terça-feira, 6 de julho de 2010

“Mais caros que os charutos”, ou a insustentável leveza duma nação

Foi a propósito da minha referência de ontem ao excesso de charutos pesando no erário público do Estado francês e impondo despedimentos – se não despedidas afectuosas – governativos, em função dos bons costumes, que também por lá há estrebarias de Augias a necessitarem da reparação dos Hércules – que a minha amiga se lançou, com armas e bagagens, sobre os nossos governantes de país rico por conta de outrem:
- Mais caros que os charutos são as viaturas dos nossos governantes, a frota automóvel topo de gama, e as viagens em primeira dos mesmos e as assessoras de imagem que qualquer badameco do Governo tinha, que não ganhava menos do que duzentos contos... Porque o que a gente está a gastar não foi agora, foi há vinte anos...
- Só?
– consegui articular, com as minhas recordações poisando atrás.
- Talvez há mais tempo - pronunciou indiferente. Lembra-se de eu dizer que com toda a gente dessa a ter carrão, choufer, gazolina de graça, telefonemas pagos pelo Estado, viagens em primeira classe - agora é que estão a imaginar pôr os viajantes em classe turística – teríamos um belo enterro?
- Em todo o caso, não será de primeira
– expressei pessimista.
- Porque é engraçado, toda a gente acusa este Sócrates, eu não. O Cavaquinho estava lá, há muito que está lá. Estes continuaram com o estilo dos outros. Mas há vinte anos não se via que era isto que ia dar? Agora o que é que dizem todos? "É a crise mundial". Não bastava fazer isto, pôr a coisa a trabalhar? Fazer contas nem sequer complicadas?
Ergui os olhos para a minha amiga, para me certificar do sentido das suas explosões verbais. A “coisa” era a cabeça, as mãos da minha amiga traçavam os tamanhos dos gráficos, o das exportações diminuto, o das importações enorme.
- Agora o Cavaco diz que a situação é insustentável, deve ter lido o Milan Kundera, na questão “leve”/”pesado” - lembro eu sempre disposta a reconhecer capacidades alheias.
- Acordou. Deve estar a ver a possibilidade de ver as pensões diminuirem.
- Mas como tem muitas, a ele não faz diferença.
- Toda a gente sabe que não foi agora. Mas este PM é que está a levar com a carga toda das críticas.
- Ora, não tenha pena, que ele é um espertalhão, sustentável pela sua máquina, capaz de se escapulir por todas as malhas.
E lembrei a cena caricata – para mim vergonhosa – do Rui Pedro Soares, implicado no negócio da TVI pela Taguspark, como cabeça de turco bem remunerado, o fulano a responder na comissão de inquérito sobre as suas afinidades e da família com o Benfica, numa longa história laracheira, em que o camarada se aguentou com muita seriedade, certamente que mandatado pelos do séquito socrático, para chuchar com o assunto e com os da comissão e com o país inteiro... Uma miséria. Mas o PM não foi apanhado. Rematei:
–“Não, não tenha pena do PM. Somos um país inominável. Insustentável. Que levamos na tromba, até de um fedelho, embora bem pago para isso, e bem mandatado. E aceitamos a bordoada. E desistimos. Que o Benfica é o “Abre-te, Sésamo” para a nossa passividade. Embora o D. Sebastião e a Nossa Senhora de Fátima também sejam bons instigadores. Consta.

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