quarta-feira, 4 de abril de 2018

Pauvres gens!



Mandou-me o Ricardo hoje um comentário sobre Manuel Loff, cujo texto tinha transcrito no meu blog, por me parecer erróneo o seu ponto de vista sobre a condenação dos implicados no separatismo catalão. Agradeço ao Ricardo o inesperado apoio, os meus filhos geralmente contestando as posições que sempre tomei, não anti-democráticas mas anti-patrióticas, o que não altera a nossa harmonia, afinal, sendo nós democratas por compostura educativa, mais do que por ciência de filiação partidária. Mas perante as enormidades destes fautores de opinião, que a mim me parecem débeis, não só do ponto de vista ideológico, como do ponto de vista moral, resolvo transcrever o texto de 2012 que ele assinalou, seguido de um outro do DN que me enviou na íntegra, os quais agradeço plenamente, de acordo com a opinião de Nuno Botelho a respeito das greves em barda que, fartos de esperar pelas ordens  aparentemente em pousio da esquerda mercenária, enquanto durou o estado de graça da aliança governamental, se desencadeiam hoje triunfalmente, em cata de trocos, indiferentes à ruína da Nação que elas representam. Mas ante a minha resposta de agradecimento, enviou-me o Ricardo outro comentário, que transcrevo no fim, que me faz pensar no despertar de uma geração que foi apanhada na surpresa de um alvoroço aparentemente positivo e finalmente se revela na extensão da sua hedionda miséria e esfacelamento. Para continuar. Lamento, pelas gerações do porvir. Com lágrimas.

Primeiro texto do Ricardo:
O espanhol que comenta o texto do Loff terá razão no que diz. 2 milhões dizem sim, 1,5 milhões diz não e os outros 34 milhões não são ouvidos.
Esse Loff que é citado talvez nem valha a pena, como li num artigo de 2012:
-https://blasfémias.net/2012/08/18/um-e-apenas- intelectualmente-desonesto-os-outros-nem-sei-classificar
Transcrevo o texto assinalado:
Um é apenas intelectualmente desonesto; os outros nem sei classificar
18 Agosto, 2012
Manuel Loff, um historiador menor que é mais conhecido pela sua adesão ao ideário do Partido Comunista, resolveu insultar nas páginas do Público Rui Ramos a propósito da História de Portugal que este coordenou. O seu esforço canhestro, baseado em mentiras descaradas e em citações tiradas do contexto – por vezes citações de autores que o autor cita e não representam, naturalmente, as suas opiniões –, tem um só objectivo: combater um historiador que não apresenta do Estado Novo o retrato maniqueísta e ideológico que, durante décadas, o PCP e os intelectuais afiliados foram construindo do salazarismo. Esse retrato, baseado na identificação plena do autoritarismo salazarista com o fascismo italiano e com o nazismo alemão, há muito que está desacreditado entre os historiadores sérios, sejam eles mais à esquerda ou mais à direita. Manuel Loff é que, infelizmente, não é um historiador sério. Basta recordar que titulou um dos seus livros com uma frase que atribui a Salazar – “O nosso século é fascista”, assim, entre aspas – que Salazar nunca pronunciou. É antes um ideólogo que, por exemplo, acha que aquilo a que alguns chamam a ordem “demo-capitalista” – as nossas democracias – se assemelha à (velha) “Nova Ordem” nazi-fascista, como defende no último capítulo desse mesmo livro. Por tudo isto, e porque entre os historiadores ninguém lhe dá real crédito, os seus textos deviam ser ignorados como simples infâmias mal-intencionadas, obras de alguém intelectualmente desonesto que sustenta a sua tese em factos que qualquer leitor desta História de Portugal sabe serem falsos (por exemplo: Loff dá a entender que Ramos ignora ou desvaloriza o aparelho repressivo do Estado Novo, quando há várias páginas dedicadas à censura, à PIDE ou aos métodos de tortura; Loff também chega ao ponto da difamação ao dizer que Ramos não classifica como ditadura o regime salazarista, quando isso é feito de forma muito clara).
Claro que não preciso de comparar a autoridade – pessoal, académica, tudo o que quiserem – de José Mattoso com a de Manuel Loff, pelo que recordar um pouco este texto fala por si. Com eloquência.
Mas se já era mau termos um Loff, é muito pior termos galinhas a cacarejar o que Loff diz sem sequer se darem ao trabalho de pensar. Pessoas que, espante-se, sentenciam o livro de Ramos ao mesmo tempo que admitem não o ter lido. Refiro-me a alguém que se intitula como jornalista, Pedro Rolo Duarte, que pretende fazer graça com este livro apesar de começar o seu texto a dizer que não o leu. E refiro-me também a um dos “politólogos” mais requestado pelas televisõesAndré Freire, que utilizou o Facebook para também confessar a sua ignorância sobre o livro e, logo a seguir, apoiar as teses de Loff. Nem sei que pensar. Talvez estes dois opinadores tenham achado que era melhor opinarem já em vez de serem desmentidos se lessem o livro. Talvez tenham tido medo de serem intelectualmente desonestos se lessem o livro e, depois, o acusar de ser o que não é. Assim preferiram ser apenas desonestos e botarem faladura sobre o que não conhecem.
É o país que temos, que mais se pode dizer.

Continuação do texto do Ricardo:
 Gostei deste artigo do Jornal de Notícias de hoje. Será que mais ninguém, tirando o burriqueiro da fábula, vê o descaminho que o burro está a levar?

"Os apetites do proletariado do Estado”, por Nuno Botelho - Empresário e Pres. Ass. Comercial do Porto

Greves na CP. Na manutenção da CP. Dos médicos. Dos enfermeiros. Dos auxiliares. Greve no SEF, também nas horas extra da TAP. Greves dos professores e dos cientistas. Dos guardas prisionais. No metro de Lisboa. E muitas outras mais. O mês de abril vai ser assim. Na generalidade dos casos, está em causa a reivindicação de melhores salários e de mais regalias. Ponto comum aos trabalhadores cujos sindicatos as convocam: serem funcionários públicos ou equiparados e exigirem um esforço adicional do Orçamento do Estado para que as suas reclamações sejam atendidas.
Nada contra o direito à greve, os termos legais que a regulam ou a independência do movimento sindical. São pilares essenciais de uma sociedade justa e democrática. Mas tudo contra a irresponsabilidade, seja ela social, laboral ou politica. E tudo contra a instrumentalização dos sindicatos para beneficio partidário, num cenário em que é quase a CGTP que está no Parlamento e o PCP nos comités das empresas. Tudo, ainda, contra a manipulação leviana dos trabalhadores, que, em defesa de interesses que transcendem os seus, questiona sobretudo a viabilidade futura de muitos empregos.
Já para não falar dos funcionários (não públicos) que, por via da agitação de uma parte (sempre a mesma parte, como se sabe) do proletariado do Estado, se deparam com escolas fechadas (e filhos sem aulas), transportes públicos parados, consultas médicas desmarcadas, julgamentos adiados e cidades praticamente sitiadas. Cada greve, por mais justa que seja, é um abalo na produtividade nacional. Sendo o Estado grande e pesado, a economia não funciona sem o Estado, sem as suas repartições e sem os seus funcionários. Sucede que, infelizmente, os portugueses que querem e precisam de trabalhar todos os dias não podem fazer greve às greves da CGTP.
 O sentimento em torno da reivindicação e da exigência fácil, alavancado, como agora se diz, no exemplo que vem do setor público, vem ganhando eco na sociedade. De um lado, temos um pais quase em pleno emprego, a crescer, com devolução de rendimentos aos cidadãos. Do outro, ostentamos uma das mais baixas taxas de produtividade da Europa. Trabalhamos pouco (embora muitas horas). Ou seja, trabalhamos mal. Para termos melhores regalias, remunerações mais elevadas e mais horas de lazer, a receita é fácil, embora não conste do discurso dos sindicalistas: trabalhar melhor.
Já aqui tinha escrito, em fevereiro, que António Costa está sob chantagem dos radicais de Esquerda que apoiam o seu Governo. O Orçamento do Estado, equilibrado como nunca esteve, é um apetite. A má noticia, para este efeito, é que há eleições em outubro de 2019. Até lá, o aumento do número de greves vai ser proporcional ao crescimento desse apetite."

Conclusão do primeiro texto do Ricardo:

"As questões de esquerda e de direita a que dá vontade de associar o texto (uns não são melhores que os outros), cá vai a fábula que retirei da "Permanência em fabulário de mudança":
"Depois de uma caminhada prolongada um burro, que um burriqueiro guiava por um caminho bem desbravadinho, deixou a via certa para se lançar por uma ribanceira. Como ia cair num abismo o burriqueiro agarrou-o pela cauda e esforçou-se por o puxar para cima, para a berma. Mas o burro arqueava-se em sentido inverso, para baixo. Enfim o burriqueiro estas palavras lhe atirou sem mais insistir em o puxar - Amarga vitória essa tua. Não ta disputarei..."

Último texto do Ricardo:
Manter uma página de opinião é um trabalho árduo e há que seguir um rumo sem desviar-se um milímetro. À nossa volta, no entanto, estão os outros, os que rumam de acordo com as marés da História e os que se deixam ir, flutuando, por essas mesmas marés. Habituaste-te a citar os outros e não sais desse registo. No entanto corres o risco de desanimar,  pois aquilo que se vê hoje nem sempre é o que aconteceu há 10 anos. Já há muito que sigo desanimado com o rumo dos acontecimentos da história, mais as mentalidades mesquinhas que a produzem. Ainda vou lendo aqui e ali, mas a cada dia que passa fico mais triste com o que me cerca  -  as oportunidades perdidas desde os tempos do Cavaco até à atualidade...
Beijos,
Ricardo

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