segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Redução nas contas do tempo

 Desta vez foi a minha filha Paula que me enviou o texto: «Mã, ainda não tive tempo de dar conta disto. Reencaminho que é mais rápido:»

«Soneto, obra prima do trocadilho, escrito no século XVII por um tal António Fonseca Soares.«

  «CONTA E TEMPO
Deus pede estrita conta de meu tempo.
E eu vou, do meu tempo, dar-lhe conta.
Mas, como dar, sem tempo, tanta conta,
Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo?


Para dar minha conta feita a tempo,
O tempo me foi dado, e não fiz conta.
Não quis, sobrando tempo, fazer conta.
Hoje, quero fazer conta, e não há tempo.

 
Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta,
Não gasteis vosso tempo em passatempo.
Cuidai, enquanto é tempo, em fazer conta!


Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo,
Quando o tempo chegar, de prestar conta
Chorarão, como eu, o não ter tempo...»
 
a que eu respondi com um “bestial!” de pleno entusiasmo admirativo. E vou guardar no meu blog, para não perder tal preciosidade, acrescentando, como brinquedo para desconto na minha conta deste tempo:

Com o tempo todo por minha conta,
Faço de conta que me divirto neste tempo
E jogo com o tempo que hoje só conta
No prazer da conta ao sabor do tempo.

 Ora  a conta que hoje damos do nosso tempo
Não a Deus, Senhor que o nosso tempo conta,
Mas a quem nos desconta faltas no tempo
De que por erro de tempo não demos conta,

 Bem nos custa na conta ao longo do tempo
Que o mau tempo em que vivemos logo desconta.
Peçamos, pois, a Deus conta desse tempo

Já que o patrão que o nosso tempo conta
Só desconta com a lábia deste tempo
Que nos pesa sempre a tempo em nossa conta.

2 comentários:

Ricardo disse...

Ah, fadista!

Grande é a mulher que de tal modo o tempo conta, cantando-o no grande destempero que se vive em seu tempo.

Anônimo disse...

Muito giro, Ricardo, já cá conta, para o encanto deste meu tempo.