A minha amiga falou no calor, em resposta à sua falta de ideias para me ilustrar o espírito: “Eu ontem tinha tanto calor, tanto calor que tenho a impressão de que nada ouvi de expressivo. Estive na varanda ao fresco” - o que me deixou desolada, porque comigo foram outras as causas do meu vazio, tirando a referência que li, muito positiva para os nossos brios – e para os bolsos de algumas das entidades nacionais - acerca do ouro que o Salazar deixou, já a contar com a bancarrota futura, isto é, dos tempos que estamos a viver, mais os tempos que hão-de viver os nossos próximos.
Entretanto, sentou-se na mesa ao lado da nossa um jovem que a minha amiga conhecia. Fora aluno da minha escola, chegou ao curso superior, mas tinha quatro garrafas de cerveja à sua frente, às nove da manhã. Falou de livros, de literatura que disse conhecer, citou versos que disse ter feito, de uma sensibilite eivada de teorias de uma pseudo-racionalidade, na realidade pateticamente ocas, para impressionar, tal como a profusão vistosa de referências culturais.
A minha amiga escreveu no papel dos meus apontamentos, a disfarçar: “Aqui o grande problema é a cerveja”, segundo lhe contara uma amiga nossa que fora professora dele.
Não conseguimos atamancar as nossas referências, sobre as “pulhitiquices, conhece?”, da designação da minha desbocada amiga, a quem eu respondi que não conhecia, inocente que sou, e por isso ciente de que não me fugirá o Reino dos Céus - nem as referências sobre o processo da Casa Pia, mais uma vez piedosamente adiado – para Setembro, por enquanto – nem sobre o processo Freeport, também piedoso para o nosso PM, que se fartou de espumar razões coléricas sobre a sem-razão dos que vilmente e debalde o quiseram tramar, nem sobre a questão da PT que nós não percebemos, nem vale a pena tentar, para não ficarmos ainda mais enroladas em novos meandros da nossa pluralidade de meandros pulhitiqueiros.
O moço – bonito moço – nascido em Angola, contou anedotas racistas a que chamou de xenofobia, dizendo-se desde sempre marginalizado por ser preto. Mas não era preto. O seu pai fora um médico branco, ele fora aluno da minha escola, era um bonito rapaz que teve cinco empregos, em que falhara, culpando todos, e nunca a si próprio, que resvalara, por fraqueza própria.
Comentámos sobre o flagelo da bebida que destrói a nossa juventude, comentámos sobre o complexo da negritude, sobretudo entre as gentes que provêm de uma miscigenação criadora, sim, de esculturais belezas, lamentámos um mundo de pesadelos mas de beleza também, que o próprio moço reconheceu naquilo a que chamou um seu poema.
Mas sentimos pena, não por termos atravessado a vida olhando para trás de nós, como Caeiro, mas por não termos mais esperança na vida que nos está à frente. Por causa dos meandros. E dos copos de cerveja às nove da manhã.
Entretanto, sentou-se na mesa ao lado da nossa um jovem que a minha amiga conhecia. Fora aluno da minha escola, chegou ao curso superior, mas tinha quatro garrafas de cerveja à sua frente, às nove da manhã. Falou de livros, de literatura que disse conhecer, citou versos que disse ter feito, de uma sensibilite eivada de teorias de uma pseudo-racionalidade, na realidade pateticamente ocas, para impressionar, tal como a profusão vistosa de referências culturais.
A minha amiga escreveu no papel dos meus apontamentos, a disfarçar: “Aqui o grande problema é a cerveja”, segundo lhe contara uma amiga nossa que fora professora dele.
Não conseguimos atamancar as nossas referências, sobre as “pulhitiquices, conhece?”, da designação da minha desbocada amiga, a quem eu respondi que não conhecia, inocente que sou, e por isso ciente de que não me fugirá o Reino dos Céus - nem as referências sobre o processo da Casa Pia, mais uma vez piedosamente adiado – para Setembro, por enquanto – nem sobre o processo Freeport, também piedoso para o nosso PM, que se fartou de espumar razões coléricas sobre a sem-razão dos que vilmente e debalde o quiseram tramar, nem sobre a questão da PT que nós não percebemos, nem vale a pena tentar, para não ficarmos ainda mais enroladas em novos meandros da nossa pluralidade de meandros pulhitiqueiros.
O moço – bonito moço – nascido em Angola, contou anedotas racistas a que chamou de xenofobia, dizendo-se desde sempre marginalizado por ser preto. Mas não era preto. O seu pai fora um médico branco, ele fora aluno da minha escola, era um bonito rapaz que teve cinco empregos, em que falhara, culpando todos, e nunca a si próprio, que resvalara, por fraqueza própria.
Comentámos sobre o flagelo da bebida que destrói a nossa juventude, comentámos sobre o complexo da negritude, sobretudo entre as gentes que provêm de uma miscigenação criadora, sim, de esculturais belezas, lamentámos um mundo de pesadelos mas de beleza também, que o próprio moço reconheceu naquilo a que chamou um seu poema.
Mas sentimos pena, não por termos atravessado a vida olhando para trás de nós, como Caeiro, mas por não termos mais esperança na vida que nos está à frente. Por causa dos meandros. E dos copos de cerveja às nove da manhã.
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