sexta-feira, 20 de abril de 2018

Quem são, afinal, os maus da fita?


As imagens que nos são mostradas, de crianças retiradas de escombros, de sofrimentos sem dúvida inenarráveis, vêm dar razão a Marisa Matias que ataca EUA, a França e o RU por se terem coligado atacando com mísseis a Síria, contra um Assad que a Rússia protege, e que não se cansa de retaliar o seu povo rebelde.
Nunca mais, de facto, ouvi falar dos jihadistas, a opinião ocidental calou-se com esses, que praticam o crime em nome da religião. O que se dizia dos jihadistas deixou de ter relevância no nosso jornalismo piedoso, agora assestando as suas baterias, como Marisa, nos ocidentais desejosos de protagonismo.
O artigo de Marisa Matias aparenta os bons sentimentos do costume esquerdista, e tem razão, que as imagens de atropelo sírio destruidor são de horror. Mas, como afirmam alguns comentadores, a sua imparcialidade peca por omissão de responsáveis. Por isso, dou a palavra aos seus comentadores, e termino com um artigo sobre Bashar al-Assad, extraído da Internet, que de modo nenhum o engloba no rol dos grandes criminosos do poder. Aliás, a sua figura serena julgo que atrai as simpatias gerais, e a própria Marisa, talvez por o saber protegido por Putin, o preserva da sua crítica, preferindo pôr a ridículo os três parceiros ocidentais, ao que parece, desejosos de saliência política ultimamente em  déficit, por razões políticas ou de arrogância apenas. Marisa não lhes reconhece bondade no gesto atacante, o povo sírio continua a ser destruído, ao que parece por um Assad apoiado na Rússia, refractários ambos ao terrorismo.
Mas os comentários sobre o artigo de Marisa são elucidativos da sua parcialidade analítica, a mesma que observamos nas suas “irmãs” e irmãos em alma.
OPINIÃO
Ninguém quer saber da Síria
O único lado que há para defender é mesmo o do povo sírio. O mundo está a ser comandado por loucos. Se aceitarmos fazer-lhes companhia, somos cúmplices.
MARISA MATIAS
PÚBLICO, 17 de Abril de 2018
O recente lançamento de 100 mísseis sobre a Síria, a mando dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido, é apenas mais um triste episódio da tragédia que se abateu sobre o povo sírio. Não faltaram as vozes que ecoaram: “finalmente uma resposta”. Nada mais errado. O ataque de mísseis nada resolve a adia a solução política e diplomática que o povo sírio há tanto tempo merece. Repudiar este ataque não é em nada sinónimo de apoiar a política de Assad ou de não querer derrotar o terrorismo na região. Repudiar e condenar este ataque tem a mesma importância que repudiar e condenar o uso de armas químicas ou os sucessivos ataques contra o povo sírio. Nesta história, não há lideranças boas e más. São todas más.
A guerra alimenta-se a si própria. Trump enfrenta problemas nos Estados Unidos com as investigações que o FBI continua a conduzir a seu respeito e com a sua queda de popularidade, Theresa May enfrenta problemas com as consequências e as negociações do Brexit, Macron enfrenta problemas com os trabalhadores franceses e com a sua própria incapacidade política. Três líderes fragilizados nos seus países resolveram, sozinhos, que dar seguimento à tragédia síria seria o seu principal desígnio. Não consultaram nenhum dos seus respectivos órgãos de soberania - fazendo da democracia um detalhe do passado - e ridicularizaram de uma assentada os esforços das Nações Unidas e do seu Secretário-Geral, António Guterres. Só a ingenuidade pode permitir pensar que o objectivo é a paz na Síria. Se o objectivo fosse a paz, onde estiveram e o que têm feito nas Conversações de Genebra lideradas pelas Nações Unidas e pelo seu representante Staffan de Mistura? Se o objectivo fosse a paz, onde estiveram e o que fizeram aquando da Cimeira de Astana? Se o objectivo fosse a paz, onde estiveram e o que fizeram na Conferência de Sochi, cujo objectivo era precisamente um plano para a paz e os britânicos boicotaram? Se o objectivo fosse a paz, por que razão estes países, que são das maiores potências de armamento mundial, se recusaram a suspender a venda de armamento para os países que alimentaram e alimentam o terrorismo?
Há pouco tempo, Donald Trump decidiu retirar as tropas americanas da Síria, chegando mesmo a declarar que se a Arábia Saudita as quisesse manter que as pagasse. Mas, entretanto, contratou John Bolton para seu conselheiro (sim, o mesmo de Bush e um dos "ideólogos" da guerra do Iraque) e conversou com Macron. Tudo mudou, uma vez mais. Como já referi, a guerra alimenta-se da guerra e estes três líderes estão a precisar de “mostrar quem manda”.
A posição da União Europeia foi igualmente penosa. Da Comissão ao Parlamento, declaram-se intenções de que a “Europa deve falar a uma só voz”. Curiosamente, ou não, a União Europeia é - e foi na hora da decisão - absolutamente irrelevante e daí a tentativa desesperada de não ficar de fora de uma fotografia por muito má que ela seja. Os líderes europeus perceberam, mais uma vez, que ninguém lhes liga nenhuma.
Uma das tragédias da Síria é estar no sítio onde está. É ponto de passagem de muitos interesses e as grandes potências tanto mundiais como regionais querem ocupar o “caminho” que por aí passa. Após 2011, e na sequência das sucessivas revoltas que tiveram lugar nos países do Magreb e do Maxerreque, poderia apostar-se que a Síria seria um dos países onde mais facilmente se encontrariam soluções políticas. Não foi assim. Assad mandou disparar contra o seu povo, todos os actores internacionais quiseram tomar partido e armou-se até aos dentes todo o tipo de grupos, reemergindo em força o terrorismo. Morreram centenas de milhares de pessoas, milhões tiveram que fugir. Na altura em que foi preciso demonstrar solidariedade com as pessoas que fugiam à guerra e ao terrorismo, a União Europeia e as grandes potências internacionais ditas democráticas e defensoras da Carta dos Direitos Humanos viraram a cara. Como se nada fosse, permitiram que se produzisse a maior crise humanitária de refugiados da história. As pessoas que se viram forçadas a deixar as suas casas foram ainda usadas por muitos dos países ditos democráticos e defensores dos direitos humanos para acicatar o discurso do ódio, do racismo, da xenofobia. Quando mais precisaram, ninguém quis saber dos sírios. Como hoje. Quem se levanta para aplaudir uma clara violação do direito internacional continua a não querer saber do povo sírio.
É preciso ter coragem e força de condenar este ataque, a mesma força e coragem que alguns têm tido para condenar a acção de Bashar Al Assad e da Rússia. O único lado que há para defender é mesmo o do povo sírio. O mundo está a ser comandado por loucos. Se aceitarmos fazer-lhes companhia, somos cúmplices.

Comentários:

OPINIÃO
Ninguém quer saber da Síria
O único lado que há para defender é mesmo o do povo sírio. O mundo está a ser comandado por loucos. Se aceitarmos fazer-lhes companhia, somos cúmplices.
MARISA MATIAS
PÚBLICO, 17 de Abril de 2018
O recente lançamento de 100 mísseis sobre a Síria, a mando dos Estados Unidos, da França e do Reino Unido, é apenas mais um triste episódio da tragédia que se abateu sobre o povo sírio. Não faltaram as vozes que ecoaram: “finalmente uma resposta”. Nada mais errado. O ataque de mísseis nada resolve a adia a solução política e diplomática que o povo sírio há tanto tempo merece. Repudiar este ataque não é em nada sinónimo de apoiar a política de Assad ou de não querer derrotar o terrorismo na região. Repudiar e condenar este ataque tem a mesma importância que repudiar e condenar o uso de armas químicas ou os sucessivos ataques contra o povo sírio. Nesta história, não há lideranças boas e más. São todas más.
A guerra alimenta-se a si própria. Trump enfrenta problemas nos Estados Unidos com as investigações que o FBI continua a conduzir a seu respeito e com a sua queda de popularidade, Theresa May enfrenta problemas com as consequências e as negociações do Brexit, Macron enfrenta problemas com os trabalhadores franceses e com a sua própria incapacidade política. Três líderes fragilizados nos seus países resolveram, sozinhos, que dar seguimento à tragédia síria seria o seu principal desígnio. Não consultaram nenhum dos seus respectivos órgãos de soberania - fazendo da democracia um detalhe do passado - e ridicularizaram de uma assentada os esforços das Nações Unidas e do seu Secretário-Geral, António Guterres. Só a ingenuidade pode permitir pensar que o objectivo é a paz na Síria. Se o objectivo fosse a paz, onde estiveram e o que têm feito nas Conversações de Genebra lideradas pelas Nações Unidas e pelo seu representante Staffan de Mistura? Se o objectivo fosse a paz, onde estiveram e o que fizeram aquando da Cimeira de Astana? Se o objectivo fosse a paz, onde estiveram e o que fizeram na Conferência de Sochi, cujo objectivo era precisamente um plano para a paz e os britânicos boicotaram? Se o objectivo fosse a paz, por que razão estes países, que são das maiores potências de armamento mundial, se recusaram a suspender a venda de armamento para os países que alimentaram e alimentam o terrorismo?
Há pouco tempo, Donald Trump decidiu retirar as tropas americanas da Síria, chegando mesmo a declarar que se a Arábia Saudita as quisesse manter que as pagasse. Mas, entretanto, contratou John Bolton para seu conselheiro (sim, o mesmo de Bush e um dos "ideólogos" da guerra do Iraque) e conversou com Macron. Tudo mudou, uma vez mais. Como já referi, a guerra alimenta-se da guerra e estes três líderes estão a precisar de “mostrar quem manda”.
A posição da União Europeia foi igualmente penosa. Da Comissão ao Parlamento, declaram-se intenções de que a “Europa deve falar a uma só voz”. Curiosamente, ou não, a União Europeia é - e foi na hora da decisão - absolutamente irrelevante e daí a tentativa desesperada de não ficar de fora de uma fotografia por muito má que ela seja. Os líderes europeus perceberam, mais uma vez, que ninguém lhes liga nenhuma.
Uma das tragédias da Síria é estar no sítio onde está. É ponto de passagem de muitos interesses e as grandes potências tanto mundiais como regionais querem ocupar o “caminho” que por aí passa. Após 2011, e na sequência das sucessivas revoltas que tiveram lugar nos países do Magreb e do Maxerreque, poderia apostar-se que a Síria seria um dos países onde mais facilmente se encontrariam soluções políticas. Não foi assim. Assad mandou disparar contra o seu povo, todos os actores internacionais quiseram tomar partido e armou-se até aos dentes todo o tipo de grupos, reemergindo em força o terrorismo. Morreram centenas de milhares de pessoas, milhões tiveram que fugir. Na altura em que foi preciso demonstrar solidariedade com as pessoas que fugiam à guerra e ao terrorismo, a União Europeia e as grandes potências internacionais ditas democráticas e defensoras da Carta dos Direitos Humanos viraram a cara. Como se nada fosse, permitiram que se produzisse a maior crise humanitária de refugiados da história. As pessoas que se viram forçadas a deixar as suas casas foram ainda usadas por muitos dos países ditos democráticos e defensores dos direitos humanos para acicatar o discurso do ódio, do racismo, da xenofobia. Quando mais precisaram, ninguém quis saber dos sírios. Como hoje. Quem se levanta para aplaudir uma clara violação do direito internacional continua a não querer saber do povo sírio.
É preciso ter coragem e força de condenar este ataque, a mesma força e coragem que alguns têm tido para condenar a acção de Bashar Al Assad e da Rússia. O único lado que há para defender é mesmo o do povo sírio. O mundo está a ser comandado por loucos. Se aceitarmos fazer-lhes companhia, somos cúmplices.

Comentários:
Portugal 18.04.2018:  A autora repudia um ataque que não provocou vitimas e atingiu apenas objetivos militares de um miserável regime assassino. Significativo.
  17.04.2018: Bem, até certo ponto acho que tem razão!... Atualmente os únicos rebeldes sírios na Síria são os do YPG, que são apoiados pelos americanos, russos até por Assad... Tudo o resto são mercenários jiadistas contratados pelos países ocidentais... Mas a razão principal desta guerra não são os ataques com gases ou coisa que o valha...  Estão-se borrifando para o povo sírio... A Arábia Saudita quer acabar com Assad porque quer fazer um pipeline para o mediterrâneo... Por outro lado, os russos já o estão a fazer através da Turquia e por isso têm as bases em Latakia... Os americanos e os rebeldes são pagos pela Arábia Saudita, para fazerem o trabalho... Mas os russos já estão adiantados.... Vamos ver como isto acaba...a ideia dos russos é uma Síria federal com zonas autónomas... Os americanos não têm ideias!.
  17.04.2018: A opinião de uma troll russa que só serve para encher chouriços, nem me dou ao trabalho de ler . . . aposto que o conteúdo é Ocidentais malvados que matam sírios sem dó nem piedade (apesar dos misseis não terem provocado mortos) e a santificação do Putin e companhia que despejam toneladas de bombas em cima de sírios inocentes matando centenas por dia . . .
18.04.2018: Pelos vistos dás-te ao trabalho de fazer comentários sem ler. Mais valia estares quieto. Santa ignorância....
17.04.2018: Extraordinário! Um artigo de opinião sobre a Síria e em nenhuma linha encontramos a Rússia e os interesses russos; o Irão e os interesses iranianos; etc..... Este é um exemplo de imparcialidade! Há que aprender se queremos estar na onda! Dá prazer bater na Europa e, ainda por cima, sendo-se eurodeputada!
Portugal 18.04.2018 : De facto, extraordinário pela negativa. O nome da Rússia aparece uma única vez: «É preciso ter coragem e força de condenar este ataque, a mesma força e coragem que alguns têm tido para condenar a acção de Bashar Al Assad e da Rússia.»
  Portugal 17.04.2018: Eu gosto da Marisa. Curiosamente, ela usa neste texto creio que quatro vezes a palavra “terrorismo” … vá lá… é que estou farto e cansado de em todos os textos dos opinadores que se dizem “especialistas” sobre a Síria, com milhares de palavras e centenas de parágrafos, nunca falarem em “terroristas”… São catadupas de narrativas manipuladoras e branqueadoras que omitem os “terroristas” e também o “povo”… esse povo ou essa população, esses opinadores sebentos e belicistas e encobridores dos terroristas só utilizam quando lhes dá jeito para demonizar os militares sírios que morrem que nem tordos a combaterem os terroristas.
Mas a Marisa foca e acentua o sofrimento da população no meio desta guerra de interesses globais sebentos e criminosos, e lá fala no terrorismo patrocinado pelas hipócritas “democracias” e seus aliados sem o qual não haveria guerra nem sofrimento. Muito bem Marisa.
Li ontem um artigo no Independent “Watching on as Islamist fighters are evacuated from war-torn Eastern Ghouta” de um reporter occidental que está no terreno… não está como a maioria sentado em Londres a reescrever e a reescrever vezes sem conta a narrativa dos patrocinadores dos terroristas, a aliança saudita/americana e seus aliados. Achei mais que curioso que ele descreve os “islamitas” que saíram de Ghouta nos últimos dias… vale a pena ler… e o mais curioso é que ele contou milhares e milhares desses barbudos de sandálias e metralhadora e pergunta: “Onde estava esta gente que nunca, nunca aparece nas fotos dos media ocidentais?”… sim, reparemos que os media ocidentais nunca falam em terroristas, nunca mostram fotos de terroristas e … há-os aos milhares e milhares ...
Diz o repórter que os terroristas exigem sempre nos acordos que não haja fotos, nem mesmo da sua saída e das suas famílias… de facto noto que dos milhares e milhares que saíram de Ghouta (talvez mais de 20 mil?) não há fotos nos media ocidentais, apenas uma ou outra imagem quase indefinida e se calhar captada às escondidas. Além de omitirem e apagarem os terroristas, os media ocidentais também apagam e omitem os civis que buscam a protecção dos militares sírios, cerca de 16 milhões ou mais… É obra! É obra os media de “referência” conseguirem omitir milhares e milhares de terroristas armados e milhões e milhões de civis sírios que fogem a esses terroristas. É obra!
17.04.2018: Caro joao, os media ocidentais também são peritos a omitir o armamento dos terroristas. Com a libertação de Ghouta têm sido descobertas dezenas de caves onde os terroristas guardavam as suas munições. um verdadeiro arsenal de guerra, que causou muita mortandade à população de Damasco. As imagens estão disponíveis e são do domínio público mas os jornalistas ocidentais por motivos óbvios (propaganda) nunca nos trazem uma imagem das bombas e mísseis que os terroristas tinham na sua posse.
  18.04.2018:  "têm sido descobertos dezenas de caves onde os terroristas guardavam as suas munições." - E esses terroristas são os Capacetes brancos, pois eram eles que ocupavam essas instalações.

Bashar al-Assad
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Bashar Hafez (Damasco11 de setembro de 1965) é um político sírio e o atual presidente de seu país e Secretário Geral do Partido Baath desde 17 de julho de 2000. Sucedeu a seu pai, Hafez al-Assad, que governou por 30 anos até sua morte.
Al-Assad formou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Damasco em 1988, e começou a exercer a profissão no exército. Quatro anos mais tarde, ele participou de estudos de pós-graduação do Hospital Ocidental Eye, em Londres, especializando-se em oftalmologia. Em 1994, depois de seu irmão mais velho, Bassel al-Assad, ser morto em um acidente de carro, Bashar foi chamado para a Síria para assumir o seu papel como herdeiro aparente. Ele entrou na academia militar, assumiu o comando da ocupação da Síria no Líbano em 1998. Em dezembro de 2000, Assad se casou com Asma al-Assad, nascida Akhras. Al-Assad foi reconfirmado pelo eleitorado nacional como o presidente da Síria em 2000 e 2007, após o Conselho Popular da Síria ter votado para propor o titular de cada vez.

Inicialmente visto pela comunidade nacional e internacional como um potencial reformador, essas expectativas cessaram quando ele ordenou uma repressão em massa e cercos militares contra manifestantes pró-rebeldes em meio a uma guerra civil recente, descrito por alguns comentaristas como relacionados ao amplo movimento da Primavera Árabe. Posteriormente, a renúncia de al-Assad da presidência foi pedida por grande parte da oposição doméstica sunita do país, pelos Estados Unidos, pelo Canadá, pela União Europeia e pelos Estados membros da Liga Árabe. Ele pertence à seita minoritária alauita e seu governo tem sido descrito como secular. 

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