sexta-feira, 10 de abril de 2009

Um conto de dragões que pode ser pascal

Dois funcionários pertencentes a duas nações potentes – alemã e otomana – discutiam valentemente os valores da respectiva nação, a turca pertencente ao sultão, a germânica ao imperador alemão, que por ter poderosos eleitores, vivia em discórdia permanente.
Maçado com a vaidosa sensaboria do seu opositor, que não se cansava de valorizar o seu imperador, o oficial da Turquia, para lhe dar uma boa lição, contou uma aventura terrível por ele vivida um dia, com receio, é certo, concebível por estar habituado ao seu ripanço.
De facto, em bom descanso se achava nesse tal dia, por trás de uma sebe, quando uma hidra de cem cabeças tentou passá-la, direita a ele, sem o conseguir, todavia, que as cem cabeças, ao vergar-lhe o corpo, foram obstáculo a tamanha ribaldaria.
Estava o turco no estranho caso a meditar, feliz por à morte escapar, quando outro dragão, por trás da sebe surgiu, de uma só cabeça, sim, mas muitas caudas ao corpo agarradas. E o espanto do turco foi enorme, ao ver que o horrendo bicho a sebe passou, cada cauda abraçando-se de maneira, que a primeira apoiou a derradeira e todas o corpo e a cabeça cimeira.
Mal não lhe fez o dragão, que as caudas são sempre inofensivas, mas concluiu o turco que um dragão de uma só cabeça embora com bastantes caudas – que, aqui para nós, podem até ser de palha – governa tão bem e até melhor, pois atravessa os obstáculos, apoiada na parte inferior, do que um dragão com muitas cabeças as quais, com seu ar superior, lançada cada uma em sentido divergente e sem solidariedade, o impedem de ultrapassar as sebes que gostaria de transpor.
É do La Fontaine a fábula dos dois dragões, e serve como lição pascal, de que é necessária a harmonia, seja na ditadura ou na democracia.
Entre nós, contudo, o caso é bem diferente, pois que nos falta o pão e ralharemos sempre, que o provérbio não falha, mesmo tendo nós rabos de palha.

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