sexta-feira, 23 de abril de 2010

Os princípios da ecologia na fábula

Se La Fontaine estivesse
Nos dias de hoje, veria
Que o que já se fazia
Antigamente,
- Desrespeitar a natureza
Com ingratidão e fereza -
Se acentuou
Extraordinariamente
No tempo presente.
Felizmente agora
Há a ecologia
A advertir,
Conquanto inutilmente,
Que é preciso ser grato à Terra
E não lhe fazer guerra;
Ter-lhe respeito
Com jeito;
Porque senão
A Terra vinga-se e é o que se vê,
Nos sismos a eito,
Nos vendavais e tornados,
Nas tempestades e enxurradas,
No aquecimento global, nas inundações,
Nos vulcões em explosões,
No pânico geral e na dor inenarrável
De se destruírem os lares
Os amigos e os familiares
Só porque a natureza se vingou
De maneira insuportável
Sobre o Homem que a envileceu
Sujando, ferindo, agredindo,
Emporcalhando,
Destruindo.
Gratidão e respeito pela mãe-natura
São os princípios de envergadura
Que La Fontaine apontou
Na fábula do Lenhador devastador
Da sua Floresta.
Sentimentos verdadeiros hoje ainda,
Mas cada vez mais calcados
Espezinhados,
Pelo Homem irresponsável,
Num abuso irracional,
Sobre a Floresta Universal.
De um perigo
A merecer o castigo,
Apesar dos avisos já antigos
Duma Ecologia ainda em formação
Segundo um fabulista admirável
De percepção.


A Floresta e o Lenhador

Um Lenhador acabava de partir o cabo
Com que tinha encabado o seu machado.
O estrago não pôde ser tão cedo reparado
E o Bosque por um tempo foi poupado.
Enfim o Homem rogou-lhe humildemente
Que o deixasse suavemente
Levar um simples ramo
A fim de polir um novo cabo:
“Ele o seu ganha-pão empregaria noutro lado:
Muito carvalho e muito pinheiro deixaria intacto
Cuja velhice e encanto toda a gente respeitava.”
Mas outras armas a inocente Floresta lhe forneceu.
Bem se arrependeu.
Ele encabou o seu machado:
O miserável disso se foi servir
Para a sua benfeitora despojar
Do seu principal ornamento,
Os ramos do seu tormento.
Ela gemeu a cada momento:
A sua dádiva causou a sua dor.
Eis o trem do mundo e dos seus sectários.
Servem-se do benefício contra o benfeitor,
Estou cansado de assim o expor.
Mas que doces sombras a tais ultrajes
Estejam expostas,
Quem não se lamentaria!
Ai de mim! Por muito que me esforce a gritar,
Para avisar,
A ingratidão e os abusos
Em moda não deixarão de estar
Dia após dia.

Quem diria
Que La Fontaine previa
O que hoje nos está a acontecer
Em escala ainda maior
Do que a que ele apontou
Quando nos avisou,
Autêntico professor?
Quanto à questão
Do oportunismo na utilização
Do benefício
E na ingratidão
Contra o benfeitor
É coisa sabida,
Nem vou contestar
Nem sequer lamentar
Que é coisa perdida.

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