segunda-feira, 14 de julho de 2014

Coisas da Internet



Com, em epígrafe emoldurada por ícone contendo o dístico de MARGARETH THATCHER: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”,  publica o “A Bem da Nação” o artigo de Maria João Avillez «DEPOIS DE ACABAR O DINHEIRO DOS OUTROS…» que uma vez mais retrata e nos retrata, sem que fique um resquício de vergonha a tantos de nós, o estado a que chegámos como nação, aclarando corajosamente os factos, sem cedência a valores que não sejam os da honesta busca da verdade, tantas vezes já ditada, felizmente, por alguns menos submissos a uma gritaria orientada por quem está ali só para gritar, porque se estivesse a governar teria forçosamente que fazer o mesmo que os que estão, sem o que o quadro do dilúvio – parcial, desta vez – nos atingiria, sem Arca salvadora.

Mas antes de transcrever o artigo de Maria João Avillez, transcrevo da Internet o seguinte texto, colocado há mais de um ano, encontrado quando afanosamente procurava a origem da frase “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”:

12 de Julho de 2013 às 9:51
«Sabe quantos países com governo socialista restam agora em toda a União Europeia?
Apenas 3:
1. Grécia 2. Portugal 3. Espanha. 
Os três estão endividados até o pescoço.
Eis as razões, segundo definições clássicas de MARGARETH THATCHER:
"O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros".
"É impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os ricos pela prosperidade".
"Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem receber".
"O governo não pode dar para alguém aquilo que tira de outro alguém".
"Quando metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao começo do fim de uma nação".
Se você trabalha, você deve trabalhar mais duro ainda, pois milhões de pessoas dependem do seu trabalho.
São as pessoas que vivem do Fome-Zero, do Bolsa-Invasão, do Bolsa-Desemprego, do Bolsa-Escola, do Bolsa-Família, do Bolsa-Cota, do Auxílio-Reclusão, ou que recebem, sem trabalhar, o Vale-Leite, o Vale-Gás, o Vale Copa, Vale-Tudo etc.
Ainda podemos salvar o país dessa derrocada!!!»

O artigo de Maria João Avillez:




«DEPOIS DE ACABAR O DINHEIRO DOS OUTROS…»

Entrar em dívida é um tique português, o país é geneticamente devedor, basta ler os antepassados. Mas é desta dívida que me ocupo. 
1 – Mais Passos? Não exageremos. Embora a sua quota de artigos positivos, de tão modesta, admitisse mais textos como o que aqui escrevi há dias, não é de Passos que se trata, mas do país. De duas ou três "lembranças" que me ocorreram após ler alguns comentários indignados contra o conteúdo do meu texto (e ainda bem: conheço poucas coisas tão embaraçantes como tentar – na mesma encarnação? – agradar a gregos e troianos). Deus me defenda da unanimidade.
Isto dito o país está muito mal humorado desde que deixou de viver com o dinheiro dos outros.
Tinha-se habituado. Não havia mais mês ao fim do dinheiro porque regra geral o dinheiro "aparecia". Fiado. Vinha para tudo, nem se pensava nisso, ninguém achava esquisito, o crédito jorrava.
Das casas – primeiras e "segundas" – às viagens, dos telemóveis às mobílias, "compre já a sua mobília de quarto, pague depois", dos brinquedos caros às férias em Cancun. Rotundas, polidesportivos, espaços culturais, piscinas municipais – era um ver se te avias, por esse Portugal das auto-estradas desertas (conheço um sitio, a Norte, onde existem três, paralelas umas às outras).
Boa vida.
Confundir esta ficção – a crédito – com desenvolvimento é uma leviandade, e podia somar mais exemplos, assim como se somou a própria dívida.
Eu sei que entrar em dívida é um tique português, o país é geneticamente devedor, basta ler os livros dos antepassados a contas com as nossas contas, para suar com as aflições deles. Mas agora é desta dívida que me ocupo. Da qual (obviamente) não me excluo porque dela sou, somos, simultaneamente os algozes e as vítimas.
2 – Um dia, após milhares de outros dias a viver de empréstimo, o crédito secou: a realidade ficou subitamente "destapada", todos os sinais vermelhos desenharam o mapa da nossa insolvência. Em Maio de 2011, o dinheiro que havia durava para três semanas. O governo socialista foi obrigado a pedir auxilio, os ricos e poderosos organizaram um "peditório", vieram uns senhores olhados como o "problema", quando eram a solução: infeliz, pesada e vexatória, mas a culpa não era deles, haviam aterrado em Portugal a pedido.
Aparentemente quase toda a gente se esqueceu disto. Uns porque "já" não lhes interessa, outros porque nunca lhes interessou, outros porque se instalaram na "culpa foi da crise internacional" (santo Deus, ainda?) ou na variante que " se lixe a troika", que "se lixe a dívida". E quase todos porque acham – a sério – que, bem vistas as coisas, a culpa da austeridade é do Governo e do seu grupo de malfeitores.
Boa consciência.
Sucede porém que se não se alcançar que não é uma questão de "não há dinheiro" mas sim de "nunca ter havido dinheiro" – os tempos do verbo foram, e continuam a ser, mal conjugados – voltar-se-á sempre à casa de partida da insolvência ou da bancarrota. Não vejo que isto entre no computador político das oposições, mas se não entrar, como conseguirão eles um dia praticar o tão temerário exercício do poder?
Faz-me a lembrar a Argentina e o que dela fui ouvindo a políticos supostamente responsáveis: que a seguíssemos como guia de insubmissão, que a copiássemos como exemplo de bater o pé aos credores, "a Argentina mostra-nos que se não se pagar, não acontece nada…."
Nada se passou bem assim, não é verdade? O default argentino foi em 2001 e a operação de troca de títulos ocorreu em meados da década. Ora como em 2014 a questão ainda aí está, como é possível que haja quem se permita dizer "não se paga, não se paga", garantindo que depois "não acontece nada". Está a acontecer. Acontece sempre.
3 – A austeridade podia ter sido diferente, podia ter sido menos má (e qual a bitola para esse "menos" mau?), podia ter sido mais meiga? Tudo podia ter sido de outra maneira? Pode sempre dizer-se que sim, que podia, é de borla. Em vez de persistir, porém, nas ficções e fricções da austeridade, não era mau lembrar – por exemplo – que o recuo provocado por deixar de haver dinheiro do próximo para gastar não foi nada uniforme. Nem que os cortes do ajustamento nos diversos orçamentos ministeriais foram desenhados a regra e esquadro. E como só por milagre o seriam, de imediato surgiram recriminações e comparações entre os que desses distintos universos dependiam. Os que se sentiam "roubados" consideravam os outros "privilegiados" e vice-versa. Ambas – recriminações e comparações – duram acidamente até hoje. Mas a realidade subitamente destapada em 2011 nunca poderia ter efeitos ou consequências iguais. O reconhecimento disso não é fácil. E a sua aceitação ainda mais difícil. Com temperos de desonestidade intelectual ou receitas milagrosas, ainda pior.
4 – Daí ao "empobrecimento" declarado como um novo estado foi um ápice. Mas mesmo tendo em conta o martírio do desemprego, eu não seria tão expedita a passar do artificial nível de vida de ontem para o que dizem ser o geral empobrecimento de hoje. Sim é verdade: por detrás dos incontáveis festivais musicais de norte a sul do país, à mesa dos incontáveis restaurantes que abriram apesar do "IVA da restauração" (abriram mais do que fecharam); dos Rock in Rios a deitar por fora com bilhetes caríssimos (paguei um, sei do que falo); para lá das festivas "movidas" de Lisboa, Porto ou Braga (estas, vi eu); da energia criadora de algumas iniciativas em algumas cidades e do engenho e arte de milhares de portugueses – os das exportações, invenções e desinstalações -, sim, é verdade: há um Portugal cansado. Um país que sofreu e ainda sofre. E outro que talvez nunca deixe de sofrer, o qual é por isso imperioso amparar e do qual é obrigatório cuidar. Isto, que é verdade, não é porém a verdade de "todo" o país, como nos querem fazer crer – senão, onde cabe aquele a que acima aludi?
5 – Renegociar a dívida? Mutualizá-la? Restruturá-la? Restruturá-la "com honra"? Re … qualquer coisa? Está na moda e Renzi, enérgico e bello uomo, é o chefe. Depois de Hollande – esperança frustrada do nosso PS e do dele – ter sido obrigado a nomear um novo Executivo e dar todos os ditos por não ditos, talvez o chefe do governo italiano, melhor que Hollande tenha mais talento político e mais sorte.
Claro que também precisamos dela. Era preciso porém explicar a Mateo Renzi que é necessário algum cuidado e que a empreitada é capaz de ser menos "light" do que ele e os seus amigos nos prometem. Ao ouvi-los, é tudo uma questão de levantar a voz, bater o pé e dizer que se paga menos e mais tarde. Ignora-se como convenceriam os credores da contradição que consiste em manifestar seriedade, ao mesmo tempo que se diz que só se paga metade (e a seguir?). E como lidariam com o aumento do défice que logo ocorreria, para não falar do (misterioso) botão do crescimento económico que estes optimistas teimam em não nos dizer onde está.
Mas pode ser que além de eu desconfiar da facilidade deste caderno de encargos, também esteja enganada. E que o ar do tempo esteja – de facto – virado para isto.
6 – De braço dado com a bondade do falecido PEC IV, anda também – e continuará a andar – a ideia de que em 2009/10 a Europa "convidou" os seus países a "gastarem", impulsionando o crescimento económico que minguava, reduzindo o desemprego que galopava, etc. É verdade. Sucede porém que tal mensagem nunca nos poderia ter tido como destinatários. A saúde do país já então nos excluía automaticamente do convite. Por isso, não basta dizer que a Europa "mandou gastar", seria mais sério acrescentar que a fartura se destinava apenas a alguns. Aos que podiam. Cada um que observasse a sua especifica situação e o estado das respectivas economias e decidisse em conformidade responsável. Sucede que no país o erro foi duplo: gastou-se muito, primeiro erro; e, gastou-se também muitíssimo no sector privado, com as directrizes então dadas à banca pelo governo anterior para que incentivasse o consumo, assim endividando as famílias)
É só virar a cabeça e olhar para trás: vê-se bem, foi há pouquíssimo tempo.

9 de Julho de 2014   Maria João Avillez    In Observador 


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