Texto
de Salles da Fonseca, no «A Bem da Nação”:
E O PRÍNCIPE DE ORANGE?
Há dias,
perguntei quem era o Príncipe de Orange e logo fui incentivado a responder à
minha própria pergunta pois o texto nada dizia sobre o «mistério».
E a
resposta tanto pode ser estranha como ambígua. Estranha porque se trata de um
Rei que assume o título de Príncipe; ambígua porque não há um único Príncipe de
Orange mas sim muitos ao longo da História. Sim, os Reis da Holanda
intitulam-se Príncipes e, como tal, sempre que um morre lá vem outro que se lhe
segue.
Mas eu
referia-me ao que nomeou Maurício de Nassau para Governador do Brasil Holandês
na época em que estávamos dominados pelos reis espanhóis e em que o nosso
Império ficou entregue à bicharada.
E quase
me apetece contar a história às avessas, da frente para trás, pois os
holandeses decidiram tomar conta do Império Português por incitamento da
poderosíssima colónia de judeus portugueses refugiados na Holanda e, mais
especificamente, em Amesterdão. E como aos holandeses isso muito lhes apetecia,
juntou-se assim a fome com a vontade de comer.
Escorraçados
que tinham sido de cá no tempo de D. Manuel I, os judeus estavam com pena da
perda do nosso Império a favor de ninguém ou, marginalmente, de quem o
desprezava, os espanhóis. A política filipina de quase abandono desses
territórios de além-mar tinha como principal objectivo o enfraquecimento da
Nação portuguesa que eles queriam dominar no âmbito da sua perene sofreguidão
iberista. Portugal construíra um Império para ganhar dimensão que lhe
permitisse sobreviver ao sôfrego e poderoso vizinho, havia que lhe sonegar esse
Império para que perdesse força e pudesse ser dominado. Os holandeses que
tomassem conta de tudo que quisessem.
E se o
quiseram, não perderam tempo a fazê-lo por ordem de Frederico Henrique, o então
Príncipe reinante, ou seja, o rei da Holanda.
Filho
mais novo de Guilherme, o taciturno, nascido do seu quarto casamento com Luísa
de Coligny, Frederico Henrique (29 de Janeiro 1584 - 14 de Março de
1647), foi no seu reinado que Maurício de Nassau foi nomeado administrador dos
domínios brasileiros conquistados pela Companhia Holandesa das Índias
Ocidentais (WIC) recebendo uma ajuda de custo de 6.000 florins e salário mensal
de 1.500 florins (salário a todos os títulos perfeitamente principesco), o
soldo de Coronel do Exército, além de uma participação de 2% sobre os lucros.
Corriam ainda por conta da WIC as despesas de mesa e criadagem (dezoito
criados), os salários do predicante Francisco Plante, do médico e do
secretário.
Maurício
prestou juramento em 4 de Agosto de 1636 como Governador, Almirante e
Capitão-General dos domínios conquistados e a conquistar no Brasil para um
mandato de cinco anos.
Chegada
ao Recife
Começariam
no embarque alguns dos motivos de sua frustração pois em vez da armada
prometida de trinta e duas velas e sete mil homens de armas, a WIC armou apenas
doze navios com dois mil e setecentos homens.
A armada
partiu da Holanda em 25 de Outubro de 1636 e chegou ao Recife em 23 de Janeiro
de 1637.
Estabelecidas
relações amistosas entre holandeses, comerciantes e latifundiários, estes
restauraram os engenhos com empréstimos concedidos pela WIC, compraram a
crédito (da própria WIC, claro) os engenhos abandonados e assim se restabeleceu
em pleno a economia açucareira.
Instituída
a liberdade de culto das várias Igrejas cristãs e do Judaísmo, sentiram-se os
judeus e os protestantes na «Nova Holanda» libertos do pesadelo inquisitorial
de que eram vítimas na Europa e em especial na Península Ibérica. Foi então
fundada no Recife uma sinagoga que é hoje considerada a mais antiga das
Américas.
Decidido
a transformar o Recife numa capital moderna, mandou projectar Mauritsstat [1]
(donde resultam os actuais traçados urbanísticos dos bairros de Santo António e
São José), drenou terrenos, construiu canais, diques e pontes; mandou também
construir o jardim botânico e o jardim zoológico, um museu natural e um
observatório astronómico; organizou serviços públicos essenciais tais como o de
bombeiros e o de recolha de lixo.
Consolidação
da conquista
Assim que
chegou ao Brasil, Nassau passou imediatamente à ofensiva contra a tropa
luso-espanhola e marchou até ao rio São Francisco aí assentando o limite
meridional do Brasil Holandês.
Favorável
a uma oferta abundante de escravos africanos, em 1637 enviou uma expedição
naval que conquistou o Forte de São Jorge da Mina, em África (no dia 28 de
Agosto).
Retrocesso
A
possessão portuguesa da Mina foi colocada sob o controle do Recife, mas a sua
conquista não correspondeu às expectativas económicas holandesas, já que o
escravo da Guiné era reputado pelos próprios portugueses como inferior ao de
Angola. Rapidamente a Mina se mostrou desinteressante para a estratégia de
Nassau. Seguiu-se o abandono.
Perdendo
rapidamente a ilusão de que o rio São Francisco ofereceria protecção natural ao
Brasil Holandês, ficou claro que, enquanto o Recife permanecesse em mãos
holandesas e a Bahia em mãos portuguesas, nenhum dos dois lados poderia
sentir-se verdadeiramente seguro.
Até que…
com o Santíssimo exposto, o Padre António Vieira proferiu na igreja de Nossa
Senhora da Ajuda, na Bahia, no ano de 1640 o sermão «Polas armas de Portugal
contra as de Holanda», ameaçando deixar Deus se ele deixasse o Brasil continuar
entregue aos holandeses.
Empolgados
com esta mensagem, os portugueses fizeram a chamada “Revolta pernambucana” e
expulsaram definitivamente os holandeses do Brasil. Corria Maio de 1644.
Regressado
à Europa, Maurício de Nassau foi dispensado pela WIC e regressou à sua Alemanha
natal tomado de grande melancolia. Não houve honras que o libertassem da
depressão profunda até que morreu. Era o dia 20 de Dezembro de 1679.
Reparo
agora que pouco ou nada disse sobre Frederico Henrique, Príncipe de Orange.
Terá ele feito alguma coisa que mereça nota?
Com
o desafio da pergunta final, já de uma crónica anterior – “Quem foi o
Príncipe de Orange?», de 15/8, eu já fora à Internet procurar a resposta,
mas jamais me disporia a usar o tom de displicência sorridente relativamente a
Maurício de Nassau, depois de tantos elogios que lá colhi a respeito daquele,
que modernizou o espaço brasileiro em que governou e me deu a mim o sentimento
de inferioridade que nos é comum, quando comparamos as colonizações – nossa e
saxónica ou gaulesa – estas sempre mais apetrechadas em termos de desenvolvimento
social e de espaço, como o comprovam as nações que construíram.
O
Dr. Salles defende patrioticamente o nosso estar no mundo – aguerridos, sim,
mesmo esfarrapados que estejamos, sem
receio de com isso perturbar as relações luso-castelhanas - e indica a
peça-chave para a resposta portuguesa, após a Restauração libertadora da
dependência espanhola: o «Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal
contra as de Holanda», do
Padre António Vieira,
que inspirou zelos
e orgulhos nacionais, abatidos durante sessenta anos.
O desafio continua, em torno do
Príncipe de Orange – Frederico Henrique entre outros – mas enquanto esperamos
pela nova crónica, nesta técnica de suspense a sugerir os esquemas da
Sherazade, transcrevo alguns períodos do Sermão de Vieira, que transpus da
Internet, confirmativos do zelo patriótico desse extraordinário defensor de
causas, humanitárias ou outras, na sua vida de dinamismo e na sua arte oratória
inimitável.
Dividido em 5 capítulos, com
exórdio, exposição/confirmação e peroração ou epílogo, dele retiro alguns
parágrafos justificativos das palavras humorísticas de Salles da Fonseca: « Até que…
com o Santíssimo exposto, o Padre António Vieira proferiu na igreja de Nossa
Senhora da Ajuda, na Bahia, no ano de 1640 o sermão «Polas armas de Portugal
contra as de Holanda», ameaçando deixar Deus se ele deixasse o Brasil continuar
entregue aos holandeses.»:
« Esta é,
Todo-Poderoso e Todo-Misericordioso Deus, esta é a traça de que usou (David)
para render vossa piedade, quem tanto se conformava com vosso coração. E desta
usarei eu também hoje, pois o estado em que nos vemos, mais é o mesmo que
semelhante. Não hei de pregar hoje ao povo, não hei de falar com os homens;
mais alto hão de sair as minhas palavras ou as minhas vozes: a vosso peito
divino se há de dirigir todo o sermão.» (Exórdio, I)
«Muita razão
tenho eu logo, Deus meu, de esperar que haveis de sair deste sermão
arrependido, pois sois o mesmo que éreis, e não menos amigo agora, que nos
tempos passados, de vosso nome: Propter nomen tuum. Moisés disse-vos: Ne,
quaeso, dicant: "Olhai, senhor, que dirão." E eu digo e devo dizer: Olhai,
senhor, que já dizem. Já dizem os hereges insolentes com os sucessos prósperos,
que vós lhes dais ou permitis: já dizem que porque a sua, que eles chamam
religião, é a verdadeira, por isso Deus os ajuda e vencem; e porque a nossa é
errada e falsa, por isso nos desfavorece e somos vencidos. Assim o dizem, assim
o pregam, e ainda mal, porque não faltará quem os creia. Pois é possível,
Senhor, que hão de ser vossas permissões argumentos contra vossa Fé? É possível
que se hão de ocasionar de nossos castigos blasfémias contra vosso nome?! Que
diga o herege (o que treme de o pronunciar a língua), que diga o herege, que
Deus está holandês?! Oh não permitais tal, Deus meu, não permitais tal, por
quem sois! Não o digo por nós, que pouco ia em que nos castigásseis; não o digo
pelo Brasil, que pouco ia em que o destruísseis; por vós o digo e pela honra de
vosso Santíssimo Nome, que tão imprudentemente se vê blasfemado: Propter nomen
tuum. Já que o pérfido calvinista dos sucessos que só lhe merecem nossos
pecados faz argumento da religião, e se jacta insolente e blasfemo de ser a sua
verdadeira, veja ele na roda dessa mesma fortuna, que o desvanece, de que parte
está a verdade. Os ventos e tempestades, que descompõem e derrotam as nossas
armadas, derrotem e desbaratem as suas; as doenças e pestes, que diminuem e
enfraquecem os nossos exércitos, escalem as suas muralhas e despovoem os seus
presídios, os conselhos que, quando vós quereis castigar, se corrompem, em nós
sejam alumiados e neles enfatuados e confusos. Mude a vitória as insígnias,
desafrontem-se as cruzes católicas, triunfem as vossas chagas nas nossas
bandeiras, e conheça humilhada e desenganada a perfídia, que só a Fé romana,
que professamos, é Fé, e só ela a verdadeira e a vossa. »(Exposição, II)
«Considerai,
Deus meu – e perdoai-me, se falo inconsideradamente – considerai a quem tirais
as terras do Brasil e a quem as dais. Tirais estas terras aos portugueses a
quem nos princípios as destes; e bastava dizer a quem as dais, para perigar o
crédito de vosso nome, que não podem dar nome de liberal mercês com
arrependimento. Para que nos disse S. Paulo, que vós, Senhor, "quando
dais, não vos arrependeis": Sine paenitentia enim sunt dona Dei? Mas
deixado isto à parte: tirais estas terras àqueles mesmos portugueses a quem
escolhestes entre todas as nações do Mundo para conquistadores da vossa Fé, e a
quem destes por armas como insígnia e divisa singular vossas próprias chagas. E
será bem, Supremo Senhor e Governador do Universo, que às sagradas quinas de Portugal
e às armas e chagas de Cristo, sucedam as heréticas listas de Holanda, rebeldes
a seu rei e a Deus? Será bem que estas se vejam tremular ao vento vitoriosas, e
aquelas abatidas, arrastadas e ignominiosamente rendidas? Et quid facies magno
nomini tuo? E que fareis (como dizia Josué) ou que será feito de vosso glorioso
nome em casos de tanta afronta? Tirais também o Brasil aos portugueses, que
assim estas terras vastíssimas, como as remotíssimas do Oriente, as
conquistaram à custa de tantas vidas e tanto sangue, mais por dilatar vosso
nome e vossa Fé (que esse era o zelo daqueles cristianíssimos reis) que por
amplificar e estender seu império. Assim fostes servido que entrássemos nestes
novos mundos, tão honrada e tão gloriosamente, e assim permitis que saiamos
agora (quem tal imaginaria de vossa bondade!), com tanta afronta e ignomínia!
Oh! como receio que não falte quem diga o que diziam os egípcios: Callide
eduxit eos, ut interficeret et deleret e terra. Que a larga mão com que nos
destes tantos domínios e reinos não foram mercês de vossa liberalidade, senão
cautela e dissimulação de vossa ira, para aqui fora e longe de nossa Pátria nos
matardes, nos destruirdes, nos acabardes de todo. Se esta havia de ser a paga e
o fruto de nossos trabalhos, para que foi o trabalhar, para que foi o servir,
para que foi o derramar tanto e tão ilustre sangue nestas conquistas? Para que
abrimos os mares nunca dantes navegados? Para que descobrimos as regiões e os
climas não conhecidos? Para que contrastamos os ventos e as tempestades com
tanto arrojo, que apenas há baixio no Oceano, que não esteja infamado com
miserabilíssimos naufrágios de portugueses? E depois de tantos perigos, depois
de tantas desgraças, depois de tantas e tão lastimosas mortes, ou nas praias
desertas sem sepultura, ou sepultados nas entranhas dos alarves, das feras, dos
peixes, que as terras que assim ganhamos, as hajamos de perder assim? Oh!
quanto melhor nos fora nunca conseguir, nem intentar tais empresas!»
(Exposição,
III)
«Bem
vejo que me podeis dizer, Senhor, que a propagação de vossa Fé e as obras de
vossa glória não dependem de nós, nem de ninguém, e que sois poderoso, quando
faltem homens, para fazer das pedras filhos de Abraão.
Mas
também a vossa sabedoria e a experiência de todos os séculos nos têm ensinado,
que depois de Adão não criastes homens de novo, que vos servis dos que tendes
neste Mundo, e que nunca admitis os menos bons, senão em falta dos melhores.
Assim o fizestes na parábola do banquete. Mandastes chamar os convidados que
tínheis escolhido, e porque eles se escusaram e não quiseram vir, então
admitistes os cegos e mancos, e os introduzistes em seu lugar: Caecos et
claudos introduc huc. E se esta é, Deus meu, a regular disposição de vossa
providência divina, como a vemos agora tão trocada em nós e tão diferente
connosco? Quais foram estes convidados e quais são estes cegos e mancos? Os
convidados fomos nós, a quem primeiro chamastes para estas terras, e nelas nos
pusestes a mesa, tão franca e abundante, como de vossa grandeza se podia
esperar. Os cegos e mancos são os luteranos e calvinistas, cegos sem fé e
mancos sem obras, na reprovação das quais consiste o principal erro da sua
heresia. Pois se nós, que fomos os convidados, não nos escusamos nem duvidamos
de vir, antes rompemos por muitos inconvenientes em que pudéramos duvidar; se
viemos e nos assentamos à mesa, como nos excluís agora e lançais fora dela e
introduzis violentamente os cegos e mancos, e dais os nossos lugares ao herege?
Quando em tudo o mais foram eles tão bons como nós, ou nós tão maus como eles,
por que nosnão há de valer pelo menos o privilégio e prerrogativa da fé? Em
tudo parece, Senhor, que trocais os estilos de vossa providência e mudais as
leis de vossa justiça connosco.» (Exposição/Confirmação, IV)
«Mas
não sei que tempos, nem que desgraça é esta nossa, que até a mesma inocência
vos não abranda. Pois também a vós, Senhor, vos há de alcançar parte do castigo
(que é o que mais sente a piedade cristã), também a vós há de chegar. Entrarão
os hereges nesta igreja e nas outras; arrebatarão essa custódia, em que agora
estais adorado dos anjos; tomarão os cálices e vasos sagrados, e aplicá-los-ão
a suas nefandas embriaguezes; derrubarão dos altares os vultos e estátuas dos
santos, deformá-las-ão a cutiladas, e metê-las-ão no fogo; e não perdoarão as
mãos furiosas e sacrílegas nem às imagens tremendas de Cristo crucificado, nem
às da Virgem Maria…
Senhor,
despojados assim os templos e derrubados os altares, acabar-se-á no Brasil a
cristandade católica; acabar-se-á o culto divino; nascerá erva nas igrejas,
como nos campos; não haverá quem entre nelas. Passará um dia de Natal, e não
haverá memória de vosso nascimento; passará a Quaresma e a Semana Santa, e não
se celebrarão os mistérios de vossa Paixão. Chorarão as pedras das ruas, como
diz Jeremias que choravam as de Jerusalém destruída: Viae Sion
lugent, eo quod non sint qui veniant ad solemnitatem. Ver-se-ão ermas e
solitárias, e que as não pisa a devoção dos fiéis, como costumava em
semelhantes dias. Não haverá missas, nem altares, nem sacerdotes que as digam; morrerão os
católicos sem confissão nem sacramentos; pregar-se-ão heresias nestes mesmos
púlpitos, e em lugar de São Jerónimo e Santo Agostinho, ouvir-se-ão e
alegar-se-ão neles os infames nomes de Calvino e Lutero; beberão a falsa
doutrina os inocentes que ficarem, relíquias dos portugueses;e chegaremos a
estado que, se perguntarem aos filhos e netos dos que aqui estão: – Menino, de
que seita sois? Um responderá: – Eu sou calvinista; outro: – Eu sou luterano. Pois
isto se há de sofrer, Deus meu? Quando quisestes entregar vossas ovelhas a São
Pedro, examinaste- lo três vezes se vos amava: Diligis me, diligis me, diligis
me? E agora as entregais desta maneira, não a pastores, senão aos lobos?! Sois
o mesmo, ou sois outro? Aos hereges o vosso rebanho? Aos hereges as almas? Como
tenho dito, e nomeei almas, não vos quero dizer mais. Já sei, Senhor, que vos
haveis de enternecer e arrepender, e que não haveis de ter coração para ver
tais lástimas e tais estragos. E se assim é (que assim o estão prometendo
vossas entranhas piedosíssimas), se é que há de haver dor, se é que há de haver
arrependimento depois, cessem as iras, cessem as execuções agora, que não é
justo vos contente antes o de que vos há de pesar em algum tempo. (Exposição/Confirmação,
IV)
«Finalmente,
benigníssimo Jesus, verdadeiro Josué e verdadeiro Sol, seja o epílogo e
conclusão de todas as nossas razões o vosso mesmo nome: Propter nomen tuum. Se
o Sol estranha a Josué rigores de mais de um dia, e Josué manda calar o Sol,
porque lhos não estranhe; como pode estranhar vossa divina justiça que useis
connosco de misericórdia, depois da execução de tantos e tão rigorosos castigos
continuados, não por um dia ou muitos dias de doze horas, senão por tantos e tão
compridos anos, que cedo serão doze? Se sois Jesus, que quer dizer Salvador,
sede Jesus e sede Salvador nosso. Se sois Sol e Sol de justiça, antes que se
ponha o deste dia, deponde os rigores da vossa. Deixai já o signo rigoroso de
Leão, e dai um passo ao signo de Virgem,
signo propício e benéfico. Recebei influências humanas, de quem recebestes a
humanidade. Perdoai-nos, Senhor, pelos merecimentos da Virgem Santíssima.
Perdoai- nos por seus rogos, ou perdoai- nos por seus impérios; que, se como
criatura vos pede por nós o perdão, como Mãe vos pode mandar e vos manda que
nos perdoeis. Perdoai- nos, enfim, para que a vosso exemplo perdoemos; e
perdoai-nos também a exemplo nosso, que todos desde esta hora perdoamos a todos
por vosso amor: Dimitte nobis debita nostra, sicut et nos dimittimus
debitoribus nostris. Amen.» (Peroração
ou Epílogo, V)
(Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal
contra as de Holanda 21 Biblioteca Online de Ciências da Comunicação)
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