segunda-feira, 13 de abril de 2009

O rabo da serpente

Cada vez me convenço mais de que os clássicos já disseram tudo o que havia a dizer a respeito da humanidade e nós agora não fazemos mais do que aplicar-lhes a sabedoria. O próprio La Fontaine afirmou que pintava heróis de que Esopo era o pai, teve só que ampliar-lhes a narrativa dos feitos, coisa que, antes de si, Fedro também já tentara. A própria Bíblia está recheada de aforismos e parábolas, prova de que também eles – os que a fizeram – sabiam da poda a esse respeito.
A história contada por M. Filomena Mónica sobre o Secretário da Educação, Valter Lemos, cabe inteirinha na fábula da serpente cujo rabo, que contém veneno, como os dentes da cabeça, que também contêm, para injectar nas presas e assim governar a vida, se achava com os mesmos direitos da mana para conduzir o seu rastejante corpo de ofídeo.
O Céu, complacente, satisfez-lhe a vontade, do que resultou que a serpente, guiada pelo rabo, disparou às cegas e acabou no Estígio, tal como a sua irmã cabeça, mais o tronco rastejante. A moral da fábula, segundo La Fontaine, é toda actual: “Malheureux les États tombés dans son erreur.”
M. F. Mónica conta do percurso educacional e político de Valter Lemos, ex-professor de biologia, formado em Ciências da Educação pela U. de Boston, passagem ao governo com os améns gratos do PS. Teve faltas injustificadas na Câmara de Penamacor, terra natal, nunca participou em debates parlamentares, nunca discursou, mas fez um livro – “O Critério do Sucesso – Técnicas da Avaliação da Aprendizagem” que lhe proporcionou os amens e a gratidão. Livro fundamental, que desdenha os saberes, apoiado em normas pseudo-científicas expressas em quadrados, transformando o ensino português numa salada mista de ingredientes que dão sabor ao universo da fantasia estudantil e lhe retira as responsabilidades de outros universos mais racionais e dignos.
Foi este livro do seu secretário - o rabo da serpente – que a cabeça orientadora da Ministra da Educação quis aplicar, para governar o corpo da serpente – a nossa Educação. Assim. Às cegas, e sempre rastejando. Espera-nos o Estígio.

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