Tive um domingo ocupado, não me lembrei da fábula do cão ávido, segundo Fedro, do livro de latim do meu 6º ano do liceu. Faço-o hoje, com velha ternura por um fabulista muito posterior a Esopo, que viveu no século de Augusto, e que transpôs para verso as fábulas a este atribuídas, como, no seu Prólogo modestamente afirma: “O autor Esopo criou a matéria que eu limei em versos jâmbicos. Duplo mérito o livro tem, que move ao riso e que aconselha uma vida de bem” . É, provavelmente, uma fábula de origem oriental, essa do cão néscio, como grande parte das fábulas atribuídas a Esopo, do século VI a.C., só no século IV a. C. reunidas em volume por Demétrio de Falero. Reponho, pois, a fábula por mim esquecida, do autor latino, que apresenta como subtítulo, o provérbio em português “Quem tudo quer tudo perde”, para seu complemento moral:
«O cão que levava carne no rio»
«Quem cobiça o alheio perde, muito justamente, o próprio bem. / Como levasse carne, ao atravessar um rio, / Um cão, no espelho das águas, viu a sua imagem; / E julgando que outra presa por outro era levada, / Quis furtar-lha: realmente, a sua avidez foi enganada, / Pois perdeu o alimento que na boca levava / E, além disso, não pôde alcançar o que ansiava.»
Enquanto, pois, Esopo conclui a sua história pela moral, aplicado o exemplo ao homem insaciável, Fedro inicia a sua com o aviso prévio de castigo consequente do erro, lição generalizada a todos os homens, seguida da narrativa, de idêntica estrutura semântica.
“Quem tudo quer, tudo perde”, dizia-se, pois, antigamente. Eram provérbios assim, de uma moral de bons costumes, que havia no colégio do Sr Muche, pendurados em quadros nas paredes, que o honesto Topaze ensinava convictamente aos seus alunos. Até que um dia percebeu que essa moral apoiada pelos “chefes” ( do latim “caput”, cabeça) se dirigia exclusivamente aos “pés”, ou seja, aos subordinados - às “bases”, segundo terminologia do momento. E o modesto professor da peça de Pagnol, em breve singraria por idênticas vias de acção dos chefes, mandando às urtigas os provérbios da sua ingenuidade.
Os pobres fabulistas moralizadores não passam, hoje, de dinossauros de museu. Como os provérbios da sabedoria popular. Ou seja, de papalvos para papalvos, nunca para “doutores”.
«O cão que levava carne no rio»
«Quem cobiça o alheio perde, muito justamente, o próprio bem. / Como levasse carne, ao atravessar um rio, / Um cão, no espelho das águas, viu a sua imagem; / E julgando que outra presa por outro era levada, / Quis furtar-lha: realmente, a sua avidez foi enganada, / Pois perdeu o alimento que na boca levava / E, além disso, não pôde alcançar o que ansiava.»
Enquanto, pois, Esopo conclui a sua história pela moral, aplicado o exemplo ao homem insaciável, Fedro inicia a sua com o aviso prévio de castigo consequente do erro, lição generalizada a todos os homens, seguida da narrativa, de idêntica estrutura semântica.
“Quem tudo quer, tudo perde”, dizia-se, pois, antigamente. Eram provérbios assim, de uma moral de bons costumes, que havia no colégio do Sr Muche, pendurados em quadros nas paredes, que o honesto Topaze ensinava convictamente aos seus alunos. Até que um dia percebeu que essa moral apoiada pelos “chefes” ( do latim “caput”, cabeça) se dirigia exclusivamente aos “pés”, ou seja, aos subordinados - às “bases”, segundo terminologia do momento. E o modesto professor da peça de Pagnol, em breve singraria por idênticas vias de acção dos chefes, mandando às urtigas os provérbios da sua ingenuidade.
Os pobres fabulistas moralizadores não passam, hoje, de dinossauros de museu. Como os provérbios da sabedoria popular. Ou seja, de papalvos para papalvos, nunca para “doutores”.
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