sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Comentário alargado



Se bem me lembro… O bispo de Nampula… Nós estávamos lá – eu, em Lourenço Marques - e falava-se nele, deu muito nas vistas… A falar de direitos dos povos humildes, aparentemente maltratados por senhores, que foram usurpadores… Não viu mais nada, só usurpação. Eu estava lá, e dava aulas nocturnas e diurnas, outros noutras suas vidas e trabalhos, como em toda a parte do mundo. Mas o bispo de Nampula deu muito nas vistas, nesses anos sessenta, vinha nos jornais. Tão insignificante como todos aqueles de que falou Camões, pela voz de Vasco da Gama, ao Rei de Melinde:

«Ó tu, Sertório, ó nobre Coriolano,
Catilina, e vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias com profano
Coração vos fizestes inimigos:
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes
.” (Lus. IV, 33):

Nem vale a pena tentar “esclarecer”, como dizia – não o fazendo – Agildo Ribeiro, no seu “posso esclarecê?” de malícia trapalhona. Quaisquer esclarecimentos seriam inúteis e desatendidos, como esclareceu o grande poeta democrata António Gedeão, na sua “IMPRESSÃO DIGITAL” de extrema compreensão – “Cada um é seus caminhos” – que, como todas as frases da libertação humana se aplicam em termos de univocidade, o que é extremamente falso, pelo menos nas escolas, onde é necessário impor doutrina, apesar do que se dizia de que todos os saberes se equivalem, os dos alunos também, valem tanto como os saberes dos mestres e das mestras, mesmo que esses seus saberes perturbassem o ritmo das aulas. Pecados velhos de que o bispo de Nampula já não se lembra, todo carinhoso mas apenas em termos de simpatia unívoca. Mas eu relembro, dada a inutilidade dos meus esclarecimentos, embora não tão trapalhões como os do Agildo Ribeiro, um texto do meu blog, que “A Voz de Moçambique” também publicou, de troca de comentários de dois moçambicanos, em 2009::

«Do Blog Moçambique para todos assinado por Fernando Gil - (Moçambique para todos  retiro uma curiosa e já antiga – de 2009 - troca de comentários entre Januário Sitoe e Umbhalane a propósito da história de Samora Machel contada por algum português – um dos muitos - aproveitador da nova era e não se coibindo de denegrir a história do seu próprio país e do colonialismo português – opressor, está visto – como imagem de pobreza moral e espiritual que os próprios africanos denunciam, repondo a verdade sobre o tema e sobre a realidade de exploração e penúria que agora vive o povo moçambicano, sem uma lei justa que o defenda da exploração das elites governativas ou outras.

januário sitoe said...
Oh Umbhalane....
....Francamente não te entendi: explica lá isso melhor se faz favor.
Eu, cumpre-me lamentar o facto de saber mais da história portuguesa do que estes "tios" que pelos vistos escreveram estas barbaridades todas de uma penada só... que são heróis por terem fugido à guerra colonial, e que agora ficam bem na foto a denegrir o seu próprio passado...uns pobres portanto.
Não tenho memória de ver os americanos (povo) a bater na sua história pelos (muitos) erros de estratégia internacional(o Vietname, a Somália, agora o Iraque...); não vejo os Franceses a pensar entregar Guadalupe, a Antiqua ou a Polinésia; os ingleses a pensar entregar as Malvinas; os Americanos o Havai...e vão lá perguntar aos "indígenas se querem ser independentes!!!...da-se!!!!!
Oh Umbhalane!!
Vai às profundezas da Zambézia; do Niassa; de Cabo Delgado....ou um pouco por todo o pais... e fala com os anciãos do povo!!! é lá que se aprende a história e o passado!!! Com quem viveu a fartura servida com controlo.... e quem agora experimenta a miséria misturada com "histórias da tanga", contadas por comunistóides a quem a revolução portuguesa deu a possibilidade de viverem sem trabalhar, acomodados nos corredores da mixórdia politica que só a eles serve!!! Ah, que saudades os portugueses de bom senso devem ter do "Oliveirinha"...... Reply 22/06/2009 at 10:06

Umbhalane said...
Mesmo em Moçambique, Samora Machel já está marginalizado da história, ostracizado...
É apenas uma efeméride, que em determinada data se evoca, a custo, como que a engolir um sapo...
Isto em Moçambique de há uns anos para cá,...e ainda com a Frelimo no poder...
Quando a verdadeira história puder ser universalmente conhecida, escrita e ensinada, vai-lhe acontecer o mesmo que a Estaline na URSS, e Rússia de hoje...
Para esquecer, apenas. E não vale a pena estrebuchar, insultar... Inexorável. Reply 22/06/2009 at 08:39 »

Tudo isto a propósito do primeiro artigo de Salles da Fonseca no seu blog “A Bem da Nação”, «Xicuembo, Xicuembo», referindo esse pobre bispo de Nampula que tanto deu nas vistas, por pregar um evangelho de pacotilha.

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