quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Saber às Pinguinhas, 6



História, 8º ano,(3)
Manual: «MISSÃO HISTÓRIA (Porto Editora)

Tema: Porque houve uma Reforma Religiosa na Europa no século XVI?
I: A crise na Igreja Católica
1 - Durante a Idade Média e até ao séc. XVI a Igreja Católica detém muito poder na Europa.
2 - O avanço dos conhecimentos científicos e o espírito crítico trazidos com o Humanismo renascentista conduz aos movimentos de contestação  à Igreja.
3 - Humanistas como Savonarola (Itália), John Wycliff e Thomas More (“A Utopia”)  (Inglaterra), João Huss e Erasmo de Roterdão (“O Elogio da Loucura”)  (Europa Central) apelam ao retorno aos princípios de simplicidade do cristianismo primitivo.
4- O que eles condenam:
            -  A interferência  da Igreja e dos papas na vida política e económica;
                - A vida por vezes imoral, de luxo e corrupção, do clero, bem diferente da doutrina que pregavam;
                - A falta de vocação e de formação religiosa de alguns membros do alto clero.
5- Em 1513, as críticas à Igreja Católica aumentam com a publicação da Bula das Indulgências publicada por Leão X a fim de obter dinheiro para completar a Capela Sistina no Vaticano.
(Conceito: Indulgências: perdão (assinado pelo papa) da penitência dos pecados, em troca de um pagamento à Igreja.)
II- Martinho Lutero e a Reforma Protestante
            1- Em 1517, Martinho Lutero, monge alemão, afixa na porta da catedral da sua cidade Wittemberg, uma lista com 95 Teses contra as Indulgências, considerando caber a Deus e não ao Papa o perdão dos pecados.
            2- Lutero foi excomungado e só não foi condenado à fogueira - (ao contrário do frade dominicano Savonarola, enforcado e queimado na praça principal de Florença, em 1498, por ter pregado contra os abusos e a imoralidade do clero, incluindo o Papa Alexandre VI, pai de Lucrécia Bórgia) - por ter conseguido a protecção de príncipes alemães, interessados em diminuir o poder papal. Lutero criticou ainda a Igreja Católica, dando origem à Reforma Protestante.
(Conceito: Reforma protestante: Movimento de Reforma da Igreja, iniciado no séc. XVI por Lutero, que levou à divisão da Igreja Católica Romana, dando origem a novas igrejas cristãs: Luterana, Calvinista e Anglicana.
III- O que defendiam as Igrejas protestantes:
A Igreja Luterana
            1 - Após ter sido expulso da Igreja Católica Romana (excomungado), Martinho Lutero criou uma nova doutrina o luteranismo, cujos princípios fundamentais valorizam a salvação pela fé e a leitura da Bíblia. O luteranismo recusa a autoridade do Papa: cada rei ou príncipe assume-se como chefe religioso do seu território.
                2 - O luteranismo surge na Alemanha mas expande-se pela Europa do Norte e Centro, apoiado por príncipes e reis desejosos de se libertarem do poder do Papa - Lutero escreve-se com intelectuais, beneficiando das vantagens da imprensa, e abre caminho ao aparecimento de outras igrejas protestantes.
3 - Nos fins do séc. XVI, a Europa encontra-se dividida em protestantismo  (países do Norte e Centro europeus), catolicismo (países do Sul).

A Igreja Calvinista:
1 - O Calvinismo foi fundado por João Calvino, um humanista francês que, por ser protestante, teve de fugir do seu país. Foi para Genebra, onde começou a pregar os princípios da nova doutrina.
                2 - Os princípios são semelhantes aos da Igreja Luterana  - salvação pela fé, o culto segundo a leitura da Bíblia, o sermão e a eucaristia, mas defende a teoria da predestinação (segundo a qual o destino de cada pessoa é definido por Deus, com a condenação de uns e a salvação de outros).
A Igreja anglicana:
1 - O anglicanismo foi fundado em 1534, em Inglaterra, pelo rei Henrique VIII. Este rompeu com a Santa Sé por razões pessoais e económicas: o Papa recusou  anular o seu casamento com a sua primeira esposa; Henrique VIII, desrespeitando o Papa, voltou a casar. Fez aprovar no Parlamento Inglês o Acto de Supremacia (1534) que o tornou chefe da Igreja Inglesa, independente de Roma.
2- Características do anglicanismo: Salvação pela fé; O culto segundo a supressão da missa mas mantendo a pompa das cerimónias; a Bíblia como fonte de fé; o celibato do clero não obrigatório; sacramentos: Baptismo e eucaristia; rejeição da autoridade do Papa(o chefe da Igreja era o rei ou o soberano; uso das línguas nacionais no culto(e não do latim como os católicos).
3- A implantação do anglicanismo originou confrontos entre católicos e protestantes.
Notas:
1 - Porque se chamam protestantes? Protestantismo é a designação pela qual ficou vulgarmente conhecido o movimento de reforma da Igreja, iniciado por Lutero. O Imperador Carlos V (rei de Espanha, que dominava os territórios da actual Alemanha) e o Papa perseguiram os seguidores de Lutero. Estes protestavam constantemente contra essas perseguições, ficando, por isso, conhecidos como protestantes.
2 - A Divisão religiosa no mundo no século XXI:
 Muçulmanos: 20,5%; Católicos: 18,2%; Hindus: 16,6%; Sem religião: 15,9%; Budistas: 6,2%; Protestantes: 5,9%; Outros cristãos: 5,3%; Religiões étnicas: 3,9%; Ortodoxos: 3,7%; Novas religiões: 1,8%; Anglicanos: 1,4%; Sikhs: 0,4%; Judeus: 0,2%.

IV- A Reforma Católica
1- Face ao avanço do protestantismo a Igreja Católica inicia um movimento de renovação interna - a Reforma Católica - e também de combate às ideias protestantes: a Contra Reforma.
2- Entre 1545 e 1563, o Papa reuniu um concílio na cidade italiana de Trento para análise das críticas feitas à Igreja Católica.
3- Os cardeais e os bispos reunidos em Trento optaram por não fazer grandes mudanças: Reafirmados os dogmas da fé católica; reforçado o culto aos santos e à Virgem Maria; mantidos os sete sacramentos.
4- Tomadas medidas para reformar os costumes do clero: criados seminários para a formação dos membros do clero; proibição da acumulação de cargos religiosos; obrigação de os bispos e os sacerdotes residirem nas suas dioceses e paróquias; exigência de celibato; construção de igrejas faustosas para atraírem os fiéis.
5- Criadas novas ordens religiosas: Companhia de Jesus (Jesuítas), fundada em 1540. Estes dedicavam-se à pregação e ao ensino; desenvolveram um importante papel na evangelização dos povos ameríndios e asiáticos.

V- A Contra Reforma
1- Para travar o avanço do protestantismo  a Igreja Católica cria o movimento da Contra Reforma, reforçando os poderes da Inquisição e criando o Index.
2- A Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício  já existia desde o século XII, mas era pouco activa. Tratava-se de um tribunal eclesiástico, cuja função era julgar os acusados de práticas de bruxaria, judaísmo e protestantismo. Quando condenadas, as pessoas eram geralmente mortas na fogueira, em cerimónias públicas, conhecidas como autos de fé.
3- Para o controlo da cultura havia o Índex, que fazia o controlo ideológico, censurando e proibindo as obras consideradas contrárias à religião.
Conceitos:
Inquisição: Instituição que vigiava o cumprimento dos princípios da religião católica, perseguindo todos os que seguissem outras religiões ou ideias consideradas heréticas, ou seja, contrárias ao catolicismo. Índex: Listagem de livros e de outras publicações proibidas aos católicos.

VI- A acção da Inquisição em Portugal
1- Portugal e Espanha tinham uma situação social e religiosa diferente dos países do Centro e do Norte da Europa: A Inquisição pretendia lutar contra todas as heresias e manter a pureza da fé católica.
2- Como o protestantismo teve fraca implantação na Península Ibérica, os principais alvos da Inquisição aqui foram os judeus, os muçulmanos e os cristãos-novos.
3- Os judeus foram expulsos de Espanha pelos Reis Católicos em 1492. Em Portugal, D. Manuel I ordenou a sua expulsão em 1496.
4- Os judeus que não abandonaram o país foram obrigados a baptizarem-se e a converterem-se ao cristianismo, com a designação de cristãos-novos. Estes puderam ficar no país, mas eram isolados nas judiarias (tal como os mouros desde a reconquista, isolados nas mourarias), controlados e perseguidos pela Inquisição, que já existia em Portugal desde a Idade Média, mas que foi reactivada por D. João III em 1536, mantendo-se por mais três séculos. (Belmonte, uma terra afectada pela perseguição aos Judeus. V. Museu judaico de Belmonte).
5-  Os cristãos-novos não eram bem aceites por uma parte da nobreza e da burguesia, que os viam como rivais no comércio. A população considerava-os hereges, que viviam do empréstimo do dinheiro a juro (agiotas, usurários).
6- Assim: razões de ordem religiosa, ideológica, intelectual ou económica levaram à condenação de cristãos-novos, em aparatosas cerimónias de autos-de-fé.
VII- O controlo da cultura
            1- A cultura em Portugal foi muito afectada pela acção do Index e da censura inquisitorial: Muitos intelectuais e artistas portugueses humanistas desenvolveram conhecimentos científicos contrários às doutrinas da Igreja e tiveram de fugir para países protestantes, de maior tolerância.
                2- A Inquisição e o Index foram os instrumentos de controlo de cultura e de repressão de novas ideias, levando a que Portugal ficasse muito isolado, por mais três séculos, da cultura europeia.
            3- Um dos humanistas que marcou o Renascimento em Portugal foi o historiador Damião de Góis, dos mais críticos da sua época, o que lhe valeu a perseguição pela Inquisição.

                (O impacto cultural da expulsão dos judeus: «Desde 1496 a vida intelectual e científica de Portugal desceu a um abismo de intolerância, fanatismo e pureza de sangue. O declínio foi gradual. Os Portugueses esforçaram-se ao máximo em fechar-se a influências estrangeiras e heréticas. A educação formal era controlada pela Igreja, que mantinha um currículo medieval centrado na gramática, retórica e argumentação escolástica. Através desse isolamento auto imposto, os Portugueses perderam a competência até mesmo nas áreas que anteriormente tinham dominado». (David S. Landes, “A Riqueza e a Pobreza das Nações. Porque são algumas tão ricas e outras tão pobres» - Gradiva, 2002).

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