terça-feira, 24 de junho de 2014

2 a 2



Fui espreitando e admirei-me com o 1 a 0, em inesperado espanto de euforia. Passei a espreitar mais vezes, no receio do empate, que uma das espreitadelas confirmou. Deprimida, considerei que iam perder, o que posteriormente aconteceu. Desisti de espiar, convicta da derrota que eu própria anunciara a quando do empate. Mas, decidi vencer o medo e liguei novamente o 1º canal. Tinham acabado de empatar, por 2-2.
Fiquei muito feliz. O sentimento de derrota é tão castrador, eu estava de tal modo convicta de que a nossa parolice festivaleira por antecipação, exibicionista e devidamente exacerbada na inanidade facunda dos comentaristas, de extraordinário apoio mediático, iria ter por consequência o que já acontecera no primeiro jogo, que não pensei que o dois a um pudesse ser alterado, tanto mais que acreditara humildemente no destino tecido para nós, na declaração arrogante de um da selecção americana: eles «iriam pôr os  adversários no seu lugar.»
Mas o empate me fez admirar, agora, a selecção portuguesa. Achei que fora um milagre do mesmo Deus de Ourique, do Santo António, ou da própria Senhora de Fátima, que bastamente nos têm comandado as existências, apesar do provérbio do nosso pendor reaccionário “fia-te na Virgem e não corras”. Lembrei os três golos suecos do Ronaldo que nos catapultaram para a copa, outro milagre na corda bamba do nosso deslizar de precariedade.
O resto é silêncio. Dizem-me que basta um empate aos Estados Unidos e à Alemanha e que o Gana está de boa saúde. Não temos qualquer hipótese, para mais com tantas lesões nos jogadores. Mas o milagre do empate inesperado deu-se. Esse serviu, pelo menos, na minha opinião de rancor, para pôr o tal norte americano no seu lugar - que é excelente, claro, mas com sabor a provérbio também: quem muito fala pouco acerta; quem ao mais alto sobe… ou, mais prosaicamente, costumava a minha mãe dizer,  gaba-te, cesta rota”. Não foi assim tão fácil, o tal lugar.

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