Fui espreitando e admirei-me com o 1
a 0, em inesperado espanto de euforia. Passei a espreitar mais vezes, no receio
do empate, que uma das espreitadelas confirmou. Deprimida, considerei que iam
perder, o que posteriormente aconteceu. Desisti de espiar, convicta da derrota
que eu própria anunciara a quando do empate. Mas, decidi vencer o medo e liguei
novamente o 1º canal. Tinham acabado de empatar, por 2-2.
Fiquei muito feliz. O sentimento de
derrota é tão castrador, eu estava de tal modo convicta de que a nossa parolice
festivaleira por antecipação, exibicionista e devidamente exacerbada na
inanidade facunda dos comentaristas, de extraordinário apoio mediático, iria
ter por consequência o que já acontecera no primeiro jogo, que não pensei que o
dois a um pudesse ser alterado, tanto mais que acreditara humildemente no
destino tecido para nós, na declaração arrogante de um da selecção americana:
eles «iriam pôr os adversários no seu
lugar.»
Mas o empate me fez admirar, agora, a
selecção portuguesa. Achei que fora um milagre do mesmo Deus de Ourique, do Santo
António, ou da própria Senhora de Fátima, que bastamente nos têm comandado as
existências, apesar do provérbio do nosso pendor reaccionário “fia-te na Virgem
e não corras”. Lembrei os três golos suecos do Ronaldo que nos catapultaram
para a copa, outro milagre na corda bamba do nosso deslizar de precariedade.
O resto é silêncio. Dizem-me que
basta um empate aos Estados Unidos e à Alemanha e que o Gana está de boa saúde.
Não temos qualquer hipótese, para mais com tantas lesões nos jogadores. Mas o milagre
do empate inesperado deu-se. Esse serviu, pelo menos, na minha opinião de
rancor, para pôr o tal norte americano no seu lugar - que é excelente, claro,
mas com sabor a provérbio também: quem muito fala pouco acerta; quem ao mais
alto sobe… ou, mais prosaicamente, costumava a minha mãe dizer, “gaba-te, cesta rota”. Não foi assim tão
fácil, o tal lugar.
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