segunda-feira, 7 de julho de 2014

Entre o Carmo e a… burka



Foi tema das nossas conversas de ontem, domingo, no café com a minha amiga e com a minha irmã, o prémio que Carlos do Carmo recebeu. Recordámos outras vozes de excelência, como a de Adelaide Ferreira, de Lara Li, de Vítor Espadinha, até mesmo a de Maria Guinot do “Silêncio e tanta gente”, merecedores de prémios internacionais, além dos nacionais, e lamentámos o seu afastamento dos palcos televisivos, vã a glória que o tempo concede, se não trabalharmos para ela. Carlos do Carmo trabalhara e obtivera e os jornais deram cobertura devida ao prémio “Grammy” que recebeu, mérito seu, talvez, embora nestas coisas a máquina publicitária seja imprescindível. Quantos prémios não mereceria a nossa Amália com a sua voz única! Mas o que importa são os discos que permitem a sua imortalidade e a de todos os outros, nacionais e estrangeiros, que foram e vão embelezando os dias que por nós passam.
Mas no DN deste domingo, 6/7, encontrei “O nosso fado”, da crónica de Alberto Gonçalves que no seu tom faceto desmistifica todo o empolamento à roda do prémio Grammy e da exaltação que ele mereceu, como girândola disparada de longe, para nossa glória:

«O nosso fado»
por ALBERTO GONÇALVES
Mal se soube que o sr. Carlos do Carmo recebera o prémio de uma associação americana, surgiram as reacções. Uma figura alegórica que passou pela secretaria de Estado da "Cultura" e gosta de assinar petições em nome da dita correu a afirmar que o sr. Carlos do Carmo é "um símbolo de tradição e inovação no património do fado". Uma senhora que dirige um Museu do Fado falou em "distinção" justa e "inédita no panorama nacional". António Victorino d"Almeida lamentou que os artistas portugueses não sejam bem tratados por cá, e consolou-se por serem "devidamente reconhecidos internacionalmente". Um fadista avulso ficou contente porque é "amigo do Carlos" e porque o Carlos "cria imagens com as palavras que diz". O impagável António Costa não podia falhar os louvores: o prémio "é um novo e decisivo contributo" para a internacionalização do fado que "enche ainda mais de orgulho a cidade" de Lisboa. Por fim, o próprio sr. Carlos do Carmo contou que, no telefonema em que o informaram do prémio - "uma loucura" -, também foi informado de que é "um dos seis melhores cantores vivos do mundo".
Entre tanta excitação, ninguém se lembrou de explicar devagarinho que o prémio em questão é um Grammy, ou, mais específica e ainda mais embaraçosamente, um Grammy latino. Os Grammys normais, atribuídos pela indústria fonográfica dos EUA, possuem dezenas de categorias e celebram centenas de músicos por ano, dos ocasionais bons aos atrozes em abundância. Os Grammys latinos, decididos por uma subdivisão daquela indústria, procedem de igual forma, com a agravante de que o seu universo está limitado aos países de língua espanhola e, não faço ideia a que título, portuguesa.
Se os Grammys a sério são justamente considerados os galardões menos relevantes desde o III Torneio de Futsal Juvenil do Bombarral, os Grammys latinos nem aos calcanhares do Bombarralense chegam. Em cada cerimónia, resmas de brasileiros, venezuelanos, dominicanos, colombianos e porto-riquenhos arrecadam distinções tão prestigiantes quanto a de Melhor Disco de Música Ranchera e Melhor Disco de Música Sertaneja. Prodígios como Enrique Iglésias, Shakira, Ricky Martin, Ivete Sangalo e o duo Chitãozinho & Xororó já mereceram a honra que agora coube ao sr. Carlos do Carmo.
Não se trata de avaliar as qualidades artísticas do homem: trata-se de perceber que os Grammys não atestam qualidade nenhuma. No máximo, atestam que inúmeros habitantes de um país periférico não têm nenhuma noção do ridículo e, na sua quase terna rusticidade, tomam as migalhas alheias por um banquete caseiro. Numa tentativa de elevar o grau de pureza da patetice, houve até quem procurasse uma polémica no facto de, ao contrário dos seus antecessores, Cavaco Silva não felicitar o sr. Carlos do Carmo. Um chefe de Estado congratular alguém por um Grammy? Isso sim, justificaria um prémio. Do Guiness Book, secção Rituais do Terceiro Mundo. 

Mas Alberto Gonçalves outros temas explorou na sua página de domingo. Entre esses, “Direitos Humanos” sobre o uso da burka condenado pelo Tribunal Internacional de Direitos do Homem, violenta sátira contra os falsos pregadores do multiculturalismo permissivo do crime alheio, como direito próprio, embora condenatório das violências nacionais, e os quais, pelos seus posicionamentos contraditórios no conceito de “direitos”, deveriam estar deles excluídos:

Quinta-feira, 3 de Julho
Direitos humanos
A propósito da decisão do Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, que acabou de legitimar a proibição do véu integral em França, deixem-me esquecer que a obrigatoriedade de semelhante artefacto nem sequer consta do Corão, que obviamente impõe às mulheres uma condição subalterna, que representa uma recusa de assimilação nas sociedades que acolhem imigrantes muçulmanos e que, mais prosaicamente, coloca problemas pertinentes em matéria de identificação e segurança.
Dito isto, acho que as seguidoras de Alá deveriam ter todo o direito de usar véu, como os seguidores de Gaia deveriam ter todo o direito de envergar apenas florzinhas nas partes baixas. Naturalmente, qualquer outra pessoa também deveria ter todo o direito em recusar emprego, aluguer de imóveis, conversa e serviços em geral às senhoras que usam véu, aos familiares das senhoras que usam véu, aos seguidores de Gaia e, no fundo, a quem entenderem. Já os campeões do "multiculturalismo", que compreendem nos outros as rodilhas, a apostasia e a mutilação genital e condenam cá dentro a violência doméstica, a angústia dos LGBT e a influência da Igreja - esses não deveriam ter direito nenhum.



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