Como o
Público volta a estar reticente em
termos de permissão de leitura e transferência dos seus textos, pus-me a pesquisar
na Internet outros campos de notícias ou de crónicas e dei com esta de João
Lemos Esteves - «José Pacheco Pereira: o maoísta que virou
ideólogo de Rui Rio» - que, entre outros dados bastante negativos sobre o carácter e
o comportamento de ambiguidade ou de pulhice de José Pacheco Pereira, relativamente
ao PSD, que adoptou como partido mas não estima, e a Passos Coelho que
mostrou odiar, contribuindo para o actual estado de sítio da nação, como outros
comentadores também referem, de “caranguejola” governativa atamancando e
iludindo, sem consistência nem seriedade. João Lemos Esteves não deixa
de ressalvar, é certo, a competência intelectual de JPP, no seu deslizar
argumentativo de erudição mas maldade e pesporrência q.b. que, com o apoio que
oferece a uma possível aliança entre Rui Rio e António Costa,
eliminaria um grande partido de centro-direita, como tem sido o PSD, de
consequências fúnebres para o país, que ficaria vinculado a uma esquerda
ambiciosa de mando, para maior destruição desse país, o qual definitivamente arrasa,
em convulsão constante de greves e reclamações sem tento.
Entre
as coisas curiosas que afirma, com paixão mas honestidade, parece-me, João
Lemes Esteves refere um livro por aquele publicado - “O Paradoxo do Ornitorrinco -
Textos sobre o PSD” cuja síntese procurei, também na Internet, para
entender o trocadilho, por inversão, de JLE, de devolução do apodo de JPP
ao PSD: “O Ornitorrinco do Paradoxo” - o ornitorrinco, com as suas características biológicas
de mamífero e ave, espécime de embuste, sendo epíteto, segundo JPP, atribuível
ao PSD, segundo JLE ao próprio José Pacheco Pereira.
E isto me fez lembrar também o
final de um texto meu sobre o romance de Guilherme de Melo - «À
sombra dos dias”, incluído no livro “Anuário – Memórias Soltas”
(1999): «Nem carne, nem peixe, antes pelo contrário. O livro de um pobre
herói dos nossos tempos, que só neles abundam».
I TEXTO:
José Pacheco Pereira: o maoista que virou ideólogo de Rui Rio
José Pacheco Pereira assinou, no último fim de semana, muito
provavelmente o artigo mais ridículo (e desonesto) da imprensa portuguesa - o
que, face à desonestidade pró-António Costa flagrante a que temos assistido nos
últimos anos, é um registo digno de nota
1. José Pacheco Pereira assinou, no último fim de semana,
muito provavelmente o artigo mais ridículo (e desonesto) da imprensa portuguesa
- o que, face à desonestidade pró-António Costa flagrante a que temos assistido
nos últimos anos, é um registo digno de nota. E até aplauso. O nosso
intelectual da Marmeleira (bela localidade, por acaso! Vale a pena visitar, tal
como todo o município de Rio Maior) resolveu criar uma narrativa
político-fantástica juntando a alt-right americana com o PSD atual, mais os
comentadores que têm a desfaçatez de não criticar violentamente Pedro Passos
Coelho.
2. Na opinião de Pacheco, pertencemos todos - aqueles
que não se rendem à geringonça e encaram Rui Rio na sua justa dimensão, ou
seja, a de um candidato sem chama nem perfil para liderar os sociais-democratas
- ao movimento global de extrema-direita, que tem como objetivo político
derradeiro a construção de uma sociedade desigualitária, onde os mais poderosos
exploram os mais fracos. Portanto, a alt-right e o PSD não-rioista
pretendem instituir uma espécie de darwinismo social, uma sociedade fundada na
lei do mais forte. A agenda política desta ala (oculta, mas que o iluminado
Pacheco Pereira - essa sumidade intelectual portuguesa por excelência - já vislumbrou
claramente) consistia, assim, na construção de uma sociedade conservadora,
ultraliberal, através de uma engenharia social de sentido invertido.
3. Mas atenção: enquanto os membros da alt-right dos
EUA são patriotas e ambicionam tornar a América grande outra vez, aqui os
“direitolas” do burgo querem apenas servir os seus próprios interesses. E
não enjeitam trair a pátria em prol dos interesses da burocracia europeia e da malvada
(tem dias!) Angela Merkel - são federalistas encapotados, sempre recetivos
a trocar ideias e convicções pelas comodidades do grande capital. Venha ele de
onde vier. Contudo, “homens bons” do reino social-democrata e portugueses
bem-pensantes, não se preocupem: temos entre nós José Pacheco Pereira, o
salvador da pátria. O homem que vai levar o PSD para a esquerda, diretamente
para o colinho de António Costa.
4. Acaso Pacheco Pereira não fosse o ideólogo do
provável próximo presidente do PSD, o seu artigo (tal como todas as suas
declarações, sem exceção) não mereceria um nanossegundo da nossa atenção. O
desprezo intelectual e político por Pacheco Pereira é um fator de união
nacional: da extrema-esquerda à extrema-direita, ninguém tem paciência para o
ouvir, muito menos para o levar a sério. Concentrando-nos no artigo referido
supra, Pacheco Pereira compara o incomparável: o movimento alt-right nasce num
cadinho social muito específico, numa conjuntura histórico muito particular,
enquadrando-se, no entanto, na tradição política norte-americana.
5. Curiosamente, o movimento da alt-right visa
conjugar uma ideologia política de linhagem europeia com os valores que
estruturam o designado sonho americano. Da tradição política europeia, a
“direita alternativa” reclama uma organização social baseada em valores
religiosos, o ceticismo face à “contracultura” difusora de mensagens liberais,
como a libertação sexual, o aborto e outras matérias fraturantes (culpando
Hollywood pela corrupção moral da América); uma maior intervenção do Estado na
promoção da justiça social (designadamente quanto a políticas de segurança
social); a condenação do lucro pelo lucro, a denúncia do capitalismo selvagem,
inspiradas, aliás, pela doutrina social da Igreja Católica. Ora, tais conceções
políticas poderiam ser facilmente subscritas por partidos democratas cristãos
europeus ou mesmo partidos sociais-democratas ou socialistas. Não por acaso,
Steve Bannon (até há pouco tempo o estratega político principal do presidente
Donald Trump) é um profundo conhecedor dos autores políticos conservadores
europeus - para além de uma figura deveras querida entre a elite democrata
cristã europeia e mesmo no Vaticano.
6. Por outro lado, a alt-right não renega a história e o
excecionalismo dos Estados Unidos da América, exaltando a Constituição que rege
a nação desde 1787, defendendo o processo político democrático salvaguardado
pela própria lei fundamental - todavia, aliando a “santidade” da livre
iniciativa privada à reivindicação de uma intervenção mais assertiva do Estado
para proteção das indústrias e dos trabalhadores norte-americanos.
7. Daí que este movimento que pretende reformar a
direita norte-americana (realinhando o Partido Republicano) se aproxime em
larga medida do movimento, ideologicamente de sentido oposto, protagonizado por
Bernie Sanders. O que distingue verdadeiramente os movimentos (ditos)
populistas de esquerda e de direita não é a intervenção do Estado - é a
intensidade de tal intervenção. Para a “alt-right”, o Estado deve intervir quer
em questões sociais, quer em questões económicas; diferentemente, para a
“alt-left”, o Estado deve ser liberal em matéria social, reservando a sua
intervenção omnipresente para a esfera económica (incluindo aqui a promoção dos
direitos sociais).
8. Ora, como facilmente se infere, nada disto tem
projeção no programa político que Passos Coelho gizou e implementou enquanto
primeiro-ministro e, depois, como líder da oposição. Se podemos falar de uma
ideologia “passista”, esta consiste na apologia de quatro premissas essenciais:
1) defesa da sociedade civil perante o Estado; 2) reduzir o Estado para
libertar recursos para a economia “real” e promover as condições de liberdade
dos cidadãos; 3) garantir a sustentabilidade financeira do Estado, porque uma
dívida pública controlada e uma situação financeira estável são os primeiros
passos para o Estado poder combater as desigualdades com realismo e eficiência;
4) o modelo de organização administrativa e económica de Portugal é inviável a
médio-longo prazo: logo, há que proceder à sua racionalização já a partir de
hoje, na certeza de que adiar o futuro é destruí-lo. O nosso futuro
coletivo.
9. O que tem Passos em comum com a alt--right?
Rigorosamente… nada. Quando muito, seria Pacheco Pereira um lídimo
representante de uma simbiose entre o movimento de extrema-direita com
movimentos de extrema-esquerda - Pacheco é que é contra a globalização, contra
a diminuição do peso do Estado na economia e na sociedade, contra a renovação
da classe política.
O objetivo de Pacheco
Pereira é, destarte, cristalino: criar a perceção entre os portugueses de que o
PSD, com Pedro Passos Coelho, é de ultradireita. Isto para debilitar todos
aqueles que se opõem à fação onde se insere Pacheco Pereira.
10. Pacheco foi sempre assim - e sempre assim será. É um
artista que vive da crítica permanente ao PSD nos meios de comunicação social
que, ao mesmo tempo, o temem e o mimam - afinal de contas, ver um membro do
PSD, de coração maoista e carteira capitalista, atacar o próprio PSD com fúria
é o sonho de qualquer esquerdista. Não admira, assim, que Pacheco Pereira seja
uma espécie muito fofinha para a esquerda portuguesa.
11. E o maoismo
nunca saiu de Pacheco: os seus métodos e o seu discurso revelam, ainda, os
tiques do seu primeiro amor político. De facto, Pacheco Pereira cria sempre um
inimigo externo que possa unir um outro bloco e que sirva como causa
responsável por todos os males do país e do mundo - e que lhe permita travar um
combate que alimente a sua carreira política feita na comunicação social (que
ele critica). Por outro lado, Pacheco aposta na construção de uma narrativa
política, uma ficção que se substitua aos factos, sempre consentânea com as
suas próprias conveniências políticas. Ora, a extrema-esquerda sempre viveu das
suas “verdades” construídas, da sonegação da “verdade” evidenciada.
12. Por hoje, por razões de economia de espaço (do
jornal) e de tempo (da leitora e do leitor), ficamos por aqui; na certeza,
porém, de que muito (ui, tanto!) haveria a dizer acerca das contradições e
hipocrisia de José Pacheco Pereira. Em 2007, o ideólogo de Rui Rio publicou um
livro chamado “O Paradoxo do Ornitorrinco” para afirmar, no fundo, que é o
mensageiro espiritual de Sá Carneiro - mas que tem vergonha do PSD. Pois
bem, resta-nos concluir que Pacheco é hoje, no PSD, o “ornitorrinco do
paradoxo”.
joaolemosesteves@gmail.com
Escreve à terça-feira
II TEXTO:
O Paradoxo do Ornitorrinco -
Textos sobre o PSD
Parte superior do formulário
«A minha contribuição: «Muitas vezes há que
optar entre o esforço de pensar solitário e a boa e confortável companhia do
grupo, entre a aridez e a antipatia da crítica e a pertença a uma qualquer
"camisola". Para mim o PSD nunca foi "camisola", mas
também nunca foi emprego. Cheguei lá mais tarde do que muitos, embora mais
cedo que muitos outros, e isso torna a relação mais racional do que afectiva, o
que é um ónus particular, mas as coisas são como são.
Dito isto, o PSD é para mim
mais do que as suas circunstâncias políticas do momento, mais do que as suas
lideranças, é um movimento social e político fundamental para a democracia
portuguesa, do qual depende muita da sua qualidade. Na sua génese, no seu
pensamento fundador com Sá Carneiro, e no seu "programa não escrito",
a sua história, o PSD atravessa tudo o que de mais importante nos aconteceu nos
últimos trinta anos, sendo que, nalguns casos, de autoria única. Por isso é que
a crise que hoje se vive ameaça esse património de intervenção cívica. Na
verdade, escrevendo sobre o PSD, falo sobre os problemas do esgotamento
acentuado do nosso sistema político, quase todos eles partilháveis com o PS.
Esta é a minha contribuição
para o Congresso do PSD, uma contribuição que não cabe nem na retórica dum
discurso, nem em qualquer candidatura que seria sempre quixotesca e desviaria
as atenções para o que me interessa mais: o que aqui escrevo, sempre o mesmo há
vinte anos. Pouco me importa se essa contribuição é desejada ou um incómodo
no clima de intolerância e anti-intelectualismo que se vive hoje. É o que
entendo ser a minha obrigação. Face ao meu país e ao PSD, seguindo a ordem de
prioridades que Sá Carneiro sempre defendeu e que eu tomo... a sério.» José Pacheco Pereira
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