Um belo texto de Francisco Gomes de Amorim – do blog “A
Bem da Nação – RELAÇÕES NORTE SUL / Rainhas
de Portugal / os
Dhugail e os Fingail - que nos
faz passear no espaço como no tempo. Gostei a valer, e lembro… Baudelaire. Como
comentário de homenagem. Os Vickings também devem ter sido responsáveis pela
criatividade voluptuosa do poeta francês:
L'invitation au voyage
Mon enfant, ma
soeur,
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble !
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble !
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre ;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde ;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
- Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or ;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Songe à la douceur
D'aller là-bas vivre ensemble !
Aimer à loisir,
Aimer et mourir
Au pays qui te ressemble !
Les soleils mouillés
De ces ciels brouillés
Pour mon esprit ont les charmes
Si mystérieux
De tes traîtres yeux,
Brillant à travers leurs larmes.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Des meubles luisants,
Polis par les ans,
Décoreraient notre chambre ;
Les plus rares fleurs
Mêlant leurs odeurs
Aux vagues senteurs de l'ambre,
Les riches plafonds,
Les miroirs profonds,
La splendeur orientale,
Tout y parlerait
À l'âme en secret
Sa douce langue natale.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
Vois sur ces canaux
Dormir ces vaisseaux
Dont l'humeur est vagabonde ;
C'est pour assouvir
Ton moindre désir
Qu'ils viennent du bout du monde.
- Les soleils couchants
Revêtent les champs,
Les canaux, la ville entière,
D'hyacinthe et d'or ;
Le monde s'endort
Dans une chaude lumière.
Là, tout n'est qu'ordre et beauté,
Luxe, calme et volupté.
RELAÇÕES NORTE SUL
Rainhas
de Portugal
os
Dhugail e os Fingail
De
vez em quando uma viagem pela história luso-árabe-viking, mesmo parecendo
atrevimento por parte dum não pesquisador ou professor, não faz mal a ninguém,
e terá no mínimo uma vantagem: se alguém discordar e sobretudo comentar, todos
os que lerem essa “polémica” mais informados ficam.Os chamados Homens do Norte, os vikings, começam a expandir-se no século VIII, navegando nos seus magníficos barcos “drakkars” – dragão – invadem e ocupam a Islândia, Irlanda, Escócia, Inglaterra, Bretanha na França, além da expansão para leste onde formaram o primeiro estado russo.
Era uma
“turma da pesada”, sabe-se que chegaram até à Groelândia e muito possivelmente
ao Canadá, e para sul às Astúrias, Galiza, Portugal (de hoje), à Espanha
muçulmana, Baleares, Sicília, Grécia e até ao Líbano e Palestina.
A cristianização dos escandinavos começa quando o rei Harald Klak Halfdansson (c. 785 – c. 852) da Jutlândia – Dinamarca e parte sul da actual Suécia, rei dos dhugail – se sente ameaçado e pede proteção a Luis I, o Piedoso (778-840), rei da Aquitânia desde 813, mas é Olavo Tryggvason, rei da Noruega de 995 até 1000, bisneto de Haroldo, primeiro rei da Noruega, rei dos fingail, quem teve um papel importante na conversão dos vikings ao cristianismo. Antes do cristianismo adoravam Odin, Thor e outros.
A cristianização dos escandinavos começa quando o rei Harald Klak Halfdansson (c. 785 – c. 852) da Jutlândia – Dinamarca e parte sul da actual Suécia, rei dos dhugail – se sente ameaçado e pede proteção a Luis I, o Piedoso (778-840), rei da Aquitânia desde 813, mas é Olavo Tryggvason, rei da Noruega de 995 até 1000, bisneto de Haroldo, primeiro rei da Noruega, rei dos fingail, quem teve um papel importante na conversão dos vikings ao cristianismo. Antes do cristianismo adoravam Odin, Thor e outros.
Quando começam a expansão para sul encontram pelo caminho duas religiões monoteístas bem estabelecidas, a cristã e a islâmica, mas o respeito pelos cristãos era bastante “frágil”!
Cerca de 844 chegam à costa da Galiza que começam a saquear. Ramiro I (o meu antepassado muito estimado!) reune um exército, corre com eles, que entram nos barcos e seguem para o sul. Quando passam por Lisboa saqueiam a região, conforme carta de Wahballâh ibn-Hazun, governador de Lisboa, avisando todos os governadores muçulmanos a prepararem a defesa; “ali tinham passado cinquenta e quatro navios e outras tantas barcaças, o mar parecia cheio de aves vermelhas”! Eram as cores das velas dos drakkars.
Em todo
o Oeste ninguém conseguia opor-se-lhes. Era inimigo duma bravura pouco comum!
Os
melhores relatos dos ataques dos vikings à Península foram deixados pelos
árabes. O mais antigo, de Ibn al-Koutia, do século X, cujo nome significa filho
de Godo, nascido na Andaluzia, descendente de Sara, filha de Witiza, que
casou com um escravo forro do Califa Omar II de Damasco, foi o maior filólogo
da Espanha. Seu nome completo Abu-Bekr Mohammed ibn-Omar ibn Abdo’l-aziz,
faleceu em Córdova em 367 (989 da era cristã).
Deixou-nos
o relato da primeira das invasões dos normandos a quem chamavam Madjous.
“Abd
ar-Rahman (também meu estimado antepassado!) mandou construir a grande mesquita
de Sevilha e reconstruiu as muralhas desta cidade destruidas pelo ataque dos
Madjous em 844. A chegada destes bárbaros semeou o terror entre os habitantes
que fugiram para as montanhas. Adb ar-Rahman teve que pedir auxílio a todos os
vizires que se uniram e foram emboscar os invasores na vila Quintos Maãfir
(Maãfir, o nome de uma tribu árabe que se apossou da antiga vila Quintos, perto
de Sevilha). Puseram um vigia na torre da antiga igreja com um molho de lenha,
para avisar quando o inimigo passasse. Deixaram passar os infiéis polígamos
e atacaram-nos pelas costas de modo que lhes impediu a retirada e mataram
16.000.” (É evidente o gosto dos árabes no exagero das vítimas das guerras, e
aqui haverá, no mínimo um zero a mais!)
Todo o
tempo que estiveram à volta de Sevilha foi de cerca de quatorze dias, quando,
depois de perderem muita gente foram embora, apesar de estarem constantemente a
receber reforços.
Os
Madjous saíram de Sevilha, voltaram por Lisboa sem mais ataques e sumiram.
Abd
ar-Rahman a seguir mandou construir em Sevilha um arsenal para construção de
navios, contratou marinheiros em toda a costa da Andaluzia e a todos forneceu
“máquinas de guerra” e nafta. Quando os Madjous voltaram, quatro a cinco anos
depois, foram batidos e perderam vários navios que foram queimados.
Durante
bastante tempo os vikings deixaram a Espanha em paz. Até 1014, quando o
jovem príncipe Olaf Haraldsson por espírito de aventura (e pilhagem) voltou a
assolar a costa da França, Astúrias, Galiza, onde destruiu Tuy, e a costa do
Mediterrâneo, sempre à procura de ricos espólios. Mais tarde Olaf tornou-se rei
da Noruega, foi beatificado em 1031 três anos pós a sua morte e canonisado
em 1164 pelo Papa Alexandre III. Recebeu ainda o título de Rex Perpetuus
Norvegiae.
Mais cem
anos se passam e agora é o jovem rei Sigurd I, que em 1107 sai de Bergen
para a Terra Santa com 60 drakkars levando 10.000 homens. Desta vez não foi
pela pilhagem mas à procura de glória pessoal!
Pouco
depois Portugal torna-se um reino independente e, como em todo o lado, o
primogénito é o príncipe herdeiro e os outros tinham que ir à vida, como fez o terceiro
filho de Sancho I, Fernando, que se tornou Conde da Flandres quando, em 1211,
casou com Joana da Flandres, filha mais velha e herdeira de Balduíno I,
Imperador Latino de Constantinopla e Conde da Flandres.
Este Dom
Fernando foi peça importante no jogo de interesses da França e Inglaterra sobre
as Flandres e um nobre conhecido lá pelas terras do Norte.
Waldemar
II, rei da Dinamarca enviuvara da sua primeira mulher Margreta Dankmar,
Princesa da Bohémia, filha de Przenihl-Ottocar I, rei da Boémia, em 1212 e,
certamente por influência do Infante Dom Fernando, voltou a casar com a irmã
mais nova deste, Berengária, em Maio de 1214. Tem-se como provavel que esta
Infanta estaria a viver em casa do irmão.
Deste
casamento nasceram três filhos que todos foram reis da Dinamarca, e uma filha.
Talvez porque
a primeira mulher do rei Waldemar II fosse simpática, a nova rainha portuguesa,
que morre muito nova, em 1221, deixou mau nome, tanto que ainda hoje o seu
nome, Bengierd, em dinamarquês, é sinónimo de mulher má! A má fama vem pela
superstição da série “negra” da família.
Começa
quando, já morta a rainha, o rei Waldemar II é feito prisioneiro e entrega o
trono ao único filho do primeiro casamento, Waldemar III, que casou com uma
sobrinha de Berengária, Leonor, filha do rei Afonso II de Portugal. O casamento
durou somente dois anos; a rainha Leonor morre dando à luz, em Agosto de 1231,
e a criança teve vida curta. Pouco tempo depois, em Novembro do mesmo ano,
Valdemar III morre, acidentalmente atingido por uma flecha enquanto caçava.
Com a
morte do pai, assume o trono o filho mais velho de Berengária, Erik V, que em
lutas pelo trono com o irmão Abel, é por este feito prisioneiro e assassinado.
Abel morre dois anos depois durante uma revolta dos frísios na Dinamarca. O
trono passa ao mais novo, Cristovão I, que vive em constante luta com o clero e
parece ter sido envenenado.
Com
tanta desgraça, razão teve Shakespeare quando escreveu tem algo de podre no
reino da Dinamarca! (Será que Hamlet é inspirado nesta família?)
E a
culpa desta saga, estupidamente assumida em trovas impressas no final do século
XVI, é atribuida à rainha portuguesa! E ainda se devem queixar do “azar” da
segunda rainha, Leonor, também portuguesa, ter morrido com dois anos de
casamento sem deixar herdeiro.
O que se
consegue apurar é que, segundo antropólogos que abriram o seu túmulo sete
séculos depois, Dona Berengária era uma mulher linda. “O esqueleto de
Berengária assim como a sua caveira são de linhas nobres e belas, donde se
deduz que esta princesa deve ter sido raramente formosa e de corpo escultural.
Ao lado da caveira estavam duas tranças fartas que atualmente se conservam
entre duas chapas de cristal no Museu da Igreja dos Waldemares, em Ringsted,
que em 1915 inspiraram o poeta Waldemar Rordam:
Neste
escrínio de cristal, repousam cabelos de mulher
Separados
da minha mão, unicamente pelo vidro.
Ali jaz
uma trança farta, espantosamente conservada
Das
trevas da morte e da poeira de 700 anos.
Está
frágil e desbotada, no seu entrançado,
Com esta
trança, o rei Waldemar brincou.
Nas
ondulações desta trança enroscou-se
A
felicidade da Dinamarca.
Sustentámos
batalhas gigantescas
As
nossas vitórias caíram, quais frutos corridos
Pela
traição dos duques, e discórdia fraternal.
Na
época, o nome das rainhas de Portugal, seria ser lembrado com admiração, o que
deve ter levado a princesa Cristina da Noruega, filha do rei Hakon IV, a
empreender em 1256 uma viagem, “acompanhada de cento e vinte pessoas, muitas
damas da nobreza e um grande dote de ouro, prata e peles brancas e cinzentas”,
para ir casar-se com um dos irmãos do rei Afonso X de Leão e Castela.
Escolheu
Filipe, vinte e cinco anos, arcebispo de Sevilha que entrega o arcebispado ao
irmão Sancho, promete à noiva construir uma igreja dedicada a Santo Olaf e
casam em 1257.
Notas
1.- Se
alguém for à Dinamarca deve visitar a Igreja dos Beneditinos em Ringsted, onde
estão sepultadas as duas rainhas e seus maridos.
2.-
Ramiro II e Adb ar-Rahman foram mesmo meus antepassados!
12/06/2014
Francisco Gomes de Amorim
Nenhum comentário:
Postar um comentário