O artigo
de Vasco Pulido Valente – O Dia D – repõe dados a respeito do papel
decisivo da Rússia nas movimentações estratégicas da Segunda Guerra Mundial,
cujo odioso, centrado em discursos e esgares do Fuhrer, na aterrorizante
Gestapo, ou na hediondez dos campos de concentração, estávamos mais habituados a
sobrestimar, considerada a Rússia mais uma vítima dos furores nazis, tal como
outros países europeus, ocupados pela Alemanha na sua escalada dominadora. E os
Estados Unidos foram o grande agente da libertação, festejados e abraçados
nas ruas de Paris e outros locais,
altos, espadaúdos, sacrificados, generosos - também para defender o seu mundo
próprio, de potência americana, sempre pronta a socorrer os parceiros europeus,
para obstar a hecatombes sobre o seu próprio país.
Este artigo
revela que assim não foi, que a Rússia esteve sempre em cima do acontecimento, e
que o que se dizia de Estalin - de criminoso
do gabarito de Hitler - se passava mais entre eles e os seus gulags castigadores
- ainda que mais tarde alastrasse para ocidente, na imposição da sua doutrina
pelo leste europeu, criando muros e uma guerra fria com o ocidente.
Frases
como as seguintes - A URSS é que destruiu
Hitler. Primeiro na contra-ofensiva de 1940 em frente de Moscovo. Depois quando
conseguiu parar o ataque da Whermacht contra o Volga e o Cáucaso. E, para
acabar, na maior batalha de tanques da História, em Kursk, que partiu
definitivamente a espinha das forças do nazismo – são alguns dos exemplos apontados
pelo historiador. Aliás, todo o texto é uma lição de história contemporânea,
escrita mansamente, a desfazer convicções e mostrando que da Rússia tudo se
pode esperar, de há longa data:
O Dia D
As comemorações do Dia D na
televisão e nos jornais deixam muito por explicar. A América e a Inglaterra
comemoram essa vitória (de resto, excepcional) pela simples razão de que não
têm outra para comemorar. Mas vamos por partes.
Quando o primeiro soldado desembarcou
nas praias da Normandia, a guerra já estava perdida e a Alemanha lutava só para
afastar o Exército Vermelho das suas fronteiras, e salvar a pele
(temporariamente) ao bando de criminosos que a governavam. A URSS é que
destruiu Hitler. Primeiro na contra-ofensiva de 1940 em frente de
Moscovo. Depois quando conseguiu parar o ataque da Whermacht contra o
Volga e o Cáucaso. E, para acabar, na maior batalha de tanques da
História, em Kursk, que partiu definitivamente a espinha das forças do nazismo.
Em Dezembro de 1941, a seguir
a Pearl Harbour, Hitler declarou guerra à América (e não o contrário),
poupando a Roosevelt o trabalho de convencer a opinião pública de que o
objectivo principal era a Europa e não o Pacífico. Os chefes militares, com
Marshall à cabeça, comunicaram logo à Inglaterra a essência da sua estratégia:
atravessar o Canal e marchar para a Ruhr. Foi Churchill quem os dissuadiu,
convencendo o Presidente a varrer a Whermacht do Norte de África e, a partir
daí, a invadir o que ele julgava o “ventre mole” da Europa: para começar, a
Sicília e a Itália. Estas manobras, que muito irritaram o comando
americano, conseguiram evitar um desastre, obrigar Hitler a transferir para
sul uma parte considerável das suas tropas (tanto do ocidente como do
oriente) e dar tempo a que o apoio logístico e militar da América se acumulasse
em Inglaterra.
Na conferência de Teerão, uma
aliança tácita entre Estaline e Roosevelt fez com que Churchill, embora com
relutância, finalmente aceitasse a invasão da França. Nesta altura, o domínio aéreo da
coligação aliada era absoluto e, apesar dos “milagres” de Speer, só a URSS
produzia mais tanques do que o Reich inteiro. Quanto ao Dia D, ele mesmo,
foi muito ajudado pela ideia de que o esforço principal da invasão seria na
zona de Calais. Era uma noção pueril mas pertinaz, que levou Hitler a reter até
ao último momento no norte duas divisões panzer, enquanto o grosso do
exército entrava em colapso na Normandia. Também em Julho – Agosto, a
URSS destruiu o Grupo de Exércitos do Centro que defendia a Alemanha, impedindo
a deslocação de reforços para França. O nazismo fora esmagado. Mas no
último ano e meio da guerra morreu mais gente do que nos três primeiros.
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