quarta-feira, 11 de abril de 2018

A tragédia maior



O texto do historiador Rui Ramos, sobre Lula da Silva, é rigoroso na informação sobre a pessoa Lula da Silva, assim como sobre o enquadramento político desse arrivista aproveitador dos bens existentes na nação para os dilapidar em obras de caridade necessárias ao seu fortalecimento político, e que a ele incluíram em operações trafulhas de uma exorbitância que o condena. E é com a mão no peito e muitas demonstrações de dor, junto dos seus, que ele se exibe, imagem exaltada de sofrimento pela injustiça da condenação, Tartufo à espreita de uma safa triunfal, apesar da ruína, não de um lar familiar aproveitando-se da idiotice de um “crente” ingénuo, como o Tartufo da comédia, mas da ingenuidade tacanha de uma população que o endeusa, sem restrições na benquerença.
Uma figura digna de caricatura, que não existia com tanta vitalidade no tempo de Gil Vicente, o qual não deixaria de o favorecer – esse seu tempo, de fidalgos vaidosos e prepotentes, de onzeneiros perversos, de frades mundanos, de sapateiros avaros, de juízes corruptos - com mais um dos tipos sociais condenados, da sua Barca do Inferno. Molière, um século depois, aproveitá-lo-ia, na sua “barca” dramatúrgica genial, para criar uma comédia em torno da hipocrisia interesseira de um falso devoto, arruinador de famílias. Ei-lo, Lula da Silva, Tartufo em grande escala, arruinador de uma nação, em truques de artimanha teatral bem indignos, mas cada vez mais em evidência nestes nossos tempos de superior engano.
Tempos de desordens climáticas poderosas, também, a assustar os passageiros da barca terreal, para mostrar a força de destruição desta, e a relativizar essas e outras comédias humanas, apesar da sua gravidade e dos seus efeitos sobre a formação social e sobre os destinos económicos das nações. A notícia a seguir à crónica, sobre as aterradoras alterações climáticas, o demonstra bem.
I -  LULA DA SILVA      Ninguém pode fazer tanto mal ao Brasil como Lula
RUI RAMOS                              OBSERVADOR, 10/4/2018
Por piores que sejam os actuais governantes, nenhum pode fazer tanto mal ao Brasil como Lula. Basta que consiga divorciar uma parte da população da legalidade e da democracia.
A condenação do ex-presidente Lula da Silva, no Brasil, mostrou como a justiça não precisa de muito para ser politizada: basta que as suas sentenças tenham efeitos políticos. E para que tenham efeitos políticos, são necessárias apenas duas coisas: que o condenado seja um político, e que a condenação comprometa a sua carreira. A partir daí, haverá sempre quem pelos efeitos julgue as motivações: se a sentença teve um efeito político, então também teve uma motivação política. É difícil escapar a isto, sobretudo quando o acusado, como no caso de Lula, não hesita em fazer política para se safar. Condenado, propôs-se novamente à eleição presidencial, para perturbar os tribunais. Ameaçado de ser preso, refugiou-se no meio de uma manifestação, para inibir a polícia.
Tem-se dito que Lula, como presidente, fez muito bem ao Brasil. Sim, mas porque pôde distribuir por uma parte da população os resultados dos esforços de estabilização e de modernização do seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso. Mas se usou o produto, não aumentou a produção, acabando por deixar o Brasil resvalar para a maior crise das últimas décadas. Os problemas legais de Lula são muito reveladores do que fez no poder. Lula e o PT (Partido dos Trabalhadores) chegaram ao governo no auge da “terceira via”. Em vez de destruir o capitalismo, como recomendavam os marxistas de 1973, fizeram um capitalismo deles, combinando o domínio do Estado com a cumplicidade das grandes empresas. Não por acaso, Lula e Dilma tiveram como conselheiro económico o lendário Delfim Netto, um dos orientadores da Ditadura Militar (e agora também em apuros na Lava Jato).
Mas Lula nem por isso renunciou à demagogia revolucionáriaNum país em transformação (a taxa de urbanização, por exemplo, subiu de 45% para 85% desde 1960), não faltam carências e frustrações. A demagogia é sempre fácil, mas  talvez no Brasil seja um pouco mais fácil. Por isso, o poder do PT foi Delfim Netto, mais o Movimento dos Sem Terra e todos os outros activismos identitários de importação norte-americana. Sem os escritórios, resta-lhes agora as ruas. Esse é o perigo que Lula sabe que representa para a democracia no Brasil. Quando Dilma foi derrubada no congresso, falou-se de “golpe”, como se, em vez de uma votação parlamentar, a tropa tivesse saído dos quartéis. Agora, Lula fez tudo para inspirar comparações com a sua prisão em 1980, como se o Brasil, em vez da democracia que é há 30 anos, continuasse em Ditadura Militar. Perdida a partida, resta desacreditar o jogo, para ver se é possível voltar a baralhar. O que Lula e Dilma dão a entender aos seus seguidores é que a democracia e a legalidade são apenas uma máscara para relações de força. A lição é óbvia: no fundo, só a força conta. Não os votos, não as leis, mas a força. É uma mentalidade de guerra civil.
As democracias são mais fáceis de destruir do que de construir. Construir uma democracia exige atitudes e comportamentos pouco naturais, como o de respeitar os adversários, mesmo quando odiosos, ou confiar nos procedimentos, mesmo quando frustrantes. Destruir uma democracia dá muito menos trabalho: é questão de dar largas ao rancor e à paranoia. Já não estamos em 1989, quando os muros caíam e a terra parecia destinada às democracias de tipo liberal. A história, afinal, não acabou. As ditaduras são outra vez uma alternativa. Lula tem a influência para criar no Brasil o ambiente para uma experiência dessas. Basta que consiga divorciar uma parte da população da legalidade e da democracia. Por piores que sejam os actuais governantes, nenhum pode fazer tanto mal ao Brasil como Lula. Diz ele que já não é uma pessoa, mas uma ideia. Mas há ideias más.
II- ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Vagas de calor no mar estão há um século a aumentar
Aquecimento da água do mar tem impactos significativos nos ecossistemas, na biodiversidade, pesca, turismo ou aquacultura.
                                10 de Abril de 2018
Grande Barreira de Coral UNIVERSIDADE DE QUEENSLAND/OVE HOEGH-GULDBERG/REUTERS
As vagas de calor no mar aumentaram em número e em intensidade ao longo do século passado, resultado directo do aquecimento global, revela um estudo publicado agora na revista Nature Communications.
Segundo o estudo foi realizado por investigadores do ARC – Centro de Excelência para a Ciência dos Extremos Climáticos, um consórcio que junta cinco universidades australianas e uma rede de organizações da Austrália e de outros países, e o Instituto de Estudos Marinhos e Antárcticos, um centro de investigação da Universidade da Tasmânia, também na Austrália.
Segundo o estudo, entre 1926 e 2016 a frequência de vagas de aquecimento da água do mar aumentou 34% e a duração de cada onda de calor aumentou 17%, o que se traduz num aumento de 54% do número de dias de temperaturas acima do normal no mar em cada ano.
“A nossa investigação também descobriu que desde 1982 houve um assinalável aumento da tendência de vagas de calor marinhas”, disse o principal autor do estudo, Eric Oliver, da Universidade de Dalhousie, Canadá. “Se bem que podemos desfrutar das águas quentes quando vamos à praia, essas ondas de calor têm impactos significativos nos ecossistemas, biodiversidade, pesca, turismo e aquacultura. Há muitas consequências económicas profundas que andam de mão dada com esses eventos”, disse o investigador. Uma onda de calor na Austrália Ocidental em 2011 mudou por completo o ecossistema, que deixou de ser dominado por florestas de laminárias (algas de grandes dimensões) para passar a ser dominado por algas rasteiras. No ano seguinte, no golfo do Maine (costa Nordeste dos Estados Unidos) uma onda de calor levou a um aumento da população de lagostas que fez os preços caírem e o sector foi seriamente prejudicado. E entre 2014 e 2016 uma vaga de calor no Pacífico Norte levou ao encerramento de estruturas de aquacultura e à proliferação de algas nocivas ao longo das costas. Para as conclusões do estudo os investigadores usaram diversos dados, combinando informações obtidas por satélite com outros dados que ao longo do século foram recolhidos por navios e estações terrestres, descontando no final as oscilações naturais. “Houve uma relação clara entre o aumento da temperatura média da superfície do mar e o aumento das vagas marinhas de calor”, disse Neil Holbrook, da Universidade da Tasmânia, acrescentando ser provável que essas vagas de calor continuem a aumentar.

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