Um artigo muito curioso - CULTURA DA
MUDANÇA ENTRE SONHO E LIBERDADE - de
António da Cunha Duarte Justo, publicado no «A Bem da Nação», e realmente
assustador. De muitas dessas realidades nos vamos apercebendo diariamente,
delas aproveitando – quantos benefícios provoca a tecnologia a tantos níveis,
de que a medicina é uma das principais usufrutuárias, ao serviço do bem-estar
humano! Assustadora a alienação das crianças e muitos adultos, é certo, nos
seus jogos de destreza digital nos tais aparelhos que as desviam de outros
jogos de natureza física ou mesmo de interesse mental e social, mas que
indiscutivelmente contribuem para uma ginástica manual e por consequência
também mental que a mim, leiga, me deixam maravilhada. E o Estado fornece os
campos para a ginástica e a natação, além
de que as escolas também vão providenciando, e os pais atentos colaborando.
Apesar, pois, de um futuro previsível de terror pela alienação humana invadida
pelas realizações e fantasias do progresso, os genes que formaram os primitivos
seres e os tornaram mais e mais desenvoltos, vão-se mantendo em equilíbrio de
forças, a liberdade e a democracia permitindo a coexistência das variantes, os
alertadores de opinião contribuindo para o equilíbrio, os conceitos bíblicos e
outros sobre o Bem e o Mal continuando a vigorar como maior ou menor solidez,
as divergências e as similitudes entre uns e outros tornando mais viva a festa
da vida, permitindo mesmo que o passado retorne nos seus escritos que a própria
internet faculta e a televisão e outros meios de comunicação propiciam. Quanto
à mudança, é tema antigo, por tantos apontado, que Camões estilizou:
«Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.»
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.»
Quinta-feira, 6 de Agosto de 2015
CULTURA
DA MUDANÇA ENTRE SONHO E LIBERDADE
A
alta tecnologia promete sonho mas consome liberdade .Tudo e todos têm de mudar.
Encontramo-nos
num processo de desenvolvimento em que o pensar linear será substituído pelo
global e em que consequentemente as visões da realidade a-perspectiva
substituirão paulatinamente as actuais visões e equacionamentos lineares da
realidade.
Passaremos do tenho razão para o temos razão,
atendendo à consciencialização da complementaridade dos diferentes biótopos da
natureza, da complementaridade dos diferentes biótopos culturais e da
complementaridade dos diferentes sistemas de pensamento e à fragilidade da
formação da opinião regulada por monopólios globais. A estratégia que se encontra
por trás desta mundivisão aproxima também a linguagem e metáforas de mitos e
religiões às expressões e concepções científicas.
Iphone, automóveis com propulsão própria,
drones usados no comércio como serviço de entrega, robôs inteligentes, etc. parecem
substituir cada vez mais o Homem reduzindo-o ao papel de espectador. A alta
tecnologia promete o sonho à custa da liberdade. O exercício do
pensamento passa para os computadores e a força revolucionária parece ter
passado para a técnica e o trabalho manual é cada vez mais substituído pela
produção mecânica. Tudo isto
está a provocar uma mudança radical das nossas impostações éticas, da nossa
maneira de pensar e agir. É o que se observa e sente hoje que nos encontramos
em pleno epicentro da revolução Vale do Cilício: uma revolução que quer tornar
possível a felicidade individual realizada através dos padrões de grandes
monopólios anónimos à margem de democracias, das culturas e das religiões.
Aristóteles diria hoje em termos portugueses: ”nem tanto ao mar nem tanto à
terra”.
Aos industriais e aos barões do petróleo
sucederam-se os Bancos e os Gestores de fundos Hedge. Actualmente encontra-se
em via de realização a era da revolução digital – com os génios dos
computadores e das altas tecnologias.
Antes os líderes contentavam-se com o poder
da riqueza depois passou-se ao poder do dinheiro. Hoje os líderes do
mundo (protótipo Silicon Valley na Califórnia) querem mais; aspiram a
determinar não só o que consumimos mas também a maneira como consumismos e como
vivemos juntando na mesma mão (ou organização) o ideário, a economia, a
ideologia e a produção numa Agenda bem definida. A nova ideologia-praxia é tentadora porque
sabe empregar também a linguagem e as metáforas das religiões e das
literaturas.
Religiões e outras instituições abertas aos
sinais dos tempos terão de estar atentas às suas estratégias! Delas poderão
aprender muito em termos de resposta ao globalismo.
No
princípio era a fé em Deus, depois veio a fé no dinheiro e agora experimenta-se
a fé na mensagem da Alta Tecnologia como doutrina de salvação, que transfere a
esperança para a perspectiva das possibilidades infinitas da tecnologia! (Já há pessoas que se deixam congelar para serem descongeladas na
altura em que a técnica tenha descoberto soluções para a morte – uma ilusão que
desconhece a realidade do ser criado ou da matéria mas que como utopia dá
resposta, à sua maneira, a necessidades do ser humano). Para os
apóstolos da nova mensagem, os estados, as religiões, as filosofias tornam-se
em empecilhos de progresso.
Fixados na sua
filosofia que de forma eclética se serve da ciência e da religião como
expressão da necessidade humana, elaboram um sistema de ortodoxo-praxia
orientada pelo desejo criativo que se realiza na inovação. Reduz-se o
ser a uma determinada forma de estar na vida. A ideologia substitui cada
vez mais as soluções práticas passando muitos projectos a ser efectuados
segundo os óculos da ideologia e do momento.
No princípio era a fé em Deus que se
encontrava no âmago do Homem. Hoje é a fé na tecnologia que já não se encontra
dentro do homem, dependendo só dele e ao não fazer parte do seu centro corre
perigo de o alienar totalmente.
A filosofia da alta tecnologia (economia
digital) incorpora nela também Marx e Engels definindo o alienante como aquilo
que nos tira do tempo, do concreto; assim se reduz a pessoa à materialidade
que se esgota na actividade produtiva que é ao mesmo tempo fonte da
consciência; por outro lado considera a religião, Deus e o dinheiro como
factores alienantes que nos desviam da realidade material. A nova fé encontra
no Joga e em exercícios semelhantes uma maneira de estar prática e de subjugar
instâncias metafísicas.
A
nova alienação prende a consciência humana à sua mera actividade. O produto é a
luz da vela que resulta da energia do trabalho e o indivíduo esvai-se nela. A ideologia moderna, que a todos parece
iluminar, aliena-nos com produtos conseguidos à custa da desumanização das
pessoas reduzidas a mercadoria numa “metafísica” bruta construída, como no caso
da vela, a partir da relação produto-consumidor. Aqui dá-se a identificação do
indivíduo com o seu destino; tudo é reduzido a indivíduo saído da materialidade
para se consumir na materialidade. A promessa do desenvolvimento infinito
alimenta a nova alienação do indivíduo que ao ser reduzido a produto passa a
ser consumido na ilusão do que consome. A relação entre produtor-produto e
consumidor passa a ser a utilização, o imediato. A teoria da alienação em Marx,
para ser consequente reduziria o Homem a mera biologia animal irracional. De
facto, o pensamento, na sua qualidade de abstracto, seria na sua essência uma
alienação. Para ser consequente o pensamento marxista e da aliança
capitalismo-marxismo teriam então de declarar o fim do pensamento.
Continua no próximo artigo sob o título “O
VALE DO SILÍCIO (Silicon Valley) E A ESCOLA DE SAGRES – MITOS DA
SUSTENTABILIDADE”
António
da Cunha Duarte Justo
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