Mandou-me o Ricardo hoje um
comentário sobre Manuel Loff, cujo texto tinha transcrito no meu blog, por me
parecer erróneo o seu ponto de vista sobre a condenação dos implicados no
separatismo catalão. Agradeço ao Ricardo o inesperado apoio, os meus filhos
geralmente contestando as posições que sempre tomei, não anti-democráticas mas
anti-patrióticas, o que não altera a nossa harmonia, afinal, sendo nós
democratas por compostura educativa, mais do que por ciência de filiação
partidária. Mas perante as enormidades destes fautores de opinião, que a mim me
parecem débeis, não só do ponto de vista ideológico, como do ponto de vista
moral, resolvo transcrever o texto de 2012 que ele assinalou, seguido de um
outro do DN que me enviou na íntegra, os quais agradeço plenamente, de acordo
com a opinião de Nuno Botelho a respeito das greves em barda que, fartos
de esperar pelas ordens aparentemente em
pousio da esquerda mercenária, enquanto durou o estado de graça da aliança governamental,
se desencadeiam hoje triunfalmente, em cata de trocos, indiferentes à ruína da
Nação que elas representam. Mas ante a minha resposta de agradecimento,
enviou-me o Ricardo outro comentário, que transcrevo no fim, que me faz pensar
no despertar de uma geração que foi apanhada na surpresa de um alvoroço
aparentemente positivo e finalmente se revela na extensão da sua hedionda
miséria e esfacelamento. Para continuar. Lamento, pelas gerações do porvir. Com
lágrimas.
Primeiro texto do Ricardo:
O espanhol que comenta o texto do Loff terá razão no que diz. 2
milhões dizem sim, 1,5 milhões diz não e os outros 34 milhões não são
ouvidos.
Esse Loff que é citado talvez nem valha a pena, como li num
artigo de 2012:
-https://blasfémias.net/2012/08/18/um-e-apenas- intelectualmente-desonesto-os-outros-nem-sei-classificar
Transcrevo o texto assinalado:
Um é apenas intelectualmente desonesto; os outros nem
sei classificar
18 Agosto, 2012
Manuel Loff, um
historiador menor que é mais conhecido pela sua adesão ao ideário do Partido
Comunista, resolveu insultar nas páginas do Público Rui
Ramos a propósito da História de Portugal que
este coordenou. O seu esforço canhestro, baseado em mentiras descaradas e
em citações tiradas do contexto – por vezes citações de autores que o autor
cita e não representam, naturalmente, as suas opiniões –, tem um só objectivo:
combater um historiador que não apresenta do Estado Novo o retrato maniqueísta
e ideológico que, durante décadas, o PCP e os intelectuais afiliados foram
construindo do salazarismo. Esse retrato, baseado na identificação plena
do autoritarismo salazarista com o fascismo italiano e com o nazismo alemão, há
muito que está desacreditado entre os historiadores sérios, sejam eles mais à
esquerda ou mais à direita. Manuel Loff é que, infelizmente, não
é um historiador sério. Basta recordar que titulou um dos seus livros com
uma frase que atribui a Salazar – “O nosso século é fascista”, assim, entre
aspas – que Salazar nunca pronunciou. É antes um ideólogo que, por exemplo,
acha que aquilo a que alguns chamam a ordem “demo-capitalista” – as nossas
democracias – se assemelha à (velha) “Nova Ordem” nazi-fascista, como defende
no último capítulo desse mesmo livro. Por tudo isto, e porque entre os
historiadores ninguém lhe dá real crédito, os seus textos deviam ser ignorados
como simples infâmias mal-intencionadas, obras de alguém intelectualmente
desonesto que sustenta a sua tese em factos que qualquer leitor desta História
de Portugal sabe serem falsos (por exemplo: Loff dá a entender que Ramos ignora
ou desvaloriza o aparelho repressivo do Estado Novo, quando há várias páginas
dedicadas à censura, à PIDE ou aos métodos de tortura; Loff também chega ao
ponto da difamação ao dizer que Ramos não classifica como ditadura o regime
salazarista, quando isso é feito de forma muito clara).
Não por acaso, essa
História de Portugal foi muito elogiada, mesmo por pessoas que não são
suspeitas de terem as mesmas inclinações políticas de Rui Ramos. José Mattoso,
por exemplo, escreveu em 2010 no mesmo Público que “a obra de
Rui Ramos fornece dados para uma resposta clara, fundamentada, muito completa,
bem escrita, de boas dimensões para ser lida do princípio ao fim. O cuidado na
datação e na geografia dos acontecimentos, na identificação social dos
protagonistas, na objectividade possível das informações e na selecção e
concatenação dos factos mais importantes deixa para trás qualquer obra
congénere anteriormente publicada”.Mais: “foi possível
aos três autores ultrapassar a dicotomia que, desde o tempo de Herculano,
opunha a história patriótica e apologética do poder à história liberal e
republicana que pretendia desmascarar os responsáveis pelos obstáculos ao progresso
e a decadência nacional”.Assim, parecia a José Mattoso “muito
salutar ter reduzido tais polémicas a um juízo isento de preconceitos
ideológicos. O carácter irreverente de Rui Ramos vem, por vezes, à tona em
alguns dos seus comentários, o que talvez lhe traga a má vontade de alguns
leitores. Creio, porém, que não será fácil contestar a vastidão das suas
informações e a pertinência das suas interpretações”.
Claro que não preciso de
comparar a autoridade – pessoal, académica, tudo o que quiserem – de José
Mattoso com a de Manuel Loff, pelo que recordar um pouco este texto fala por
si. Com eloquência.
Mas se já era mau termos
um Loff, é muito pior termos galinhas a cacarejar o que Loff diz sem sequer se
darem ao trabalho de pensar. Pessoas que, espante-se, sentenciam o
livro de Ramos ao mesmo tempo que admitem não o ter lido. Refiro-me a alguém
que se intitula como jornalista, Pedro Rolo Duarte,
que pretende fazer graça com este livro apesar de começar o seu texto a dizer
que não o leu. E refiro-me também a um dos “politólogos” mais requestado pelas
televisões, André
Freire, que utilizou o Facebook para também confessar a sua
ignorância sobre o livro e, logo a seguir, apoiar as teses de Loff. Nem
sei que pensar. Talvez estes dois opinadores tenham achado que era melhor opinarem
já em vez de serem desmentidos se lessem o livro. Talvez tenham tido medo de
serem intelectualmente desonestos se lessem o livro e, depois, o acusar de ser
o que não é. Assim preferiram ser apenas desonestos e botarem faladura sobre
o que não conhecem.
É o país que temos, que
mais se pode dizer.
Continuação do texto do Ricardo:
Gostei deste artigo do Jornal de Notícias de hoje.
Será que mais ninguém, tirando o burriqueiro da fábula, vê o descaminho que o
burro está a levar?
"Os
apetites do proletariado do Estado”, por Nuno Botelho - Empresário e Pres. Ass.
Comercial do Porto
Greves na CP. Na manutenção da
CP. Dos médicos. Dos enfermeiros. Dos auxiliares. Greve no SEF, também nas
horas extra da TAP. Greves dos professores e dos cientistas. Dos guardas
prisionais. No metro de Lisboa. E muitas outras mais. O mês de abril vai ser
assim. Na generalidade dos casos, está em causa a reivindicação de melhores
salários e de mais regalias. Ponto comum aos trabalhadores cujos sindicatos as convocam: serem
funcionários públicos ou equiparados e exigirem um esforço adicional do
Orçamento do Estado para que as suas reclamações sejam atendidas.
Nada contra o
direito à greve, os termos legais que a regulam ou a independência do movimento
sindical. São pilares essenciais de uma sociedade justa e democrática. Mas tudo
contra a irresponsabilidade, seja ela social, laboral ou politica. E tudo
contra a instrumentalização dos sindicatos para beneficio partidário, num
cenário em que é quase a CGTP que está no Parlamento e o PCP nos comités das
empresas. Tudo, ainda, contra a manipulação leviana dos trabalhadores, que, em
defesa de interesses que transcendem os seus, questiona sobretudo a viabilidade
futura de muitos empregos.
Já para não
falar dos funcionários (não públicos) que, por via da agitação de uma parte
(sempre a mesma parte, como se sabe) do proletariado do Estado, se deparam com
escolas fechadas (e filhos sem aulas), transportes públicos parados, consultas
médicas desmarcadas, julgamentos adiados e cidades praticamente sitiadas. Cada
greve, por mais justa que seja, é um abalo na produtividade nacional. Sendo o
Estado grande e pesado, a economia não funciona sem o Estado, sem as suas
repartições e sem os seus funcionários.
Sucede que, infelizmente, os portugueses que querem e precisam de
trabalhar todos os dias não podem fazer
greve às greves da CGTP.
O sentimento em torno da reivindicação e da exigência
fácil, alavancado, como agora se diz, no exemplo que vem do setor público, vem
ganhando eco na sociedade. De um lado, temos um pais quase em pleno emprego, a
crescer, com devolução de rendimentos aos cidadãos. Do outro, ostentamos uma
das mais baixas taxas de produtividade da Europa. Trabalhamos pouco (embora
muitas horas). Ou seja, trabalhamos mal. Para termos melhores regalias,
remunerações mais elevadas e mais horas de lazer, a receita é fácil, embora não
conste do discurso dos sindicalistas: trabalhar melhor.
Já aqui tinha
escrito, em fevereiro, que António Costa está sob chantagem dos radicais de
Esquerda que apoiam o seu Governo. O Orçamento do Estado, equilibrado como
nunca esteve, é um apetite. A má noticia, para este efeito, é que há eleições
em outubro de 2019. Até lá, o aumento do número de greves vai ser proporcional
ao crescimento desse apetite."
Conclusão do primeiro texto do Ricardo:
Conclusão do primeiro texto do Ricardo:
"As questões
de esquerda e de direita a que dá vontade de associar o texto (uns não são
melhores que os outros), cá vai a fábula que retirei da "Permanência em
fabulário de mudança":
"Depois de uma caminhada prolongada um burro, que um burriqueiro guiava por um caminho bem desbravadinho, deixou a via certa para se lançar por uma ribanceira. Como ia cair num abismo o burriqueiro agarrou-o pela cauda e esforçou-se por o puxar para cima, para a berma. Mas o burro arqueava-se em sentido inverso, para baixo. Enfim o burriqueiro estas palavras lhe atirou sem mais insistir em o puxar - Amarga vitória essa tua. Não ta disputarei..."
"Depois de uma caminhada prolongada um burro, que um burriqueiro guiava por um caminho bem desbravadinho, deixou a via certa para se lançar por uma ribanceira. Como ia cair num abismo o burriqueiro agarrou-o pela cauda e esforçou-se por o puxar para cima, para a berma. Mas o burro arqueava-se em sentido inverso, para baixo. Enfim o burriqueiro estas palavras lhe atirou sem mais insistir em o puxar - Amarga vitória essa tua. Não ta disputarei..."
Último texto do Ricardo:
Manter uma
página de opinião é um trabalho árduo e há que seguir um rumo sem desviar-se um
milímetro. À nossa volta, no entanto, estão os outros, os que rumam de acordo
com as marés da História e os que se deixam ir, flutuando, por essas mesmas
marés. Habituaste-te a citar os outros e não sais desse registo. No entanto
corres o risco de desanimar, pois aquilo
que se vê hoje nem sempre é o que aconteceu há 10 anos. Já há muito que sigo
desanimado com o rumo dos acontecimentos da história, mais as mentalidades
mesquinhas que a produzem. Ainda vou lendo aqui e ali, mas a cada dia que passa
fico mais triste com o que me cerca - as oportunidades perdidas desde os tempos do
Cavaco até à atualidade...
Beijos,
Ricardo
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