No Público de 10/11 lemos, na
página20, que “Soares repete congresso anti-austeridade”:
O final da notícia diz-nos que “O primeiro
congresso das esquerdas juntou várias personalidades, como Mário Soares,
Manuel Alegre, Sampaio da Nóvoa e até José Pacheco Pereira”.
Este segundo congresso das esquerdas “surge
numa altura em que Tribunal de Contas está sob pressão, incluindo de vários
dirigentes internacionais, por causa do Orçamento de Estado para 2014 e em que
o desejo de mudança da Constituição tem sido assumido por várias personalidades
de direita e até algumas do centro-esquerda, como o sociólogo António
Barreto, o ministro da Defesa José Pedro Aguiar Branco, ou o ex-ministro
das Finanças Fernando Teixeira dos Santos.”
Tudo
gente grada, alguns com responsabilidades na crise, com ressalva natural da
deles.
A objectiva da “nova reunião volta
a ter o executivo de Passos Coelho na mira. Segundo o ex-Presidente da República,
o objectivo é juntar “todos quantos estejam contra o Governo, numa ampla
frente de rejeição. Além dos nomes que participaram na primeira iniciativa,
são apontadas como prováveis a presença de duas figuras históricas da direita: Adriano
Moreira e Freitas do Amaral.”
“Mas o actual Presidente da República
não é esquecido. Cavaco Silva “não pode continuar a ser um agente de um
partido político” critica Mário Soares, apelando à convocação de eleições para
pôr fim “à violência social ou ao desespero das pessoas”.
Não sei se Mário Soares se inclui no
desespero das pessoas que cita. Provavelmente sim, por via da sua Fundação
em risco. Mas “não havia necessidade” como diria o diácono Remédios com
muita unção, pois que o Governo que ele quer abater continua a financiá-la com
reverência e a fazer-nos participar benemeritamente nisso, mesmo os “desperados”
que ele defende tão paternalmente.
Gente grada, repito, segura de si, os
convocados para o bota-abaixo. Gente de peso –na idade e na finança – que os
anos pós-revolucionários não deixaram de distinguir, no seu “struggle for life”
do muito amor patriota. A hora é de apear - a de ir aos ombros a ele pertenceu,
mais o seu V digital - o polegar descaindo agora, em jeito saddamnesco.
Não julgo que Adriano Moreira nem
Freitas do Amaral, que foram pessoas em quem confiámos, na sua ponderação e
saber, cedam ao convite de um ex-opositor – de partido e de lábia oratória.
Também não penso que Cavaco Silva, ex-opositor na concorrência, e hoje
incriminado pelas acusações de Soares, ceda às chantagens de um actual “salvador”
da pátria que outrora ajudou a derribar.
E tenho, para confirmar as minhas
crenças nesta “matéria de vil canto” (com mil desculpas ao glorioso épico), do
sociólogo Alberto Gonçalves, “Sonhos Revolucionários” do D.N. de
três domingos antes do artigo do Público – 20 de Outubro – o artigo com
data de 17, “Um modelo”, que melhor do que ninguém retrata Mário Soares,
em corpo inteiro, como, em corpo inteiro embora dobrado, o país que o acata:
«Um modelo»
«Mário Soares, que diligentemente
tenta bater o recorde de afirmações esdrúxulas na mesma semana, estranhou que
Cavaco Silva não fosse julgado pelo caso “BPN”. Com a paciência que não
dedica aos jornalistas e populares que o insultam, o Prof. Cavaco remeteu o Dr.
Soares para os esclarecimentos que já prestara sobre a matéria e que, sendo
verdadeiros, o colocam na posição de simples depositante da banca em questão. Segundo
o Expresso, o Dr.
Soares terá enviado um discreto pedido de desculpas ao chefe da Casa Civil, confessando
que não dera pelos ditos esclarecimentos. Mas essa não é a questão.
A questão é a radiante facilidade com
que o Presidente da República está sujeito ao tipo de ataques que ninguém ousa
lançar aos ex-presidentes. Veja-se o mero exemplo da Fundação Mário Soares, que
em 2014 receberá 210 mil euros do erário público, a juntar aos cerca de milhão
e meio que lá recebeu entre 2008 e 2013. Não espantaria que, em tempos de crise
extremada, um populista pedisse o julgamento do Dr. Soares e dos benfeitores do
Dr. Soares por aquilo que qualquer cidadão menos cauteloso no verbo poderia
classificar de roubo, embora um roubo legalíssimo. O espantoso é que esse
populista não surgiu. O respeitinho que o Dr. Soares suscita é directamente
proporcional ao desrespeito que o próprio dedica ao mundo em seu redor, desde o
Chefe de Estado ao simples contribuinte. Em países normais, semelhante fenómeno
deveria servir de alerta. Aqui, serve de modelo.»
É que nós por cá, embora de alma
cândida como a do rapazinho que descobriu a nudez do rei, somos sempre deslumbrados
com o ouropel da sua arrogância de libertador. Não há volta a dar-lhe.
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