quarta-feira, 15 de abril de 2009

“Nem que seja para abrir buracos”

Esta expressão de uma telespectadora, lembrando a terra como recurso, ao comentar a inércia, vulgo preguicite nacional, que muitas vezes aceita acomodadamente o subsídio em vez de procurar outra forma de subsistência, trouxe-me ao espírito memórias antigas e outras muito mais recentes, de abertura de buracos na nossa terra.
Era em Coimbra, não nos tempos prodigiosos de Antero e Eça, naturalmente, mas de meados do século seguinte, percorrido já pelo automóvel, que eu estranhava, prosaicamente, a constante abertura de valas na Ferreira Borges, e não compreendia aquela sequência interminável de dias de valas que se não fechavam, mesmo junto ao consultório do Dr. Adolfo Rocha, tão estimado, na dimensão da sua arte em verso e prosa. Mas nas outras cidades o mesmo se ia passando, construindo, destruindo, abrindo, fechando valas, interminavelmente, ao longo dos tempos, em ensaios muitas vezes de amadores, pois o fecho das valas nem sempre era perfeito e o incauto facilmente se estatelava, sobretudo na calçada à portuguesa, feita e refeita com lombas e buracos.
Nos nossos tempos, cada companhia, de diferente manipulação, abre e fecha a vala por conta própria ou da câmara da terra, nunca de forma organizada segundo parâmetros de coincidência temporal. Assim, no caso dos colectores de saneamento, abrem-se as valas por longos tempos e fecham-se, para a seguir vir a companhia das águas abrir e fechar para as respectivas tubagens, e a da electricidade para os cabos... E os passeios da Câmara, para a reparação da calçada danificada. E tudo leva tempos infinitos, difíceis para todos e mais ainda para os que andam em cadeira de rodas ou com canadianas ou tacões finos.
Por isso me assustei com a expressão da senhora que manda os mandriões trabalhar, “nem que seja para abrir buracos”.
A menos que os buracos fossem no trabalho da terra. Mas a União Europeia proibiu e o melhor é os campos continuarem assim, maninhos. Temos o subsídio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não vou comentar o texto, mas sim contactar desta forma com a AmaisB.
Pareceu-me chamar-se Berta Brás.
Por alguns dos textos, que só hoje acedi, procurando o contacto da Berta Brás, parece ter vivido em Lourenço Marques.
Como em Lourenço Marques, na Escola Comercial e Instituto, tive uma professora chamada Berta Brás, a Português e Francês, venho por esta forma perguntar se é a mesma pessoa.
Se for teria todo o gosto em receber um contacto para:
Carlos Belchior Ricardo
ricardocarl@gmail.com
Com as minhas desculpas por utilizar o artigo para o contacto, apresento os meus Cumprimentos
Carlos Ricardo