Mais uma excelente crónica de Alberto Gonçalves, do
Forum do DN de 29/6, com temas diversos entre os quais, o do falhanço da
selecção portuguesa, tema de que já Vasco Pulido Valente se ocupara no Público
de 20/6 - “Uma história portuguesa, com certeza”- sobre a
responsabilidade geral nesse falhanço – correspondendo ao falhanço económico –
no excessivo das demonstrações patrioteiras, logo seguido das demonstrações de
ironia fácil e raivosa. Mas são outros os temas que transcrevo do sociólogo
Alberto Gonçalves, o 1º, A invenção do Mal, curiosa demonstração
sobre as falsidades de um partido que, condenando as privatizações perpetradas
pelo Governo, no seguimento da doutrinação marxista-leninista e de Engels, é
detentor de inúmeras propriedades, que o colocam em liderança proprietária relativamente
aos partidos que condena.
Também o 2º tema é revelador das irregularidades dos
pontos de vista críticos relativamente à actuação desordeira das populações, na
opinião, neste caso, de Costa e seus apoiantes – aceitável a desordem quando
inflectida sobre o Governo, vergonhosa quando actuando sobre a esquerda de
Costa.
O 3º assunto, “A lepra”, de 28/6
consiste numa mudança de opinião generalizada sobre a responsabilidade de José
Sócrates no descalabro económico da nação.
Termina a página com o comentário «Teologia da
libertação” a respeito da acção “mordente” de um jogador uruguaio sobre
o adversário italiano e os conceitos doutrinários dos chefes sul-americanos sobre a vergonha das sanções
como ataque aos pobres etc, etc.
Não resisti a transcrever alguns dos comentários que
tais artigos provocaram:
«A invenção do Mal», 22/6
«Como não se passa um dia sem que o PCP resmungue
contra as privatizações, aproveito para recordar uma notícia velha de alguns
meses, cortesia da TSF.
O PCP é o partido português com mais património
imobiliário ("O proletariado só pode libertar-se através da abolição da
propriedade privada em geral" - Engels). Possui mais de 60 terrenos e 200
apartamentos ou prédios, entre os quais a Quinta da Atalaia, de 250 mil metros
quadrados, onde se faz a Festa do Avante! ("Não se pode vencer o
Capitalismo sem tomar os bancos e sem abolir a propriedade privada" -
Lenine). A lista de património imobiliário do partido, publicada em Diário da
República, consta de outros 65 terrenos um pouco por todo o País, incluindo
meia dúzia de quintas em Loures, Coimbra, Fornos de Algodres e Viseu
("Rousseau disse que a primeira pessoa a reclamar um pedaço da natureza
para si e a transformá-la na forma transcendente da propriedade privada foi
quem inventou o Mal" - Negri). Além dos terrenos, na lista de património
imobiliário do PCP estão ainda 200 prédios urbanos ou outros imóveis como
apartamentos ("A moderna propriedade privada burguesa é a expressão última
e mais consumada da geração e apropriação dos produtos que repousam em
oposições de classes" - Marx e Engels). Na comparação com os outros
partidos, o PCP lidera, com enorme vantagem, no património imobiliário. PS e
PSD têm, cada um, pouco mais de 70 edifícios ou apartamentos declarados, e o
CDS-PP fica-se pelos dez ("A Teoria do Comunismo pode resumir-se numa
frase: erradique-se toda a propriedade privada" - Marx e Engels).»
«Ermesinde saiu à rua», 27/6
Após António Costa ter subido ao "país real"
e sido insultado com galhardia por algum povo, a PGR abriu um inquérito, Manuel
Alegre considerou os incidentes "intoleráveis" e, com a originalidade
que o define, o próprio Dr. Costa achou-os "inaceitáveis". Presumo
que não ache inaceitável que, conforme demonstra um vídeo a correr por aí, uma
senhora que lhe berra ao ouvido seja arrastada pelo pescoço por, ao que li, um
seu assessor na autarquia lisboeta. Percebo-o: também não gostaria que me
gritassem a menos de 30 centímetros de distância; infelizmente, falta-me o
assessor.
Além da graça natural em tudo isto, a comédia
intensifica-se quando se percebe que o escândalo em volta dos acontecimentos de
Ermesinde não se deve à lendária ética republicana, que acomete certa esquerda
de uma repulsa natural pelo desrespeito. Não, senhor: o problema com a revolta
popular irrompe apenas quando a revolta é dirigida contra a própria esquerda.
Por outras palavras, ofender o Dr. Costa é uma vergonha; ofender membros do
Governo, ritualmente interrompidos em cerimónias públicas por algazarra e
interpretações da Grândola, é um acto de cidadania.
Desigualdade de perspectivas? Nem por isso:
provavelmente, considera-se que a quota de insultos ao dr. Costa já se encontra
preenchida pelo Dr. Costa, sempre que abre a boca de modo a permitir a saída do
vácuo comprimido na sua cabecinha. Tivesse esclarecimento para tanto, o Dr.
Costa apresentaria uma queixa à PGR contra si.»
«A lepra», 28/6
Há três anos, Francisco Assis garantia que a história
fará justiça a José Sócrates. Há pouco mais de um ano, o ex-ministro Nuno
Severiano Teixeira assegurava que a história fará justiça a José Sócrates. Dia
sim, dia não, os blogues anonimamente assinados por serviçais do antigo
primeiro-ministro afiançavam que a história fará justiça a José Sócrates. Por
uma vez, os videntes acertaram.
Embora muitos cidadãos tivessem preferido que a
Justiça fizesse justiça ao Eng. Sócrates, a história começa a colocar o
cavalheiro no lugar que merece. Depois de, nas recentes europeias, a mera
presença do cavalheiro num almoço de campanha afundar decisivamente as
pretensões eleitorais do seu partido, o partido desatou a tratá-lo com a
deferência normalmente dedicada à lepra. E se não se estranha muito que alguns
apoiantes do Dr. Seguro usem as palavras "descalabro" e
"desastre" para avaliar a governação do Eng. Sócrates, estranha-se um
bocadinho que o Dr. Costa já se refira aos "erros" da mesma.
Na prática, só falta o próprio Eng. Sócrates admitir
que duplicar a dívida pública em meia dúzia de anos e colocar Portugal na
dependência desesperada do exterior durante as próximas duas dúzias não foi uma
proeza admirável ou, como ele repetia sempre que espirrava, um "momento
histórico". Aí sim, será altura de colocar o homem sob o pedestal da
posteridade.»
«Teologia da libertação»
«Um
jogador da selecção uruguaia mordeu o adversário e foi corrido do Mundial. Para
José Umjica, o cliché que preside aquele país, a sanção é, cito, uma
"vergonha" e um "ataque aos pobres". Depois de o senhor
Lula ter explicado a eliminação dos ingleses com a dificuldade destes em se
adaptarem à elevada qualidade dos estádios brasileiros, é justo rever as
palavras de Hugo Chávez, quando acusou os EUA de provocarem cancro a diversos
chefes de Estado da América Latina: os cancros serão fortuitos, mas o surto de
demência dá que pensar.»
Alguns comentários da Internet:
MMartins:
«Ao
ver ontem o "Eixo do mal", fiquei intrigado por uma teoria
apresentada por CFA cujo argumento sustenta que o espaço político da esquerda
foi invadido por um novo pensamento de direita, baixo e sujo, cujos
intervenientes pertenciam a uma nova geração de académicos e de profissionais
muito bem formados. De facto concordo com esta teoria, exceptuando a
qualificação de "baixo e sujo". E a explicação para tal não é
complexa nem esotérica. Tem só a ver com a qualificação e formação. Incluo AG
neste campo. Alguém inteligente e qualificado que não se coíbe da participação
cívica em prol do seu país. Bem haja.
Spartacus:
Para
a "esquerda" bem pensante, incluindo naturalmente a dra. Ferreira
Alves, tudo que se conecte com a "direita", mesmo que se aproxime da
excelência, é "baixo e sujo". Pelo contrário, se vier da
"esquerda", mesmo que se revele de uma mediocridade confrangedora, ou
mesmo da mais torpe baixeza, é silenciado ou visto como um erro menor ou uma
"gaffe" sem a menor importância. Vide os ministros sem direito a usar
da palavra, o "escurinho" do sr. Arménio ou as boçalidades
"profes" do sr. Nogueira.»
«Sublime,
tanto a história das injúrias ao Costa como a do PCP capitalista. Que pena não
haver mais jornalistas assim!»
«Bem
haja Alberto pela boa disposição que sinto depois de ler uma crónica como esta!
Adorei a farpa às esquerdas acerca das manifestações anti-Costa. Se o visado
fosse um governante ou pessoa de direita, chamar-lhe mimos como
"traidor", etc, não passaria de um exercício saudável dos direitos de
manifestação e da liberdade de expressão. Alguém tem dúvidas?»
«Os
ricos de hoje são os outros ! houve uma transferência enorme da riqueza de tal
modo que os pobres de ontem são os ricos de hoje , sem arriscar um tusto conseguiram
grandes tachos em autarquias e em outros órgãos de cash flow constante e os
comunistas não ficaram de fora , pelo contrário são sócios da corja que
provocou a desgraça que caíu sobre o povo português . Além do património do
partido são donos do seu próprio e de muitas colectividades cujos fundadores
pingaram suor para conseguir um bem para os outros e que muitas já foram
delapidadas em proveito próprio onde os chefões já engoliram o que era bom e de
vez em quando as autarquias lá vão financiando para novamente os chefões»
Transcrevo ainda, como complemento de todos estes “pronunciamentos”,
e porque ontem ouvi o Dr. Pacheco Pereira, no seu programa da Sic - “Ponto
Contraponto” - fazer um retrato “lamecha” sobre o Dr. Álvaro Cunhal, além de
ter antes apresentado o hino e a bandeira da República espanhola anterior à
actual monarquia – o que interpretei, - (mau grado o prazer da erudita
informação) - como sinuosa tentativa de deitar mais lume nas labaredas que o povo
espanhol lançou pelas ruas antes da nomeação doe Filipe VI - um texto já
antigo que em tempos transcrevi no meu blog, de Vasco Pulido Valente sobre o
mesmo Dr. Álvaro Cunhal:
« Como hoje se lembram de Cunhal os militantes do
PCP, os “companheiros de caminho” e umas largas dúzias de patetas. O indivíduo
que planeava transformar Portugal numa espécie de Bulgária do Ocidente, o
promotor do PREC, o responsável pelas “nacionalizações” e pela ocupação dos
“latifúndios”, o desorganizador da economia, o inimigo da “Europa”, esse parece
que desapareceu. Só resta, com muito sentimentalismo, como ele gostaria, a
máscara do soberano, perante a qual ainda uma pequena parte do país se acha
obrigada a genuflectir. A consciência histórica dos portugueses é um óptimo
reflexo da inconsciência que os trouxe à miséria e ao desespero.»
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