O amor foi em todos os tempos apreciado como
expoente máximo da realização humana, em todos os tempos ele suscitou a adesão
das sensibilidades, quer dos poetas, que a ele reservaram o melhor dos seus
arroubos e das suas competências líricas, quer dos dramaturgos e dos
romancistas que por via da sua arte promoveram esse sentimento ao motor de arranque
de quantos enredos deleitaram a humanidade, fazendo-a “ir às lágrimas”,
para utilizarmos uma pujante expressão de Herman, ou a outras manifestações da
sua natureza biológica, de maior ou menor sensualidade, de maior ou menor riso,
de maior ou menor compaixão, de maior ou menor êxtase ou emotividade. O mesmo
se passa na banalidade existencial de cada ser humano, que sente o amor como seu,
definitivo, avassalador, exclusivo.
Quanto
à corrupção, é sobretudo pela sátira que literariamente se revela, o escritor
bem demarcado do percurso daqueles que a sua pena elege como dignos da sua
crítica, intocável, como o são todos os que nas assembleias desmascaram, com a
autoridade dos puros, os que têm por dever dirigir, ou os de facções opostas.
Mas estes, que assim atacam, incitando à greve e às manifestações, talvez se
acanhem nestas, quando se fala em “deitar abaixo a corrupção”, onde
poderão também espojar-se escusamente.
Daí
a justificação para as perplexidades semânticas de Miguel Esteves Cardoso, no
texto que me chegou por email, “Direito à manifestação”, cuja adesão se
faz sentir mais na defesa do amor do que no ataque à corrupção:
«Na
Europa, cada manifestação do orgulho Gay” contou, em média, com 100.000
pessoas. Cada manifestação contra a corrupção teve em média cerca de 2500
pessoas! Estatisticamente fica provado que há mais gente a lutar pelo direito
de levar no rabo do que a lutar para não ser enrabado.»
As
pessoas acodem mais depressa às manifestações sobre o direito ao amor, seja
qual for a forma que este assuma – e se for aberrante mais nos moderniza – do que
às da corrupção, que nos poderá incluir, pois já Cristo nos avisara sobre a
dificuldade de se achar os Galaazes da justiça, únicos competentes para lançar pedradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário