Um texto da história europeia, colhido no blog
“A bem da Nação”- “O Botão da Liberdade brotará
sempre de novo” de António da Cunha
Rego Duarte Justo, para guardar no meu blog:
«Faz 24
anos que o muro da vergonha, que separava a Alemanha Ocidental (BRD) da
Alemanha Oriental (DDR), caiu. Depois de várias odisseias e tragédias com os
cidadãos da DDR, a 9 de Novembro de 1989 o Comité político do Regime Socialista
da DDR, exausto, anunciou a abertura da fronteira. A tampa comunista, que
tapava a caldeira do sistema, rebenta, iniciando-se ondas de reacções em
catadupa. A resistência que se tinha formado em torno das igrejas e apoiada
pela BRD vence finalmente sob o slogan “Alemanha Pátria Unida”. Na Alemanha
Federal o objectivo da união tinha-se mantido de forma declarada nos partidos
cristãos CDU E CSU.
Um sistema
de pobres para pobres não pode aguentar o desenvolvimento do cidadão.
Finalmente este ganha: “Nós somos a Alemanha!”
A partir da abertura da
fronteira as demonstrações escalam de tal maneira que, em pouco tempo, provocam
a união das duas Alemanhas na Alemanha Federal Alemã. Mais precisamente: a
Alemanha Ocidental absorve a Alemanha oriental que se tinha tornado seu filho
pródigo. A democracia social vence o socialismo!
A 18 de
Março de 1990 dão-se as primeiras eleições livres na Alemanha socialista. Nelas
vence o partido da CDU (União de Cristãos Democratas). A 1 de Julho dá-se a
união monetária passando a haver apenas o Marco Alemão da Alemanha Ocidental. A
23 de Agosto de 1990 a Câmara Popular da Alemanha Oriental decidiu a adesão à
Alemanha Federal. A 31 de Agosto é assinado o tratado da união entre os
políticos dos dois Estados. A 1 de Outubro os países aliados da NATO reconhecem
a soberania alemã.
As datas e
os acontecimentos sucedem-se como que em competição. Helmut Kohl, “o chanceler
da unidade” esteve à altura da diplomacia necessária para tão grande obra. Isto
só de alemães!
Estes,
para tornarem a unidade efectiva criaram um imposto suplementar novo, o
“imposto da solidariedade” que corresponde a 5% dos impostos que cada cidadão
paga e é transferido para investimentos nas regiões correspondentes à Alemanha
de Leste. Esta, apesar dos biliões que continuamente se transferem, ainda não
conseguiu atingir o nível económico da antiga Alemanha Ocidental. O buraco
socialista não só se faz sentir no buraco económico como no buraco moral
trazido. Isto apesar do sistema de jardins infantis, de escolas e de saúde da
extinta DDR terem atingido alto nível no sistema socialista! A região actual
correspondente à antiga Alemanha de Leste (DDR) ainda se encontra cerca de 20%
em atraso em relação à do Ocidente (RFA).
Uma
sociedade de cidadãos alemães sofreu muito sob a imoralidade institucional dum
Estado injusto. Na antiga DDR (Alemanha democrática), aquando da divisão, foram
extintos os tribunais administrativos, não precisando as decisões
administrativas de ser fundamentadas; a justiça fora politicamente
instrumentalizada e partidizada como é boa prática socialista: o Poder tem
sempre prioridade perante o Direito. Como é costume em ditaduras e também em
democracias, as massas não pensam, subjugando-se normalmente ao Poder. Por isso
se compreende que apenas se tenha manifestado resistência pública a 17 de Junho
de 1953 e finalmente em 1989. Parte do povo não sente os aguilhões do Estado,
tal como nas sociedades democráticas. O cão que se mantém dentro da casota
ou que dorme não sente a corrente que o prende!
A Alemanha
apesar de unida ainda não conseguiu superar o trauma da sua divisão.
Actualmente, também em consequência do turbo-capitalismo, a esquerda radical
sente uma certa brisa a seu favor, o que se registou especialmente na parte da
república correspondente à antiga DDR. Não é irrelevante o facto de alguns
votantes de centro-direita usarem o voto socialista como chicote, numa
tentativa de levar o boi do capitalismo ao rego da democracia social e cristã.
Apesar da
consciência vigente na Alemanha de que o antigo sistema da DDR era um “Estado
injusto” manifesta-se em alguns cidadãos uma espécie de nostalgia branqueadora
do passado. Muitos contribuintes alemães da parte ocidental não conseguem
engolir tal atitude, depois de terem dispendido tanto e continuarem a
contribuir tanta para os alemães do outro lado!
Entretanto,
o que para uns é um Estado injusto pode para outros ser um Estado desejável.
Não há uma opinião verdadeira e outra falsa! O direito de avaliar é livre.
Na verdade
não há critérios seguros de avaliação que possibilitem uma comparação da
injustiça praticada num Estado de Direito com a injustiça praticada num Estado
ditatorial, porque neste a injustiça não pode ser atenuada pela opinião púbica,
visto neste não haver liberdade de imprensa. Por outro lado, nos Estado de
Direito publicam-se todos os males existentes, o que pode levar os cidadãos das
ditaduras a pensar que nos seus estados há menos violência. Na Alemanha
socialista não eram publicadas as condenações à morte do sistema, os
assassínios sexuais e muitos outras faltas menos exemplares que o aparelho
político censurava, o que poderá levar antigos cidadãos desta a julgar a
Alemanha Ocidental injustamente por se fixarem apenas nos seus males, atendendo
a uma informação demasiadamente fixada no negativo. Cada sistema tem os seus
vícios mas o democrático é o menos injusto de todos, pelo que se pode confirmar
pela experiência e pelos valores defendidos. Não pode haver comparações
aproximadas entre sistemas de carácter qualitativo tão diferentes. As
injustiças, intimidações e os medos e a quantidade de pessoas espias ao serviço
da DDR reduzem uma PIDE portuguesa à insignificância! Todos os regimes são
inclinados ao contolo exagerado de seus cidadãos. Isto pressupõe um cidadão
sempre atento e crítico!
A
Dignidade humana é um valor maior a defender por todo o Estado justo. Na
república socialista o Estado está acima do indivíduo sendo este apenas seu
instrumento e não o seu fim.»
O comentário
que me mereceu:
Cidadãos atentos e críticos é necessário que o sejamos, como
forma de defender os Direitos no "Estado de Direito" . Mas as
divergências entre os homens são tantas que há o perigo de elas se
transformarem em pura gritaria desencontrada e inócua, quando não castradora de
qualquer acção positiva, pela manipulação dos que "dormiam na casota"
. Por isso o "botão da Liberdade" tem que despontar de novo, sim, mas
na consciência do seu significado, e na autenticidade da formação racional dos
que despertam do sono e dos que, estando acordados, se deixam mover apenas
pelos egoísmos e malquerenças, esquecendo os princípios da equidade e do bom
senso.
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