Tinha acabado de ver «Sol de Inverno» que já só
apanhara a meio, sem estômago para telenovelas, pois quando de passagem parava
numa e escutava qualquer diálogo de jovens ou adultos, melados ou moralistas ou
de zangas a imitar a vida, sentia repúdio pela banalização da arte em figurinos de vida insonsa e deslavada, já
diferentes das telenovelas do início, (sucedâneas das brasileiras incomparáveis),
e em que actores e actrizes usavam uma exibição mais hirta, sem naturalidade,
com intuitos de crítica ou de puro apontamento social, onde a ironia ou mesmo a
troça falseavam muitas vezes o âmbito da vida, num rebuscamento pedante de quem
se não leva a sério.
Todavia, entre as mais modernas, algumas houve,
captadas a meio, na curiosidade de passagem, que me prenderam, quer pelo bom
desempenho, quer pela beleza e naturalidade das personagens, quer pelos casos
de vida possíveis, quer pelas próprias paisagens nacionais da preocupação de
complementaridade corográfica enriquecedora, dos realizadores. Entre elas, “Pai
à Força”, que me pareceu bem forjada, embora embirrasse com as mãos dos
“médicos” sempre metidas nos bolsos das batas, ou um enredo contemplando
diálogos nas salas das operações, péssimo exemplo de ausência de profissionalismo para futuros médicos da nossa
realidade, além do espaço privilegiado atribuído ao bar do hospital, com sofá
bastamente utilizado numa efabulação à base de conflitos amorosos. Fez-me isso
lembrar tempos em que era permitido – e elegante – fumar, e os jovens médicos
desciam as escadas dos pisos do antigo Hospital de Cascais, uma das mãos nos
bolsos da bata, a outra segurando o cigarro, e o estetoscópio ao pescoço, como
marca profissional de envergadura, na altura em que as pessoas esperavam nos
patamares a hora para as visitas aos seus doentes. Por ter gostado do actor
principal de “Pai à Força”, Pepê Rapazote, (e também de Isabel Abreu,
além de outros actores), comecei a ver “Bem vindos a Beirais”, que me
divertia pelas figuras graciosas e as maquinações sucessivas, mas em breve foi
“Mar Salgado” que inspirou as minhas afeições, pela variedade de enredos
e excelência de desempenhos, mesmo dos mais jovens, que me fez procurar na
Internet biografias de actores para mim desconhecidos, como José Fidalgo,
Débora Monteiro, Joana Santos e tantos outros, alguns com prémios, para deslumbramento
da minha ignorância. A verdade é que a vida se dispersa por vários interesses,
mas fico feliz por saber que existe um escol de figuras na arte da
representação com muita qualidade artística, o que depende é claro, também, dos
realizadores, da arte de engendrar conflitos e da inteligência posta na
orientação dos actores.
Hoje, encontro na Revista 2 do Público de Domingo,
2/10/15 uma entrevista com a figura central dessa novela – Margarida
Vila-Nova – entrevista que oferece dados de vida e comportamento
existencial que lembram a personagem Leonor, na sua firmeza de conceitos,
sensibilidade e orientação de vida a servir de exemplo, que admirei, juntamente
com a sua figura angelical que reconheci na capa da revista.
Bom seria que à criatividade revelada
no género telenovela – e esta recebeu a dedada da TêVê Globo, daí também a sua
qualidade - sucedesse uma maior inspiração na criação da arte dramática portuguesa a que,
decididamente, somos avessos, navegando por riachos enfezados, ao contrário de
outras literaturas mais poderosas.
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