terça-feira, 20 de junho de 2017

Informemo-nos, comparemos, envergonhemo-nos


O que se passa por cá, parecer de alguém que discorda de um desacato à cultura. O que se passa lá fora – especificamente nos EUA, em Boston, texto de A. Barreto - sem a magnífica foto que o comentário regista, de um amplo edifício com estantes e mesas e cadeiras e muita luz. Uma Companhia Nacional de Bailado que parece preterir o Bailado clássico a favor de uma orientação modernista inadequada, segundo Manuel Sousa Coelho, num desrespeito inconcebível pelas regras, que este bem aponta, e justificam o nosso posicionamento cultural sempre na cauda dos outros povos, e nem sequer só europeus. Em Boston, uma enorme Biblioteca, chamariz dos espíritos curiosos de conhecer e conviver com os escritores do mundo inteiro, com mesas e cadeiras à disposição, ou podendo requisitá-los para ler fora. Os textos são claros e precisos, numa ânsia construtiva de crítica ou orientação pelo exemplo.
Mas um país que continua a enveredar por um AO absurdo, e que de vez em quando ergue uma voz dissidente a ver se pega, mas que logo a seguir esmorece porque não pegou, um país de matreirice e favoritismos, e decididamente votado a desafios mais de ordem materialista e pessoal, que recebe dinheiros de fora para proteger o país dos incêndios de dentro e todos os anos deixa consumir a sua floresta - e com ela os homens e os gados e demais bichinhos que povoam a natureza - por falta de real ordenamento territorial, talvez, ou interesses ocultos, ou desmazelo e incúria, dum povo votado às festas, até parece tolice este apego em transcrever os textos orientadores dos que transmitem estes factos graves, que os entristecem e indignam. A nós também entristecem e indignam.

Cartas ao director
Público, 11 de Junho de 2017
Manuel de Sousa Coelho

A CNB morreu! Viva a CNB!
Portugal está prestes a perder a única companhia de Dança Clássica profissional que possui! Sim! A Companhia Nacional de Bailado está prestes a transformar-se em mais uma companhia de dança contemporânea, passando a ter apenas um programa por ano de dança clássica.
Esta transformação está a ser levada a cabo de forma dissimulada pelo próprio director artístico da Companhia Nacional de Bailado, o coreógrafo Paulo Ribeiro. O mesmo Paulo Ribeiro que acabou com o Ballet Gulbenkian! O mesmo Paulo Ribeiro que tem a sua companhia de dança contemporânea: a Companhia Paulo Ribeiro.
Não deixa de ser estranho que um coreógrafo com toda a sua carreira virada para a Dança Contemporânea tenha ido dirigir uma companhia de Dança Clássica! Estaremos mais uma vez perante um caso de “a job for the boy”?
Tenho ouvido queixas de que Paulo Ribeiro tem tido uma postura pouco dialogante, como se a CNB fosse propriedade sua e são vários os bailarinos que o acusam de prepotência. A Companhia Nacional de Bailado é um serviço público cultural pago pelo contribuinte!
No tempo em que Luísa Taveira era directora da CNB havia um diálogo com os bailarinos, a directora explicava porque é que não podia fazer isto ou aquilo, ou porque é que o programa tinha que ser elaborado de determinada forma.
Esta transformação começou quando foi retirada a informação da página da CNB sobre os bailarinos da Companhia. Uma pequena alteração que passou despercebida. Passo seguinte: não foram renovados os contratos dos bailarinos que ainda não eram efectivos e que por acaso passariam agora a sê-lo!
O próximo passo muito provavelmente (só pode mesmo ser!) será contratar novos bailarinos e uma vez que a CNB passará a ser essencialmente uma companhia de dança contemporânea, muito provavelmente serão bailarinos de dança contemporânea e… Lembram-se que Paulo Ribeiro tem uma companhia própria?
E o ministro da Cultura não faz nada? Será que o Sr. Ministro da Cultura está informado desta mudança de rumo da CNB? Se não está, é grave! Será que que o ministro da Cultura não se importa que Portugal perca a única companhia profissional de Bailado Clássico? Também é grave!
Será que não há aqui um conflito de interesses, tendo o director Paulo Ribeiro a sua própria companhia? Há de certeza e de forma descarada! Aliás, “à mulher de César não basta ser séria. Tem que parecê-lo”. E entretanto, de uma forma leviana e apenas pela vontade de uma única pessoa, o futuro, o emprego, a vida de diversos bailarinos é hipotecado e a já nossa pouca cultura clássica ainda vai ficar mais reduzida!
Um amante da Cultura entristecido,
Manuel de Sousa Coelho

As minhas fotografias
António Barreto
DN, 18/6/17
Sala de leitura da Biblioteca Pública de Boston
É uma das maiores e melhores bibliotecas públicas do mundo. Tem mais de 20 milhões de obras, incluindo livros, manuscritos, partituras, obras-primas de pintura, mapas e gravuras. Sem esquecer CD, DVD, jornais e revistas Foi fundada há quase duzentos anos. É uma biblioteca municipal aberta a toda a gente, estudantes e donas de casa, ricos e pobres, profissionais e sem-abrigo. Qualquer pessoa, sem controlo nem registo, pode entrar e frequentar a maior parte das salas. Como também é possível levar livros para ler em casa. É um exemplo perfeito do que pode ser uma biblioteca, eficiente, culta e acolhedora, onde se encontra um ambiente de quase felicidade, feito de silêncio e trabalho, onde se aprende e pensa. Há certamente outros sítios, como uma sala de música, um jardim ou um templo, onde o espírito está de acordo com os sentidos. Mas a serenidade de uma biblioteca é insuperável.


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