Transcrição do texto seguinte, do
blog “A Bem da Nação”, de 30/6:
«ACORDO ORTOGRÁFICO»
'ABRIR
MÃO' AO DESCALABRO OU DO DESCALABRO?
«O
"acordo" não serve para unificar, nem para simplificar; nem sequer
serve para os fins políticos internacionais que António Sartini e outros como
ele pretendem.
Em
entrevista publicada na sexta-feira, dia 13 de Junho, neste jornal, o director
do Museu da Língua Portuguesa de São Paulo, António Sartini, declarou:
"Acho
portanto muito justo que esta língua [portuguesa] se torne oficial nos
organismos internacionais. É lógico que esse processo sempre gera
descontentamentos [devido ao acordo ortográfico]. Mas para que ela seja oficial
é preciso que seja coesa, pelo menos na sua forma culta, normativa. Ela não se
tornou oficial até hoje porque há uma forma de escrever no Brasil, outra em
Portugal... Para chegarmos a uma forma única, alguém tem de abrir mão de alguma
coisa – e isso deixa as pessoas desconfortáveis".
Em
virtude destas declarações, graves pelas responsabilidades linguísticas e
pedagógicas de quem as proferiu, vimos chamar a atenção para os seguintes
factos objectivos:
1.
A língua inglesa possui mais do que uma forma de escrever, com diferenças
sensíveis entre cada uma (por exemplo, entre a norma adoptada nos EUA e a
adoptada no Reino Unido), e isso não a impede de ser a língua mais divulgada no
mundo, língua oficial de quase todos os organismos internacionais.
2.
O "acordo ortográfico" que António Sartini refere na entrevista, como
está cientificamente comprovado, leva ao AUMENTO das divergências entre as ortografias
de Brasil e Portugal. Antes do "acordo", escrevia-se recepção e detectar
nos dois países. Depois do "acordo", nasceram novas palavras em
Portugal, receção e detetar, criando uma divergência ortográfica onde existia
convergência. Isto sucede em centenas de casos. Logo, o dito "acordo"
não somente não contribui em nada para "chegarmos a uma forma única",
como possui exactamente o efeito oposto.
3.
Os organismos internacionais, ao contrário do que sugere António Sartini, não
ficam a ganhar rigorosamente nada com o "acordo". Este não supera,
nem sequer reduz, as divergências ortográficas antigas entre as variantes
brasileira e portuguesa. Basta pensar na ONU e na OMS, por exemplo. Com ou sem
este "acordo", continuará a ter de decidir-se entre República Checa (pt)/
República Tcheca (br), Islão (pt) / Islã (br), Madrid (pt)/ Madri (br), Moscovo
(pt)/ Moscou (br), SIDA (pt)/ AIDS (br), etc. Qual a versão a escolher? Não há
"forma única" possível na ortografia da língua portuguesa. O
"acordo", precisamente onde o director do Museu da Língua Portuguesa
Sartini afirma ser mais necessário, continua a ser um des-acordo.
4.
As pessoas que se sentem "desconfortáveis" com o mesmo "acordo
ortográfico" não se sentem assim por terem de "abrir mão de alguma
coisa". É a verificação das falhas descomunais na sustentação linguística
deste "acordo ortográfico", bem como a verificação dos efeitos
desastrosos que o "acordo" está a provocar no ensino-aprendizagem,
que tem levado à recusa deste por grande parte dos sectores mais ilustrados de
Portugal e Brasil. O "acordo" tem criado as maiores confusões em
crianças e adultos, tem levado a situações de perda absoluta de referenciais
históricos, prosódicos e etimológicos da Língua, e nem sequer conseguiu criar
correctores ortográficos para computador que sejam coerentes com ele e entre
si. Maior desacordo do que aquele obtido com este "acordo" é difícil,
senão impossível, de imaginar.
Noutro
ponto da entrevista, António Sartini afirma que "essa reforma
[ortográfica] vai oficializar alguma coisa que na prática já vinha existindo.
Interessa-nos muito mais essa evolução natural, essa prática do que a
cristalização trazida por uma reforma ou um acordo". Na verdade, o actual
"acordo ortográfico" não reflecte qualquer evolução natural da
língua. Ele foi antes orquestrado por um número muito reduzido de pessoas, em
circunstâncias verdadeiramente penosas, para não dizer fraudulentas. Para
informações sobre o processo levado a cabo no Brasil, recomendamos a audição da
entrevista ao Prof. Sérgio de Carvalho Pachá, ex-lexicógrafo-chefe da Academia
Brasileira de Letras e testemunha do processo, cuja ligação segue aqui: http://www.youtube.com/watch?v=-_wIluG3yRs
O
"acordo" não serve para unificar, nem para simplificar; nem sequer
serve para os fins políticos internacionais que António Sartini e outros como
ele pretendem. Pelo contrário: acaba por ser prejudicial em todos esses
aspectos. A conclusão só pode ser que o dito "acordo ortográfico" é
um péssimo serviço criado aos países e às pessoas que falam e escrevem a língua
portuguesa.»
18/06/2014
António
de Macedo
Cristina
Pimentel
Helena
Buescu
Hélio
J. S. Alves João Barrento
José
Luís Porfírio
José
Pedro Serra
Maria
do Carmo Vieira
Maria
Filomena Molder
Paula
Ferreira
Pedro
da Silva Coelho
Rui
Miguel Duarte
tags: "língua portuguesa"
O meu comentário para o mesmo blog:
Como
é que um documento taxativo como este, assinado por gente preocupada e
responsável – e bem mais inteligente do que esse sujeito Sartini, espécie de
clown de rua, a quem deram poderes para uma realização mentecapta, própria para
figurar de facto num museu da asneira, não
chega aos olhos e ouvidos e coração dos governantes, que têm o poder de dizer não a tanta coisa e se acobardam
perante o clown e outros como ele, sem abrirem mão de tal loucura, e pelo
contrário, abrindo mão a essa loucura fraudulenta e torpe, como o documento bem
demonstra?
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