quarta-feira, 15 de abril de 2009

A lava do nosso medo

Somos um povo bom e generoso, sempre pronto a ajudar o próximo, é bem antiga a Santa Casa da Misericórdia, instituições como a do Padre Américo, os Sem Abrigo e até a Casa Pia são comprovativos dessa nossa bondade, bem precisa para ajudar quem de nós precise e são cada vez mais os nossos pobres, acrescidos ultimamente com os pobres de outros países pobres que os deixam vir com satisfação. Somos esmoleres de longa data, a instituição da mendicidade cobre as nossas ruas como uma lava petrificada que escorreu do magma da nossa incapacidade de educar e de governar sem ser salvaguardando uns tantos com o menosprezo da maioria. Desde sempre.
Por isso a maioria pobre foi tentando sobreviver trabalhando de sol a sol, sem tempo nem condições para se instruir, esbulhados nos seus direitos, alombando com os pesos do trabalho duro e dos encargos familiares, não deixando, contudo de ajudar os mais pobres ainda, com a esmola da côdea ou da malga de caldo comido à soleira da porta. Era assim dantes, dizem os avós e até os livros passados. O Charles Dickens também conta histórias de miséria e o Victor Hugo, mas a par disso, até pela caricatura, os tipos sociais descritos têm algo de consistente, de gente com capacidades intelectuais que certamente lhes advinha de um status menos embrutecedor. A nós ficou-nos o fado chorado e as expressões exclamativas da nossa ternura generosa, como o “coitadinho” e afins.
Vê-se que vamos continuar a ter que despender a nossa generosidade e mesmo o nosso Primeiro Ministro não foge à regra esmoler portuguesa, pois dizem que anda a distribuir com muita garra discursiva pelos que não têm condições de sobrevivência, que aumentaram, por via dos desempregos que se multiplicaram, para acréscimo da despesa pública.
E se alguns acham indignas tal pobreza e tal mendicidade e este apoio generoso à inércia que nos condena, logo surge a resposta de que o que é indigno é roubar, e, contudo, os que mais roubam são os mais honrados no nosso país.

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