Encontrei,
Para contrastar com o texto forte
De Gomes de Amorim,
Publicado no blog “A Bem da Nação”
- Texto que refere de passagem
Uns porcos triunfantes,
Embora hoje já não,
Superados que foram
Pelos animais de agora,
Homens de vileza
Superior à de outrora
Sem paralelo, pois, no Mal,
Com nenhum irracional –
Uma fábula também de animais
Mas com características bem
diferentes,
Embora representantes
Dos homens de antigamente
Que parecem muito baços
Em face dos do presente,
E até mesmo os do passado,
Do tempo de Florian,
Se atentarmos no quadro dos Fuzilamentos de Goya
Que Salles da Fonseca como ícone colocou
Para expressar melhor
A mensagem do texto despedaçador.
Trata a fábula de Florian de um Rinoceronte
E mais um Camelo,
Ambos insatisfeitos com as suas vidas,
- Um por o homem o preterir,
Outro por o homem servir.
Tal é a fábula de Florian
Em traços gerais,
Que responde com suavidade,
Como contraste,
À indignação de Gomes de Amorim,
Cujos porcos que cita
Embora de um horrendo passado,
Ainda recente,
Estão já longe dos animais humanizados
Citados por Florian
E muito mais longe ainda
Dos irracionais humanos actuais
De Gomes de Amorim.
Tem razão este Autor:
Não há porcos suficientes
Para descrever e justificar
O que por esse mundo vai
De violência e desumanidade
Como as que ele cita, de dilatação
Das riquezas milionárias
Estranguladoras,
Com gritantes
Misérias e violências infamantes
Sobre a maioria das gentes.
Leiamos Gomes de Amorim
Na sua prosa de um realismo vital
Sobre um mundo vil
Que não dá mais lugar ao sonho,
Neste carnaval:
INCURSÕES, CAPITALISMO, REVOLUÇÕES
Muitos comentários têm aparecido sobre o livro –
grande livro, em todos os sentidos – do Mestre Thomas Piketty. Porque não meter
eu também a minha foice em seara alheia? Uma incursãosinha!
Há muito tempo, ignorante em “economia”, venho
desgastando as meninges e complacência atirando-me quixotescamente sobre a
absurda concentração de riqueza que continua a crescer de forma quase
exponencial.
Como não parece haver a curto prazo solução para as
desigualdades e equilíbrio entre as gentes, pelo contrário, a minha bola de
cristal só consegue ver para isso uma revolução.
Nada de revoluçõezinhas tipo a dos capitãezinhos de
Abril, pinochices, e outras que tais, porque se a primeira trouxe liberdade de
expressão, essa tão almejada liberdade levou o país à bancarrota, enquanto a
pinochice fez exactamente o oposto, tapou as goelas aos chamados democratas
libertários mas fez o país crescer, e em ambas as situações a concentração de
riqueza não fez se não aumentar.
Já disse, escrevi e repito que o comunismo é uma
fábula. O único admirável é o de Cristo, mas vê-se bem que Jesus era filho de
Deus e parecia não conhecer a ganância dos homens que, agora mais do que nunca,
caminham numa velocidade sideral rumo à destruição do planeta e, óbvio, da
humanidade.
É o homem, hoje, a espécie mais ameaçada de extinção.
No entanto a história mostra que houve duas revoluções
que mudaram, por algum tempo, o curso dessa ferocidade financeira: a francesa e
a bolchevista.
O problema é que passados alguns anos tudo voltava à
mesma. A primeira começa com o Terror, e a ruína ainda maior dos mais pobres e
surge depois com o chamado estado social, de tendência galopante para a
falência. A bolchevique foi uma outra piada desgracenta, tipo “A Revolução dos
Bichos”, que trocou um czar e inúmeros duques por tiranos e gangsters, que só
se preocuparam com eles e com material de guerra. Não foi isso que Marx
desejou.
Mas as duas aconteceram devido à estagnação e
empobrecimento das gentes trabalhadoras e ao progresso da renda financeira.
Assistir nos dias de hoje ao surgimento constante de
milhares de bilionários – só em 2013 alcançaram essa posição mais dois milhões
e meio de indivíduos, quase sete mil por dia! – a sugarem nas carcaças largadas
pelos sovietes ou pelo PC chinês, a esmagarem os trabalhadores, ao
enriquecimento astronómico dos Warrens Buffets, Zukerbergs e quejandos, aos
salários mais do que absurdos dos jogadores de futebol, basquete, golf, dos
artistas de cinema e dos cantores de funk, ao acúmulo de capital dos Quatars e
comparsas, aos milhares de políticos com enriquecimentos mais do que ilícitos,
é uma afronta ao sentido de humanidade. A maioria deles a viver de renda e
especulação financeira ou imobiliária.
A Europa finge que está a sair da crise e o que se
assiste, sobretudo na França, que tem a vantagem de ser mais transparente, é a
um declínio permanente da sua economia. Num dia fecha uma fábrica, no outro tem
greves a exigirem mais do governo, e no topo da cadeia das empresas, tanto
estatais como privadas, os salários chegam a ser centenas de vezes superiores
ao da média dos trabalhadores.
O preço dos imóveis e de alugueis já está proibitivo
para quem começa a vida fora das saias dos papás. Ainda lembro que quando casei
me avisaram que não devia pagar pelo aluguer mais do que 1/6 do meu salário
para manter as finanças equilibradas, e consegui até, uma casa boa, que não foi
além de 1/5. Há sessenta anos. Onde se vê isso hoje? Não vê.
Os jovens agarram-se a esperanças ilusórias. Uma delas
é deixar de andar de carro porque o combustível está caríssimo e passar a andar
de bicicleta. Outra é o interior, o seu sossego, ar puro e algumas outras
quimeras. O trabalho agrícola. Mas raros são os que conseguem sobreviver. Para
a agricultura o início está em pesados investimentos e o rendimento
dificilmente dá para pagar os juros, fora o principal. Com a perspectiva do
aumento de consumo de alimentos no mundo o preço das terras começou a subir,
alcançando valores absurdos que os agricultores sabem que não podem acompanhar.
Os compradores vêm do médio oriente, da Rússia, da China, invadem África,
Europa e perturbam até o Canadá. A Ucrânia e Bulgária venderam imensas áreas
agrícolas e o preço do imobiliário não pára de subir.
Esta espiral inflacionária não pára nunca. Não pára
porque seria necessária toda uma nova reorganização das contribuições sociais,
a eliminação dos paraísos fiscais, o equilíbrio dos impostos.
Comecem por perguntar à City de Londres porque não
quer entrar num esquema desses. É lá que corre o dinheiro, de onde saem os
políticos que fazem as leis. Idem nos Estados Unidos, com o Fed e o Reserve
Bank, instituições privadas, e com os bilionários parlamentares republicanos
que dominam o país.
Podem perguntar a qualquer país do mundo, ao Brasil,
Angola, Nigéria, Rússia, aos árabes e aos chineses, a quem quiserem, porque
quem está por cima jamais aceita ficar ao lado.
Todos sabemos que para distribuir é preciso ganhar. Mas
jamais acumular para comprar iates de um bilhão de dólares para passear
prostitutas e corruptos.
Como diz Piketty, os proprietários das terras e do
petróleo podem acumular créditos importantes junto à população, que acaba por
perder tudo, inclusive as bicicletas!
Solução a prazo curto não existe. Mas tanto a
humanidade vai ser esmagada que um dia se revolta. Será uma nova Revolução
Francesa, com o Terror a destruir esses sugadores e seus incalculáveis
patrimónios, e o mundo a ficar durante uns quantos anos na maior miséria para
tentar renascer novo.
Renascer de novo com a mesma espécie? Nem os porcos de
Orwell conseguiram.
Só há um caminho, teórico, com duas recomendações:
- reconhecer igualdade no Outro, seja ele quem for;
- e seguir, com rigor, a recomendação de Marx:
“Trabalhadores de todo o mundo uni-vos.”
Duas situações que a humanidade ainda não está
preparada para assumir, primeiro porque milionário pretende continuar a
explorar os outros, depois quer seja pelo racismo, ou desprezo pelas mulheres
nos países muçulmanos e até na Índia, e ainda porque, mesmo sabendo que só a
união faz a força, unir os trabalhadores de TODO o mundo, nem
sonho chega a ser.
A crise de 2008 que alguns ingénuos, como eu, chegaram
a pensar que ia abrir as portas para caminhar para a igualdade, abriu as
comportas para o acúmulo da riqueza privada e para se alcançar um número
aterrorizante: 40 milhões de desempregados!
Para ajudar a destruir o planeta mais rapidamente,
temos agora a exploração de petróleo nas areias betuminosas que vai esterilizar
milhões de hectares de terras, e o gás de xisto que deverá ter efeito
semelhante ou explosivo para as populações circundantes.
A corrupção grassa paralelamente, em todo o mundo,
para níveis jamais sequer pensados.
Com todo este quadro haverá alguém que acredite na
sobrevivência, digna, da espécie humana?
13/06/2014 – Dia de Santo António cuja “especialidade”
não é salvar o mundo, mas encontrar objectos perdidos e noivos para se casarem.»
Francisco Gomes de Amorim
Leiamos também, com atenção,
A fábula de Florian
Na mítica mansidão
De um mundo ingénuo
Que passou
Sobriamente analisado
Por quem o analisou
Em metáforas simpáticas
Que ainda fazem sorrir
E meditar:
O Rinoceronte e o Dromedário
Um Rinoceronte jovem e forte
Dizia um dia a um Dromedário:
-Explique-me, por favor, meu caro irmão,
A razão
Por que a injustiça da sorte
A nós procura, sem cura.
O Homem, esse animal poderoso
Em manha
A vós pretende, aloja, estima,
Sustenta-vos com o seu pão,
Julgando a sua própria riqueza
Aumentar
A vossa espécie aumentando
Em quantidade tamanha.
Eu bem sei que os filhos dele,
Sua mulher e seus fardos
Carregais,
E que vós sois doce e ligeiro, sóbrio,
Infatigável
Como ninguém mais.
Convenho nisso, com franqueza.
Mas de certeza
O Rinoceronte
De iguais virtudes se pode gabar.
Sem vos querer irritar,
Julgo mesmo que sobre vós temos vantagens:
Os nossos cornos, as nossas couraças
Poderiam nos combates bem servir.
E todavia,
O Homem nos expulsa
E despreza e odeia,
E nos força a fugir.
- Amigo, responde o Dromedário,
Resignado,
A nossa sorte não invejeis.
Pouco é servir o Homem;
É muito mais necessário
Agradar-lhe.
Não vos espanteis, pois,
Da razão pela qual
Nos prefere a vós.
Destes favores velhos,
Eis o mistério sério:
Nós sabemos vergar os joelhos.»
Entre os traços que Gomes de Amorim citou,
Sobre os malefícios praticados
Pelos violadores actuais
Dos princípios morais,
Faltou, todavia, este,
Citado por Florian,
E que hoje mais do que nunca
É boa recomendação
Para no mundo
Da realização
Se poder penetrar:
Saber
Os joelhos vergar.
Quantos desses bilionários
Antes de se realizarem
Usaram
Os truques dos Dromedários
E os seus joelhos vergaram?
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