A minha amiga hoje mostrou muito suspense na forma como projectou a transmissão da sua notícia, desfavorável ao ritmo cardíaco daqueles que a escutam, já suficientemente afectado pelas noticiazinhas diárias, sobretudo de desastres na marginal, incêndios próximos das terras de familiares, notícias das nossas aldrabices de povo aldrabão, mas ilibado judicialmente se pertencer às classes bem, enfim, o rumor das saias de Elvira, que é o rumor próximo, próprio para os nossos achaques mais desastrados na questão cardiológica. Disse ela, então, ontem, vibrantemente:
- Ouvi hoje uma noticiazinha que me encheu as medidas.
- Qual foi?
- E vai mudar o país.
Pensei em diamantes, petróleo, ouro, canela, marfim, florete de espadachim ... mas estranhei, a respeito dessa coisa da mudança, e desatei por meu turno a lançar provérbios a esmo, comprovativos de descrença, lembrando-me do Sancho Pança que de vez em quando também os lançava a Dom Quixote, não por descrença mas por esperteza malandra, que levavam o amo aos arames:
- Nada pode mudar o país, cada um é como é, e nós somos iguais a sempre, de pequenino se torce o pepino, mas a UE proibiu-nos os pepinos para torcer, gato que mia caça menos, por isso miamos, porque quem não chora não mama e nós preferimos mamar a caçar, a rico não devas e a pobre não prometas, cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso, quando o sol nasce não é para todos...
A minha amiga rejeitou as sentenças do meu trejeito enervado:
-Esta vai trazer muitos benefícios.
- Quais, afinal?
- Deve-se a um homem chamado Champalimaud.
- Eu logo vi que não era completamente nosso.
- Isso era! Portuguesíssimo de lei. Pode haver elementos genéticos estranhos à raça, mas foi um português riquíssimo e protegido, até pelo Salazar. Fez uma Fundação que se dedica à cegueira. Deixou a família rica mas também distribuiu pelos seus compatriotas. Ontem foi entrevistada a Beleza. Vai ser uma coisa extraordinária, inaugurada em Outubro, onde vêm os melhores cientistas. O país fica muito rico. Fundação para os cegos e para o cancro. Com o Tejo a seus pés, como eles disseram e o Sócrates vai ter a honra de inaugurar uma coisa tão útil e enriquecedora - concluiu, agradada de que fosse Sócrates o sortudo, por já ter apanhado zargunchadas suficientes, mesmo sem ter o Tejo por perto.
Eu ainda quis retorquir com mais um provérbio – o “não há fumo sem fogo” das minhas desconfianças a respeito do nosso sortudo dos processos, mas virei as baterias antes, para o nosso sortudo maior, embora sem processos conhecidos - Mário Soares, só ares, no meu foro íntimo, concordante com as anedotas que nos circundam – para interrogar suavemente se a Fundação deste, não do dinheiro dele, mas do dinheiro de quem contribui, também se dedica a coisas daquele alcance humanitário e nacional.
Em resposta, a minha amiga confirmou que aqui há tempos lera o nome de um fulano que ganhara uma bolsa dessa Fundação.
- Ah! O alcance lá virá. Por enquanto está na posse do fundador, o grande sortudo do país dos “eu seja ceguinho se não é verdade”.
- Ouvi hoje uma noticiazinha que me encheu as medidas.
- Qual foi?
- E vai mudar o país.
Pensei em diamantes, petróleo, ouro, canela, marfim, florete de espadachim ... mas estranhei, a respeito dessa coisa da mudança, e desatei por meu turno a lançar provérbios a esmo, comprovativos de descrença, lembrando-me do Sancho Pança que de vez em quando também os lançava a Dom Quixote, não por descrença mas por esperteza malandra, que levavam o amo aos arames:
- Nada pode mudar o país, cada um é como é, e nós somos iguais a sempre, de pequenino se torce o pepino, mas a UE proibiu-nos os pepinos para torcer, gato que mia caça menos, por isso miamos, porque quem não chora não mama e nós preferimos mamar a caçar, a rico não devas e a pobre não prometas, cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso, quando o sol nasce não é para todos...
A minha amiga rejeitou as sentenças do meu trejeito enervado:
-Esta vai trazer muitos benefícios.
- Quais, afinal?
- Deve-se a um homem chamado Champalimaud.
- Eu logo vi que não era completamente nosso.
- Isso era! Portuguesíssimo de lei. Pode haver elementos genéticos estranhos à raça, mas foi um português riquíssimo e protegido, até pelo Salazar. Fez uma Fundação que se dedica à cegueira. Deixou a família rica mas também distribuiu pelos seus compatriotas. Ontem foi entrevistada a Beleza. Vai ser uma coisa extraordinária, inaugurada em Outubro, onde vêm os melhores cientistas. O país fica muito rico. Fundação para os cegos e para o cancro. Com o Tejo a seus pés, como eles disseram e o Sócrates vai ter a honra de inaugurar uma coisa tão útil e enriquecedora - concluiu, agradada de que fosse Sócrates o sortudo, por já ter apanhado zargunchadas suficientes, mesmo sem ter o Tejo por perto.
Eu ainda quis retorquir com mais um provérbio – o “não há fumo sem fogo” das minhas desconfianças a respeito do nosso sortudo dos processos, mas virei as baterias antes, para o nosso sortudo maior, embora sem processos conhecidos - Mário Soares, só ares, no meu foro íntimo, concordante com as anedotas que nos circundam – para interrogar suavemente se a Fundação deste, não do dinheiro dele, mas do dinheiro de quem contribui, também se dedica a coisas daquele alcance humanitário e nacional.
Em resposta, a minha amiga confirmou que aqui há tempos lera o nome de um fulano que ganhara uma bolsa dessa Fundação.
- Ah! O alcance lá virá. Por enquanto está na posse do fundador, o grande sortudo do país dos “eu seja ceguinho se não é verdade”.
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