quarta-feira, 29 de abril de 2009

Como salvar Portugal

Esperava-se que Fátima C. Ferreira convidasse os vultos nacionais mais exponenciais para decidir o assunto, mas tratou-se, antes, de um espectáculo de exibição de saberes ou experiências sem importância, dos expoentes do costume - Mário Soares, que tem sempre saída, Leonor Beleza não se sabe bem porquê, e alguns outros emparceirando respeitosamente com o primeiro expoente-mor e as suas histórias bem intencionadas, pelo menos do seu ponto de vista um tanto romanceado, em episódios que a sua excelente memória vai desenterrando, para manutenção da sua auréola ficcional.
Todos apontaram, é certo, nos seus diagnósticos sobre o estado da Nação, os défices de valores, entre os quais o da educação de cidadania, a falência dos códigos de deontologia, o défice de moralidade segundo designação do livro referenciado de Eduardo Prado Coelho.
Alguém informou também que a democracia dá muito trabalho, não sabemos se estava a referir-se ao trabalho dos que tomam nas mãos as rédeas dos dinheiros públicos em termos de uso pessoal o que, certamente, lhes exige esforços desgastantes na urdidura das teias imprescindíveis para tal, ou se se tratava dos patrões que se aproveitam do pânico dos despedimentos para imporem exigências laborais impertinentes aos seus empregados, ou, enfim, dos que se esforçam por mostrar que amam e protegem o próximo menos dotado, dentro da doutrina da solidariedade em função de uma possível reviravolta de oportunidades para si próprios.
O professor universitário do programa achava que na Instituição Universitária reside a chave para a salvação da crise, quer pela produção do conhecimento, dela específico, quer pela transferência das peças centrais do seu xadrez para o artilhamento social em reconversões profissionais, ou mesmo pelas actividades investigadoras que proporciona, tão necessárias para se concorrer aos prémios científicos no estrangeiro...
Via-se que ele estava convencido dos seus pontos de vista, mas acrescentou logo o pedido de apoio financeiro, porque não é só dar, deve-se também receber, como explica a canção romântica. Como conheço casos de professores a quem a Universidade ficou a dever impunemente inúmeros ordenados – é certo que se tratou de Universidade particular, mas deve haver regras, mesmo para o particular – não sei se o professor do programa da Fátima não terá exagerado a respeito da competência cultural e ética da Universidade para a saída da crise aguda que atravessamos.
Houve também quem referisse a partidocracia, a falta de união dos partidos como obstáculo à solução da crise, cada partido pouco interessado na Nação e apenas em si próprio, para chegar mais rapidamente ao poder e assim partilhar também do bolo que este proporciona, como se tem visto.
Os únicos casos em que houve união dos partidos, constituindo êxitos nacionais, pela cooperação partidária, foram o caso de Timor, a adesão à Europa e a inserção no euro. Só não explicaram o porquê disso.
Quanto a mim, a questão de Timor não nos exigiu tanto esforço assim, Timor como terra dos confins, todos nós podendo demonstrar afecto e uma canção de saudade, que não nos custaram praticamente nada, simpáticos como somos e bons cantores, além de que quem realmente os ajudou quase em peso foram outros, os do costume.
Quanto à adesão à Europa e à inserção no euro, isso só nos beneficiou, economicamente falando. E quando se trata de dinheiro, não há quem resista. Todos nós nos unimos à volta do osso.

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