segunda-feira, 30 de junho de 2014

Em suma



Mais uma excelente crónica de Alberto Gonçalves, do Forum do DN de 29/6, com temas diversos entre os quais, o do falhanço da selecção portuguesa, tema de que já Vasco Pulido Valente se ocupara no Público de 20/6 - “Uma história portuguesa, com certeza”- sobre a responsabilidade geral nesse falhanço – correspondendo ao falhanço económico – no excessivo das demonstrações patrioteiras, logo seguido das demonstrações de ironia fácil e raivosa. Mas são outros os temas que transcrevo do sociólogo Alberto Gonçalves, o 1º, A invenção do Mal, curiosa demonstração sobre as falsidades de um partido que, condenando as privatizações perpetradas pelo Governo, no seguimento da doutrinação marxista-leninista e de Engels, é detentor de inúmeras propriedades, que o colocam em liderança proprietária relativamente aos partidos que condena.
Também o 2º tema é revelador das irregularidades dos pontos de vista críticos relativamente à actuação desordeira das populações, na opinião, neste caso, de Costa e seus apoiantes – aceitável a desordem quando inflectida sobre o Governo, vergonhosa quando actuando sobre a esquerda de Costa.
O 3º assunto, “A lepra”, de 28/6 consiste numa mudança de opinião generalizada sobre a responsabilidade de José Sócrates no descalabro económico da nação.
Termina a página com o comentário «Teologia da libertação” a respeito da acção “mordente” de um jogador uruguaio sobre o adversário italiano e os conceitos doutrinários dos chefes  sul-americanos sobre a vergonha das sanções como ataque aos pobres etc, etc.
Não resisti a transcrever alguns dos comentários que tais artigos provocaram:

«A invenção do Mal», 22/6
«Como não se passa um dia sem que o PCP resmungue contra as privatizações, aproveito para recordar uma notícia velha de alguns meses, cortesia da TSF.
O PCP é o partido português com mais património imobiliário ("O proletariado só pode libertar-se através da abolição da propriedade privada em geral" - Engels). Possui mais de 60 terrenos e 200 apartamentos ou prédios, entre os quais a Quinta da Atalaia, de 250 mil metros quadrados, onde se faz a Festa do Avante! ("Não se pode vencer o Capitalismo sem tomar os bancos e sem abolir a propriedade privada" - Lenine). A lista de património imobiliário do partido, publicada em Diário da República, consta de outros 65 terrenos um pouco por todo o País, incluindo meia dúzia de quintas em Loures, Coimbra, Fornos de Algodres e Viseu ("Rousseau disse que a primeira pessoa a reclamar um pedaço da natureza para si e a transformá-la na forma transcendente da propriedade privada foi quem inventou o Mal" - Negri). Além dos terrenos, na lista de património imobiliário do PCP estão ainda 200 prédios urbanos ou outros imóveis como apartamentos ("A moderna propriedade privada burguesa é a expressão última e mais consumada da geração e apropriação dos produtos que repousam em oposições de classes" - Marx e Engels). Na comparação com os outros partidos, o PCP lidera, com enorme vantagem, no património imobiliário. PS e PSD têm, cada um, pouco mais de 70 edifícios ou apartamentos declarados, e o CDS-PP fica-se pelos dez ("A Teoria do Comunismo pode resumir-se numa frase: erradique-se toda a propriedade privada" - Marx e Engels).»

«Ermesinde saiu à rua», 27/6
Após António Costa ter subido ao "país real" e sido insultado com galhardia por algum povo, a PGR abriu um inquérito, Manuel Alegre considerou os incidentes "intoleráveis" e, com a originalidade que o define, o próprio Dr. Costa achou-os "inaceitáveis". Presumo que não ache inaceitável que, conforme demonstra um vídeo a correr por aí, uma senhora que lhe berra ao ouvido seja arrastada pelo pescoço por, ao que li, um seu assessor na autarquia lisboeta. Percebo-o: também não gostaria que me gritassem a menos de 30 centímetros de distância; infelizmente, falta-me o assessor.
Além da graça natural em tudo isto, a comédia intensifica-se quando se percebe que o escândalo em volta dos acontecimentos de Ermesinde não se deve à lendária ética republicana, que acomete certa esquerda de uma repulsa natural pelo desrespeito. Não, senhor: o problema com a revolta popular irrompe apenas quando a revolta é dirigida contra a própria esquerda. Por outras palavras, ofender o Dr. Costa é uma vergonha; ofender membros do Governo, ritualmente interrompidos em cerimónias públicas por algazarra e interpretações da Grândola, é um acto de cidadania.
Desigualdade de perspectivas? Nem por isso: provavelmente, considera-se que a quota de insultos ao dr. Costa já se encontra preenchida pelo Dr. Costa, sempre que abre a boca de modo a permitir a saída do vácuo comprimido na sua cabecinha. Tivesse esclarecimento para tanto, o Dr. Costa apresentaria uma queixa à PGR contra si.»

«A lepra», 28/6
Há três anos, Francisco Assis garantia que a história fará justiça a José Sócrates. Há pouco mais de um ano, o ex-ministro Nuno Severiano Teixeira assegurava que a história fará justiça a José Sócrates. Dia sim, dia não, os blogues anonimamente assinados por serviçais do antigo primeiro-ministro afiançavam que a história fará justiça a José Sócrates. Por uma vez, os videntes acertaram.
Embora muitos cidadãos tivessem preferido que a Justiça fizesse justiça ao Eng. Sócrates, a história começa a colocar o cavalheiro no lugar que merece. Depois de, nas recentes europeias, a mera presença do cavalheiro num almoço de campanha afundar decisivamente as pretensões eleitorais do seu partido, o partido desatou a tratá-lo com a deferência normalmente dedicada à lepra. E se não se estranha muito que alguns apoiantes do Dr. Seguro usem as palavras "descalabro" e "desastre" para avaliar a governação do Eng. Sócrates, estranha-se um bocadinho que o Dr. Costa já se refira aos "erros" da mesma.
Na prática, só falta o próprio Eng. Sócrates admitir que duplicar a dívida pública em meia dúzia de anos e colocar Portugal na dependência desesperada do exterior durante as próximas duas dúzias não foi uma proeza admirável ou, como ele repetia sempre que espirrava, um "momento histórico". Aí sim, será altura de colocar o homem sob o pedestal da posteridade.»

«Teologia da libertação»
«Um jogador da selecção uruguaia mordeu o adversário e foi corrido do Mundial. Para José Umjica, o cliché que preside aquele país, a sanção é, cito, uma "vergonha" e um "ataque aos pobres". Depois de o senhor Lula ter explicado a eliminação dos ingleses com a dificuldade destes em se adaptarem à elevada qualidade dos estádios brasileiros, é justo rever as palavras de Hugo Chávez, quando acusou os EUA de provocarem cancro a diversos chefes de Estado da América Latina: os cancros serão fortuitos, mas o surto de demência dá que pensar.»

Alguns comentários da Internet:

MMartins:
«Ao ver ontem o "Eixo do mal", fiquei intrigado por uma teoria apresentada por CFA cujo argumento sustenta que o espaço político da esquerda foi invadido por um novo pensamento de direita, baixo e sujo, cujos intervenientes pertenciam a uma nova geração de académicos e de profissionais muito bem formados. De facto concordo com esta teoria, exceptuando a qualificação de "baixo e sujo". E a explicação para tal não é complexa nem esotérica. Tem só a ver com a qualificação e formação. Incluo AG neste campo. Alguém inteligente e qualificado que não se coíbe da participação cívica em prol do seu país. Bem haja.

Spartacus:
Para a "esquerda" bem pensante, incluindo naturalmente a dra. Ferreira Alves, tudo que se conecte com a "direita", mesmo que se aproxime da excelência, é "baixo e sujo". Pelo contrário, se vier da "esquerda", mesmo que se revele de uma mediocridade confrangedora, ou mesmo da mais torpe baixeza, é silenciado ou visto como um erro menor ou uma "gaffe" sem a menor importância. Vide os ministros sem direito a usar da palavra, o "escurinho" do sr. Arménio ou as boçalidades "profes" do sr. Nogueira.»

«Sublime, tanto a história das injúrias ao Costa como a do PCP capitalista. Que pena não haver mais jornalistas assim!»

«Bem haja Alberto pela boa disposição que sinto depois de ler uma crónica como esta! Adorei a farpa às esquerdas acerca das manifestações anti-Costa. Se o visado fosse um governante ou pessoa de direita, chamar-lhe mimos como "traidor", etc, não passaria de um exercício saudável dos direitos de manifestação e da liberdade de expressão. Alguém tem dúvidas?»

«Os ricos de hoje são os outros ! houve uma transferência enorme da riqueza de tal modo que os pobres de ontem são os ricos de hoje , sem arriscar um tusto conseguiram grandes tachos em autarquias e em outros órgãos de cash flow constante e os comunistas não ficaram de fora , pelo contrário são sócios da corja que provocou a desgraça que caíu sobre o povo português . Além do património do partido são donos do seu próprio e de muitas colectividades cujos fundadores pingaram suor para conseguir um bem para os outros e que muitas já foram delapidadas em proveito próprio onde os chefões já engoliram o que era bom e de vez em quando as autarquias lá vão financiando para novamente os chefões»

Transcrevo ainda, como complemento de todos estes “pronunciamentos”, e porque ontem ouvi o Dr. Pacheco Pereira, no seu programa da Sic - “Ponto Contraponto” - fazer um retrato “lamecha” sobre o Dr. Álvaro Cunhal, além de ter antes apresentado o hino e a bandeira da República espanhola anterior à actual monarquia – o que interpretei, - (mau grado o prazer da erudita informação) - como sinuosa tentativa de deitar mais lume nas labaredas que o povo espanhol lançou pelas ruas antes da nomeação doe Filipe VI - um texto já antigo que em tempos transcrevi no meu blog, de Vasco Pulido Valente sobre o mesmo Dr. Álvaro Cunhal:

« Como hoje se lembram de Cunhal os militantes do PCP, os “companheiros de caminho” e umas largas dúzias de patetas. O indivíduo que planeava transformar Portugal numa espécie de Bulgária do Ocidente, o promotor do PREC, o responsável pelas “nacionalizações” e pela ocupação dos “latifúndios”, o desorganizador da economia, o inimigo da “Europa”, esse parece que desapareceu. Só resta, com muito sentimentalismo, como ele gostaria, a máscara do soberano, perante a qual ainda uma pequena parte do país se acha obrigada a genuflectir. A consciência histórica dos portugueses é um óptimo reflexo da inconsciência que os trouxe à miséria e ao desespero.»


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