Diário de Notícias, Agosto, dia 9 de2015
Escreveu
Haris Blix,
«Chegou a hora de banir a bomba”,
E
historiou,
De
forma não cómica,
O
ex-director da AIEA
-
Agência Internacional da Energia Atómica :
«Chegou a hora de banir a bomba”. Pim!
Mas
a bomba prolifera, a nuclear,
Sem
parar.
Não,
não se trata do Big-Bang inicial,
Capital,
segundo consta
Na
explicação da Criação.
Era
ainda o Nada
Que
ninguém define.
Depois
foi a explosão
E
o chuto e a irradiação.
E
a vida surgiu, em beleza e perversão.
E
a Razão povoou o mundo
-
Pelo menos este nosso –
De
explicação,
E
incompreensão,
No
meio das maravilhas
E
das tristezas em profusão.
Mas
a Bomba tombou
Em
Hiroshima e Nagasaki
Da
nossa estupidificação.
E
a Bomba irá tombar
Sem
mais paixão,
Quando
o Homem insaciável,
Igual
a Deus na Criação,
Não
tiver mais mão
Na
arrogância do seu poder,
Na
demonstração de que é o melhor
Na
ambição de dominar,
Embrutecido
de a si se crer
A
todos tão superior
Que
não se importa de cair
Na
armadilha do seu tolo ardor.
«Chegou
a hora de banir a bomba”: PIM!
Mas
ninguém vai crer.
Porque
a Bomba que tomba e reduz a tumba
O
mundo criado de um Big-Bang
Inicial
De
violência tamanha mas sem artimanha,
Ninguém
crê que reflua
Pelo
mundo fora
Como
onda do mar que se desfaça
Bem
longe da hora
De
generalizar
Em
bomba que tomba sem se anunciar,
Mais
todos os advérbios de lugar,
AQUI,
ALI, ACOLÁ, ALGURES,
Ou
os de tempo: HOJE, AMANHÃ, JÁ, AGORA
Sem
os de dúvida: TALVEZ…
Ou
os de negação: NÃO!
Mas
os de Afirmação, SIM!
Chegou a Hora de banir a Bomba, PIM
Que
faz de nós tumba,
Neste
samba
De
um destino de sombra,
De
um triste fim
Que
definitivamente
É
indecente.
Morra
a BOMBA! PUM!
Vejamos
o texto deste contexto:
«Chegou a hora de banir a bomba»
por
HANS BLIX, ex-diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica, 9
agosto 2015
«O acordo nuclear entre o Irão, os cinco membros
permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, a Alemanha e a UE vem
no momento histórico certo.
Faz setenta anos que as bombas atómicas lançadas sobre Hiroxima e Nagasaki
abriram o capítulo mais negro da longa história de horrores de guerra da
humanidade. Ao fogo, às balas e às baionetas juntava-se agora a radiação
nuclear - um assassino silencioso e invisível como o gás e os agentes
biológicos.
Após a Primeira Guerra Mundial, a comunidade
internacional adotou o chamado Protocolo do Gás, para proibir o uso de
armas químicas e bacteriológicas. Da mesma forma, a insistência na proibição
de qualquer uso de armas nucleares tem sido forte e persistente desde o fim da
Segunda Guerra Mundial.
Mas os Estados que possuem armas nucleares sempre se
opuseram a essa proibição, argumentando que não seria credível. Em vez disso
recomendaram uma abordagem passo a passo que acabaria por levar a uma proibição
da posse e produção de armas nucleares. Afinal, a mesma abordagem levou a que
existam hoje limites rigorosos no que respeita a armas biológicas e químicas.
No entanto, 70 anos depois de Hiroxima e Nagasaki, a
abordagem gradual falhou claramente. Durante a Guerra Fria, o número
total de armas nucleares no mundo subiu para mais de 50 mil. Muitas,
incluindo as bombas de hidrogénio, tinham uma potência explosiva de uma ordem
de magnitude superior às bombas lançadas sobre o Japão.
Foram acordadas algumas medidas para reduzir o perigo
nuclear: acordos bilaterais de controlo de armas entre os Estados Unidos e a
União Soviética, restrições ao teste de novas armas e, acima de tudo, o Tratado
de Não-Proliferação. O objetivo do TNP, assinado em 1968, é a eliminação
universal das armas nucleares: os Estados sem armamento nuclear
comprometem-se a não o adquirir e os cinco Estados que o possuem
oficialmente (EUA, Reino Unido, França, China e Rússia) comprometem-se a
levar a cabo negociações sobre desarmamento.
Mas a ameaça global nunca diminuiu muito. Na verdade,
a primeira parte do TNP tem tido algum sucesso: desde que o tratado entrou em
vigor, apenas quatro Estados - Índia, Israel, Coreia do Norte e Paquistão
- desenvolveram armas nucleares. A África do Sul eliminou as suas armas
nucleares e tornou-se um dos parceiros do TNP, enquanto a Ucrânia, a
Bielorrússia e o Cazaquistão transferiram os seus arsenais nucleares para a
Rússia. Dois Estados - Iraque e Líbia - foram impedidos de desenvolver
armas nucleares e agora o Irão, um dos parceiros do tratado, comprometeu-se a
respeitar as restrições significativas ao seu programa nuclear.
E, contudo, o compromisso relativo ao desarmamento dos
cinco Estados com armas nucleares teve resultados muito limitados. Os
arsenais nucleares foram reduzidos - principalmente por razões económicas -
após a Guerra Fria, para menos de 20 mil armas nucleares no mundo (ainda o
suficiente para destruir a humanidade várias vezes). E o novo acordo START
de 2010 trouxe maiores e bem-vindos limites para o número de armas nucleares
desenvolvidas pelos EUA e pela Rússia. Mas, desde então, não foram feitas
quaisquer negociações sérias sobre desarmamento.
Além disso, esperava-se que o pequeno número de armas
nucleares não estratégicas da NATO localizadas na Europa pudesse ser retirado
para os EUA, pois o consenso geral dizia que elas eram militarmente inúteis. A
sugestão era que, ao fazê-lo, a Rússia poderia ser levada a retirar as suas
próprias armas nucleares táticas. Nenhuma das coisas foi feita.
Da mesma forma, a esperança de que o Tratado de
Interdição Completa de Ensaios Nucleares (TICEN), aceite em 1996, se tornasse
vinculativo não se concretizou. Existe uma moratória sobre tais testes e foi
criado um impressionante mecanismo de monitorização, capaz de registar não só
testes de armas, mas também terramotos e tsunamis. Contudo, e porque oito
países, incluindo os EUA e a China, não o ratificaram, o TICEN ocupa um submundo
jurídico: pode dizer-se que está operacional, mas não em vigor.
Em vez de assistir ao desarmamento nuclear, o mundo
está a testemunhar uma renovação e, em alguns casos, a expansão dos arsenais
nucleares. Há pouca esperança de alguma mudança para melhor, a menos que os
membros permanentes do Conselho de Segurança concluam que a sua própria
segurança requer o retomar do desanuviamento entre si e o lançamento de
negociações sérias sobre o desarmamento, tal como prometido. Eles mostraram a
sua vontade de agir para restringir a aquisição de armas de destruição em massa
por outros países. Agora é tempo de se restringirem a eles próprios.
Claro que, assim como alguns países se recusam a
aderir às convenções que proíbem bombas de fragmentação e minas terrestres, os
Estados dotados de armas nucleares não irão aderir a uma convenção que proíbe
os seus arsenais. Contudo, a existência de um tal tratado pode servir como um
lembrete constante do que é esperado deles. Só por essa razão, ele deve
tornar-se uma prioridade internacional.
Durante a Guerra Fria, muitas pessoas temiam que a
humanidade pudesse cometer suicídio abruptamente, ao desencadear uma guerra
nuclear. Hoje, possivelmente existem mais pessoas preocupadas com o facto de
a humanidade poder sofrer uma morte mais prolongada através do aquecimento
global. Mas o perigo nuclear continua a estar presente e grupos como o Global
Zero merecem o nosso apoio aos seus esforços para sensibilizar a opinião
pública.
Tem sido dito que Hiroxima e Nagasaki criaram um tabu
contra qualquer uso de armas nucleares. Esperemos que sim, mas vamos exigir
também que o tabu seja juridicamente vinculativo.
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