A minha amiga tem o faro dos escândalos. Eu bem me esfalfo a ler e a traduzir “O Elogio da Loucura”, conscienciosamente, nestes tempos de caos nas almas e dizem alguns que mesmo nos corpos, e sobretudo nas bolsas, que parece que está tudo grosso, e a fazer pouco, segundo rábula imorredoira do par Agostinha/Agostinho. Eu diria que tudo louco, influenciada pela minha leitura, e bem me esfalfo, repito, a traduzir a tal “Loucura”, não do latim do Erasmo, que não sou louca, mas do francês de Pierre Nolhac que foi quem teve esse cuidado tão magnífico de verter Erasmo para a sua língua francesa, pois que Erasmo lia e escrevia as línguas clássicas como bom humanista das épocas áureas da Renascença, como também nós tivemos alguns, o que complicou o entendimento da sua obra, agora que a pretensão humanista se evaporou, embora não nas referências dos nossos governantes que todos eles se consideram humanistas, nem se percebe bem porquê, pois de Humanidades pouco devem saber, que saíram do ensino, as tais “Humanidades” cujo conhecimento é indispensável para tornar o homem mais sabedor de si e dos outros, conquanto eles queiram mais saber de si do que dos outros e nem por isso – sobretudo por isso – deixam de ser humanistas que se fartam.
Mas, repito, a minha amiga trouxe mais um caso, ligado à nossa Justiça que de humanista mantém ainda o lema “dura lex sed lex”, porque sempre é uma tradição de elegância, mas desviada completamente desses ideais de equidade, segundo a notícia que a minha amiga me facultou:
“- Nós não fazíamos ideia de que a nossa Justiça faculta violações, pedofilias, bandidagem, etc. Muitas vezes critica-se a polícia, mas a eles deparam-se os entraves da Justiça, têm que libertar essa gente.
- Acontece também com os incendiários.
- Sim, também. Acabei de ler um artigo sobre a Justiça, a propósito de que ela protege os bandidos, os pedófilos trata-os com muita diplomacia. Até podem recusar o exame do ADN. Foi o que aconteceu com o violador de Benfica. Recusou fazer o ADN e o fulano está cá fora. Mais cinco raparigas novinhas fizeram parte do rol dele.
Incapaz de solucionar os desesperos da minha amiga, resultantes das suas tendências mórbidas que a não deixam colher algum do néctar da vida que sobra dos vómitos das ignomínias, decido-me pela continuação da tradução que por sinal foca, no capítulo XXXVI, a preferência dos reis pelos bobos à sua mesa, preterindo os austeros sábios que só por ostentação eles também lá levam mas para ouvir falar de desgraças, o que os maça, ao contrário dos bobos que “proporcionam o que os príncipes procuram a qualquer preço: a diversão, o sorriso, o prazer” além de que “só eles são francos e verídicos”. “Tudo o que o louco tem no coração, mostra-o no rosto, exprime-o no discurso; os prudentes, pelo contrário, têm duas línguas...: uma para dizer a verdade, outra para dizer o que é oportuno. Eles sabem “mudar o preto em branco” soprar com a mesma boca o frio e o calor, evitar pôr de acordo sentimentos e palavras.”
E assim, o capítulo XXXVII compara o diferente destino do bobo e do sábio, o primeiro, “irá divertir com as suas facécias, nos Campos Elísios, as almas piedosas e ociosas”, o segundo, depois de uma vida de privações de prazeres, e de vigílias constantes em severos estudos que o envelhecem e debilitam antes do tempo, “é votado a uma morte prematura. Que importa, de resto, que ele morra, já que nunca viveu?”
Estes retratos são, aliás, bem do passado, os sábios hoje são mais protegidos, talvez por mecenas, ou organismos próprios, talvez pelas cunhas da nossa idiossincrasia.
Quanto aos bobos, já não há reis que os necessitem, eles – os da panelinha – conseguem cozinhar muito bem as suas próprias fruições, com os condimentos bastantes para a sua euforia permanente.
E os bobos somos nós, como condimento imprescindível da euforia.
Mas, repito, a minha amiga trouxe mais um caso, ligado à nossa Justiça que de humanista mantém ainda o lema “dura lex sed lex”, porque sempre é uma tradição de elegância, mas desviada completamente desses ideais de equidade, segundo a notícia que a minha amiga me facultou:
“- Nós não fazíamos ideia de que a nossa Justiça faculta violações, pedofilias, bandidagem, etc. Muitas vezes critica-se a polícia, mas a eles deparam-se os entraves da Justiça, têm que libertar essa gente.
- Acontece também com os incendiários.
- Sim, também. Acabei de ler um artigo sobre a Justiça, a propósito de que ela protege os bandidos, os pedófilos trata-os com muita diplomacia. Até podem recusar o exame do ADN. Foi o que aconteceu com o violador de Benfica. Recusou fazer o ADN e o fulano está cá fora. Mais cinco raparigas novinhas fizeram parte do rol dele.
Incapaz de solucionar os desesperos da minha amiga, resultantes das suas tendências mórbidas que a não deixam colher algum do néctar da vida que sobra dos vómitos das ignomínias, decido-me pela continuação da tradução que por sinal foca, no capítulo XXXVI, a preferência dos reis pelos bobos à sua mesa, preterindo os austeros sábios que só por ostentação eles também lá levam mas para ouvir falar de desgraças, o que os maça, ao contrário dos bobos que “proporcionam o que os príncipes procuram a qualquer preço: a diversão, o sorriso, o prazer” além de que “só eles são francos e verídicos”. “Tudo o que o louco tem no coração, mostra-o no rosto, exprime-o no discurso; os prudentes, pelo contrário, têm duas línguas...: uma para dizer a verdade, outra para dizer o que é oportuno. Eles sabem “mudar o preto em branco” soprar com a mesma boca o frio e o calor, evitar pôr de acordo sentimentos e palavras.”
E assim, o capítulo XXXVII compara o diferente destino do bobo e do sábio, o primeiro, “irá divertir com as suas facécias, nos Campos Elísios, as almas piedosas e ociosas”, o segundo, depois de uma vida de privações de prazeres, e de vigílias constantes em severos estudos que o envelhecem e debilitam antes do tempo, “é votado a uma morte prematura. Que importa, de resto, que ele morra, já que nunca viveu?”
Estes retratos são, aliás, bem do passado, os sábios hoje são mais protegidos, talvez por mecenas, ou organismos próprios, talvez pelas cunhas da nossa idiossincrasia.
Quanto aos bobos, já não há reis que os necessitem, eles – os da panelinha – conseguem cozinhar muito bem as suas próprias fruições, com os condimentos bastantes para a sua euforia permanente.
E os bobos somos nós, como condimento imprescindível da euforia.
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