pobreza das Nações. Porque são algumas tão ricas e
outras tão pobres» - Gradiva, 2002).
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