Comparo os textos da última página do “Público” – de
sábado, 2/3 e de 3ª feira, 5/11 – o primeiro, de Vasco Pulido Valente – “Sem
Sentido” – o segundo, de João Miguel Tavares – “Comichão na
democracia”:
O primeiro, violento, certeiro nas afirmações raivosas,
sobre o “Guião para a Reforma do Estado”, apresentado por Portas, numa
prosa “oca e burocrática”, “série de lugares comuns, por que ninguém
no seu juízo jamais se interessará”, o desprezo e a violência sobre os do
Governo continuando, em afirmações de extrema gravidade, que desenterram
malquerenças, em ataques precisos a movimentações ambiciosas dos novos no
poder, gente sem preparação, que tomou, ao que parece, de assalto e conivência
corrupta com os apaniguados, um país a desfazer-se – “Passos Coelho que “veio
para presidir a uma espécie de federação de municípios, só ligado por
interesses pouco confessáveis, na melhor hipótese, e, na pior, pelo medo da
polícia”, que “governou sob a protecção da troika, que lhe ofereceu
um “ersatz” de programa económico e financeiro e desculpa ideal para uma
política errada e perniciosa”…
O artigo de João Miguel Tavares, criticando também o guião
de reforma apresentado por Portas, segundo a evidência espantada de todos os
que a isso assistiram através da televisão – “aquelas ridículas 116 páginas
em corpo 16 e espaçamento a duas linhas?” centra-se na indiferença ou
desprezo da oposição sobre a discussão do dito documento. Não poupando os que
governam, é o ponto de vista da oposição que apresenta - “pois ele que as vá debater com quem lhe
apetecer” - é sobre esta que mais projecta a sua crítica: “Agora, com os
partidos políticos com aqueles que alegadamente foram eleitos para o confronto
de ideias no Parlamento, com esses, nem pensar. Eles não querem. Recusam. Não
deixam. Para o PS, para o Bloco, para a CDU, discutir aquele documento seria
indigno, repugnante, repulsivo, viroso…. ” A oposição “sempre tão lesta
a defender os interesses do povo, a
denunciar os ataques da direita uber-liberal… subitamente parece não ter
qualquer problema em pronunciar as palavras “não discuto” numa democracia
parlamentar. Como é que isso pode ser tido por normal?”
E o articulista prossegue , mostrando a necessidade de
discutir o programa do guião – que “propõe , entre muitas outras coisas, inscrever
limites para a despesa na Constituição, despedir funcionários públicos, (ou
melhor, “flexibilizar o vínculo laboral”), atribuir a concessão de
escolas a professores, fundir municípios, alterar a arquitectura do sistema
judicial, reformar o IRS ou estabelecer um tecto nos descontos da Segurança
Social e admitir a entrada de privados “- e condenando os partidos que,
reduzindo o guião a “lixo” se fecham nesse desprezo impertinente e, no
fundo, tacanho, de quem não tem argumentos para rebater as propostas, com
outras propostas. E conclui: “Não admira que com esta oposição, tanto
desgraçado como eu acabe a votar nos mesmos incompetentes. Eles são bastante
maus, não há dúvida. Mas ao menos comprometem-se. Os outros limitam-se a
balançar entre a birra, a histeria e o amuo.”
Dois artigos que, centrados num Guião e no Governo
que o propõe, enveredaram por vias de diferente crítica – destrutiva e malévola
a do primeiro, unilateral na denúncia dos desmandos e da impreparação dos
actuais representantes do poder, fazendo tábua rasa dos atropelos dos anteriores,
e das suas responsabilidades no clima de austeridade presente, pelas políticas
de esbanjamento passadas - o segundo, mais equilibrado e honesto nas afirmações
responsabilizantes de uns e outros, denunciando o panorama de penúria
intelectual e moral daqueles que o povo aparentemente escolheu para os representar
no Parlamento.
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