domingo, 5 de abril de 2009

Pois se não foste tu foi teu pai

Vem a lume a fábula do lobo e do cordeiro, este último, embora tendo demonstrado a falsidade das acusações do lobo relativamente ao roubo da água do rio, supostamente praticado por si ou pelo seu inexistente irmão, não conseguiu o mesmo relativamente ao triste pai, e acabou comido.
Que os lobos usam sempre estes esquemas de acusações falsas para tramar o próximo de condição inferior, num país frágil como o nosso – e tantos mais por aí - onde prevalece a razão do mais forte, e nem precisam de grandes argumentos para comer, figurativamente, os cordeiros – exprimindo esta última figura os tais de condição inferior que, para colherem algumas benesses, se habituaram, em contrapartida, à expressão da humildade e da subserviência perante o superior.
É certo que tudo na vida se processa segundo hierarquias, mas também devemos ter presente a já estafada noção da relatividade que nos condiciona, e por isso não devíamos importar-nos tanto com as diferenças mas tentar antes alcançar a nossa, sem complexos provincianos.
Todavia, a nossa arrogância cá dentro transforma-se muitas vezes lá fora – salvo as excepções honrosas – em atitude de humilde simpatia, de efeito promocional vantajoso. Reporto-me a Durão Barroso e ao seu provinciano comentário, elogiando o discurso europeu de Obama.
Enquanto todos os comentadores acentuaram pormenores pontuais desse discurso visando o despoletar de uma abertura política, económica e social da USA sobre a Europa e o mundo, feito, aliás, com à-vontade enérgico próprio da sua superioridade indiscutível, Durão Barroso foi buscar o banal parâmetro da humildade como motivo do seu elogio sintético.
Humildade foi o que viu e lhe caiu no goto, indiferente aos dados objectivos, verdadeiros ou falsos, mas que a todos pareceram fulcrais.
A humildade que ele sabe indispensável para vencer ou convencer, que salientou em sensaborão complexo – o qual tão bem rege as nossas vidas lusas, sempre servis perante o poder dos lobos.

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