O meu filho
mais velho é bastante malandro. Pertence à geração que sofreu o embate da
descolonização portuguesa, indecisa entre o discurso da demagogia que lhe era
imposta para melhor se singrar na vida, e o discurso dos velhos do Restelo que
em casa sempre foi o adoptado, dentro dos parâmetros da lealdade pátria, que
pai e padrasto defenderam nas terras amadas de África e que ele próprio jurou
por cá, quando cumpriu o seu serviço
militar. Como acontece com toda a gente, a experiência fê-lo adoptar atitudes
de descrença, nele traduzidas num humor de exagero, ora sério ora acriançado,
que muitas vezes se manifesta no anedotário que recebe pela internet e me envia,
para fazer desmanchar os meus próprios humores bravios ou as minhas crenças ainda
em critérios de honestidade, aparentemente desaparecidos, sob o escândalo de
uma austeridade aparentemente sem solução.
E aqui está
um texto da nossa laracha, que me apresso a reproduzir, pela criatividade que
revela.
«Antigo mas... não si se já conhecias mas é interessante...»
DiSCURSO ANTES DA POSSE
« O nosso partido cumpre o
que promete.
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais.
para alcançar os nossos ideais
Mostraremos que é uma grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social não será o alvo da nossa acção.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com a corrupção e as negociatas.
Não permitiremos de modo nenhum que
os reformados morram de fome.
Cumpriremos os nossos propósitos mesmo que
os recursos económicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.»
Só os tolos podem crer que
não lutaremos contra a corrupção.
Porque, se há algo certo para nós, é que
a honestidade e a transparência são fundamentais.
para alcançar os nossos ideais
Mostraremos que é uma grande estupidez crer que
as máfias continuarão no governo, como sempre.
Asseguramos sem dúvida que
a justiça social não será o alvo da nossa acção.
Apesar disso, há idiotas que imaginam que
se possa governar com as manchas da velha política.
Quando assumirmos o poder, faremos tudo para que
se termine com a corrupção e as negociatas.
Não permitiremos de modo nenhum que
os reformados morram de fome.
Cumpriremos os nossos propósitos mesmo que
os recursos económicos do país se esgotem.
Exerceremos o poder até que
Compreendam que
Somos a nova política.»
DEPOIS DA POSSE: Basta ler o mesmo discurso, de baixo para cima,
linha a linha
Mostrei à minha
filha Paula o texto e ela lembrou um poema de Camões que eu própria já ensinara
em tempos, jogo de construção com sentidos opostos, conforme se lesse na vertical–
de crítica satírica à dama – ou cada verso das duas primeiras oitavas
completado nos correspondentes das duas oitavas seguintes para lhe elogiar as
virtudes segundo o modelo de perfeição clássica – de beleza, bondade. pureza e elegância
morais:
Sois üa dama (1)
das feias do mundo;(2)
de toda a má fama (3)
sois cabo profundo.(4)
A vossa figura (5)
não é para ver; (6)
em vosso poder (7)
não há fermosura. (8)
[Vós] fostes dotada (9)
de toda a maldade; (10)
perfeita beldade (11)
de vós é tirada. (12)
Sois muito acabada (13)
de tacha e de glosa: (14)
pois, quanto a fermosa,(15)
em vós não há nada. (16)
De grão merecer (1’)
sois bem apartada;(2’)
andais alongada(3’)
do bem parecer. (4’)
Bem claro mostrais (5’)
em vós fealdade; (6’)
não há i maldade (7’)
que não precedais.(8’)
De fresco carão (9’)
vos vejo ausente; (10’)
de toda a má fama (3)
sois cabo profundo.(4)
A vossa figura (5)
não é para ver; (6)
em vosso poder (7)
não há fermosura. (8)
[Vós] fostes dotada (9)
de toda a maldade; (10)
perfeita beldade (11)
de vós é tirada. (12)
Sois muito acabada (13)
de tacha e de glosa: (14)
pois, quanto a fermosa,(15)
em vós não há nada. (16)
De grão merecer (1’)
sois bem apartada;(2’)
andais alongada(3’)
do bem parecer. (4’)
Bem claro mostrais (5’)
em vós fealdade; (6’)
não há i maldade (7’)
que não precedais.(8’)
De fresco carão (9’)
vos vejo ausente; (10’)
em vós é presente (11’)
a má condição. (12’)
De ter perfeição (13’)
mui alheia estais(14’)
mui muito alcançais (15’)
de pouca razão.(16’)
De ter perfeição (13’)
mui alheia estais(14’)
mui muito alcançais (15’)
de pouca razão.(16’)
Nenhum comentário:
Postar um comentário