Com, em epígrafe emoldurada por ícone contendo o
dístico de MARGARETH THATCHER: “O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros”, publica o “A
Bem da Nação” o artigo de Maria João Avillez «DEPOIS DE ACABAR O DINHEIRO
DOS OUTROS…» que uma vez mais retrata e nos retrata, sem que fique um
resquício de vergonha a tantos de nós, o estado a que chegámos como nação, aclarando
corajosamente os factos, sem cedência a valores que não sejam os da honesta
busca da verdade, tantas vezes já ditada, felizmente, por alguns menos
submissos a uma gritaria orientada por quem está ali só para gritar, porque se
estivesse a governar teria forçosamente que fazer o mesmo que os que estão, sem
o que o quadro do dilúvio – parcial, desta vez – nos atingiria, sem Arca
salvadora.
Mas antes de transcrever o artigo de Maria João
Avillez, transcrevo da Internet o seguinte texto, colocado há mais de um ano, encontrado
quando afanosamente procurava a origem da frase “O socialismo dura até
acabar o dinheiro dos outros”:
12
de Julho de 2013 às 9:51
«Sabe
quantos países com governo socialista restam agora em toda a União Europeia?
Apenas
3:
1.
Grécia 2. Portugal 3. Espanha.
Os
três estão endividados até o pescoço.
Eis
as razões, segundo definições clássicas de MARGARETH THATCHER:
"O
socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros".
"É
impossível levar o pobre à prosperidade através de legislações que punem os
ricos pela prosperidade".
"Para
cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra pessoa deve trabalhar sem
receber".
"O
governo não pode dar para alguém aquilo que tira de outro alguém".
"Quando
metade da população entende a ideia de que não precisa trabalhar, pois a outra
metade da população irá sustentá-la, e quando esta outra metade entende que não
vale mais a pena trabalhar para sustentar a primeira metade, então chegamos ao
começo do fim de uma nação".
Se
você trabalha, você deve trabalhar mais duro ainda, pois milhões de pessoas
dependem do seu trabalho.
São
as pessoas que vivem do Fome-Zero, do Bolsa-Invasão, do Bolsa-Desemprego, do
Bolsa-Escola, do Bolsa-Família, do Bolsa-Cota, do Auxílio-Reclusão, ou que
recebem, sem trabalhar, o Vale-Leite, o Vale-Gás, o Vale Copa, Vale-Tudo etc.
Ainda
podemos salvar o país dessa derrocada!!!»
«DEPOIS DE ACABAR O DINHEIRO DOS OUTROS…»
Entrar
em dívida é um tique português, o país é geneticamente devedor, basta ler os
antepassados. Mas é desta dívida que me ocupo.
1 – Mais
Passos? Não exageremos. Embora a sua quota de artigos positivos, de tão
modesta, admitisse mais textos como o que aqui escrevi há dias, não é de Passos
que se trata, mas do país. De duas ou três "lembranças" que me
ocorreram após ler alguns comentários indignados contra o conteúdo do meu texto
(e ainda bem: conheço poucas coisas tão embaraçantes como tentar – na mesma
encarnação? – agradar a gregos e troianos). Deus me defenda da unanimidade.
Isto
dito o país está muito mal humorado desde que deixou de viver com o dinheiro
dos outros.
Tinha-se
habituado. Não havia mais mês ao fim do dinheiro porque regra geral o dinheiro
"aparecia". Fiado. Vinha para tudo, nem se pensava nisso, ninguém
achava esquisito, o crédito jorrava.
Das
casas – primeiras e "segundas" – às viagens, dos telemóveis às
mobílias, "compre já a sua mobília de quarto, pague depois", dos
brinquedos caros às férias em Cancun. Rotundas, polidesportivos, espaços
culturais, piscinas municipais – era um ver se te avias, por esse Portugal das
auto-estradas desertas (conheço um sitio, a Norte, onde existem três, paralelas
umas às outras).
Boa
vida.
Confundir
esta ficção – a crédito – com desenvolvimento é uma leviandade, e podia somar
mais exemplos, assim como se somou a própria dívida.
Eu sei
que entrar em dívida é um tique português, o país é geneticamente devedor,
basta ler os livros dos antepassados a contas com as nossas contas, para suar
com as aflições deles. Mas agora é desta dívida que me ocupo. Da qual
(obviamente) não me excluo porque dela sou, somos, simultaneamente os algozes e
as vítimas.
2 – Um
dia, após milhares de outros dias a viver de empréstimo, o crédito secou: a
realidade ficou subitamente "destapada", todos os sinais vermelhos
desenharam o mapa da nossa insolvência. Em Maio de 2011, o dinheiro que havia
durava para três semanas. O governo socialista foi obrigado a pedir auxilio, os
ricos e poderosos organizaram um "peditório", vieram uns senhores
olhados como o "problema", quando eram a solução: infeliz, pesada e
vexatória, mas a culpa não era deles, haviam aterrado em Portugal a pedido.
Aparentemente
quase toda a gente se esqueceu disto. Uns porque "já" não lhes
interessa, outros porque nunca lhes interessou, outros porque se instalaram na
"culpa foi da crise internacional" (santo Deus, ainda?) ou na
variante que " se lixe a troika", que "se lixe a dívida".
E quase todos porque acham – a sério – que, bem vistas as coisas, a culpa da
austeridade é do Governo e do seu grupo de malfeitores.
Boa
consciência.
Sucede
porém que se não se alcançar que não é uma questão de "não há
dinheiro" mas sim de "nunca ter havido dinheiro" – os tempos do
verbo foram, e continuam a ser, mal conjugados – voltar-se-á sempre à casa
de partida da insolvência ou da bancarrota. Não vejo que isto entre no
computador político das oposições, mas se não entrar, como conseguirão eles um
dia praticar o tão temerário exercício do poder?
Faz-me a
lembrar a Argentina e o que dela fui ouvindo a políticos supostamente
responsáveis: que a seguíssemos como guia de insubmissão, que a copiássemos
como exemplo de bater o pé aos credores, "a Argentina mostra-nos
que se não se pagar, não acontece nada…."
Nada se
passou bem assim, não é verdade? O default argentino foi em 2001 e a operação
de troca de títulos ocorreu em meados da década. Ora como em 2014 a questão
ainda aí está, como é possível que haja quem se permita dizer "não se
paga, não se paga", garantindo que depois "não acontece nada".
Está a acontecer. Acontece sempre.
3 – A
austeridade podia ter sido diferente, podia ter sido menos má (e qual a
bitola para esse "menos" mau?), podia ter sido mais meiga? Tudo
podia ter sido de outra maneira? Pode sempre dizer-se que sim, que podia, é
de borla. Em vez de persistir, porém, nas ficções e fricções da
austeridade, não era mau lembrar – por exemplo – que o recuo provocado por
deixar de haver dinheiro do próximo para gastar não foi nada uniforme. Nem que
os cortes do ajustamento nos diversos orçamentos ministeriais foram desenhados
a regra e esquadro. E como só por milagre o seriam, de imediato surgiram
recriminações e comparações entre os que desses distintos universos dependiam.
Os que se sentiam "roubados" consideravam os outros
"privilegiados" e vice-versa. Ambas – recriminações e comparações –
duram acidamente até hoje. Mas a realidade subitamente destapada em 2011
nunca poderia ter efeitos ou consequências iguais. O reconhecimento disso não é
fácil. E a sua aceitação ainda mais difícil. Com temperos de desonestidade
intelectual ou receitas milagrosas, ainda pior.
4 – Daí ao
"empobrecimento" declarado como um novo estado foi um ápice. Mas
mesmo tendo em conta o martírio do desemprego, eu não seria tão expedita a
passar do artificial nível de vida de ontem para o que dizem ser o geral
empobrecimento de hoje. Sim é verdade: por detrás dos incontáveis festivais
musicais de norte a sul do país, à mesa dos incontáveis restaurantes que
abriram apesar do "IVA da restauração" (abriram mais do que
fecharam); dos Rock in Rios a deitar por fora com bilhetes caríssimos (paguei
um, sei do que falo); para lá das festivas "movidas" de Lisboa, Porto
ou Braga (estas, vi eu); da energia criadora de algumas iniciativas em algumas
cidades e do engenho e arte de milhares de portugueses – os das exportações,
invenções e desinstalações -, sim, é verdade: há um Portugal cansado. Um país
que sofreu e ainda sofre. E outro que talvez nunca deixe de sofrer, o qual é
por isso imperioso amparar e do qual é obrigatório cuidar. Isto, que é verdade,
não é porém a verdade de "todo" o país, como nos querem fazer crer –
senão, onde cabe aquele a que acima aludi?
5 –
Renegociar a dívida? Mutualizá-la? Restruturá-la? Restruturá-la "com
honra"? Re … qualquer coisa? Está na moda e Renzi, enérgico e bello uomo,
é o chefe. Depois de Hollande – esperança frustrada do nosso PS e do dele – ter
sido obrigado a nomear um novo Executivo e dar todos os ditos por não ditos,
talvez o chefe do governo italiano, melhor que Hollande tenha mais talento
político e mais sorte.
Claro que
também precisamos dela. Era preciso porém explicar a Mateo Renzi que é
necessário algum cuidado e que a empreitada é capaz de ser menos
"light" do que ele e os seus amigos nos prometem. Ao ouvi-los, é tudo
uma questão de levantar a voz, bater o pé e dizer que se paga menos e mais
tarde. Ignora-se como convenceriam os credores da contradição que consiste em
manifestar seriedade, ao mesmo tempo que se diz que só se paga metade (e a
seguir?). E como lidariam com o aumento do défice que logo ocorreria, para não
falar do (misterioso) botão do crescimento económico que estes optimistas
teimam em não nos dizer onde está.
Mas pode
ser que além de eu desconfiar da facilidade deste caderno de encargos, também
esteja enganada. E que o ar do tempo esteja – de facto – virado para isto.
6 – De
braço dado com a bondade do falecido PEC IV, anda também – e continuará a andar
– a ideia de que em 2009/10 a Europa "convidou" os seus países a
"gastarem", impulsionando o crescimento económico que minguava,
reduzindo o desemprego que galopava, etc. É verdade. Sucede porém que tal
mensagem nunca nos poderia ter tido como destinatários. A saúde do país já
então nos excluía automaticamente do convite. Por isso, não basta dizer que a
Europa "mandou gastar", seria mais sério acrescentar que a fartura se
destinava apenas a alguns. Aos que podiam. Cada um que observasse a
sua especifica situação e o estado das respectivas economias e decidisse em
conformidade responsável. Sucede que no país o erro foi duplo: gastou-se
muito, primeiro erro; e, gastou-se também muitíssimo no sector privado, com as
directrizes então dadas à banca pelo governo anterior para que incentivasse o
consumo, assim endividando as famílias)
É só
virar a cabeça e olhar para trás: vê-se bem, foi há pouquíssimo tempo.
9 de Julho de 2014
Maria João Avillez In Observador
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