Chamo-lhe pausa, porque tem a ver com experiência e trabalhos campesinos, desembocando em provérbios que a minha Mãe recorda, de cada vez que pergunta a data ou o mês em que estamos. Vivemos, politicamente falando, em momento de pausa, os provérbios irão esquecendo, à medida que as políticas agrícolas actuais forem fazendo olvidar tais operações e tais provérbios da nossa ruralidade antiga.
Já passámos por Janeiro que lhe mereceu a evocação de um homem da terra – o José Reis – que costumava dizer: “Em Janeiro sobe ao oiteiro: se vires pardejar pranta-te a cantar; se vires verdejar pranta-te a chorar”, seguida da explicação trocista e sinonímica do verbo “prantar-se” que diz significar “pôr-se”, corruptela de “plantar-se”, julgo. “Pardejar”, ficar pardo, cinzento, o tempo, merece o efeito do canto, como específico desse mês frio, ao contrário do incompatível verdejar.
Fevereiro passou sem referência, mas aproveitou para esclarecer que a sua cunhada Rosinda, companheira da infância e da mocidade, tinha um reportório muito maior.
“Março marçagão, de manhã inverno, de tarde cara de cão”, embora insistíssemos no “de tarde verão” da nossa cultura livresca. Justificou o “cara de cão” com os ventos que vinham da Espanha, frios, que levavam os homens – entre os quais o seu tio Castanheira - a usar umas capuchas e umas carapuças com orelheiras para tapar do frio. E a propósito falou da roupa de burel, que quatro alfaiates vinham, contratados dos arredores, fazer na casa dos seus pais durante semanas. A lã dos carneiros era trocada nas feiras por maçarocas já fiadas, das fábricas da Covilhã, com que, nos teares, as mulheres da casa fabricavam o pano – mandil - que, enviado para a fábrica do pisão, em Matadegas, (para cima de Destriz, perto de Macieira de Alcova), vinha grosso, transformado em burel, para as roupas dos homens e as mantas. Uma fábrica de dados a minha Mãe se revela agora, citando os nomes dos alfaiates e dos lugares donde vinham, e das mulheres que levavam o mandil e traziam o burel... Não nos lembramos de referências destas tão precisas anteriormente feitas, mas vemos que um prazer revivalista domina os seus pensamentos actuais, modo de ir superando as suas dificuldades e dependência.
De Abril lembrou vários provérbios:
«“Em Abril, águas mil”; “em Abril, vai velha onde hás-de ir e à tua cama vem dormir”; “em Abril sai a bicha do covil”; “ em Abril, queima-se carro e carril. E um bocado que ficou ainda em Maio se queimou.”»
Creio que o tempo mudou. Os tempos mudam, os costumes também. Já ninguém faz roupas em casa. Já pouca gente cultiva os campos de outrora. As terras do Carregal tão férteis então, estão quase todas transformadas em terrenos abandonados, onde crescem as plantas daninhas, algumas delas ocupadas por vistosas casas dos emigrantes, que largaram os campos dos pais na mira da fortuna.
Ontem a minha amiga falou na batata que comprou no supermercado. Era francesa, a batata. Nas plantas do nosso alimento, vamos perdendo os trunfos da nossa independência.
Já passámos por Janeiro que lhe mereceu a evocação de um homem da terra – o José Reis – que costumava dizer: “Em Janeiro sobe ao oiteiro: se vires pardejar pranta-te a cantar; se vires verdejar pranta-te a chorar”, seguida da explicação trocista e sinonímica do verbo “prantar-se” que diz significar “pôr-se”, corruptela de “plantar-se”, julgo. “Pardejar”, ficar pardo, cinzento, o tempo, merece o efeito do canto, como específico desse mês frio, ao contrário do incompatível verdejar.
Fevereiro passou sem referência, mas aproveitou para esclarecer que a sua cunhada Rosinda, companheira da infância e da mocidade, tinha um reportório muito maior.
“Março marçagão, de manhã inverno, de tarde cara de cão”, embora insistíssemos no “de tarde verão” da nossa cultura livresca. Justificou o “cara de cão” com os ventos que vinham da Espanha, frios, que levavam os homens – entre os quais o seu tio Castanheira - a usar umas capuchas e umas carapuças com orelheiras para tapar do frio. E a propósito falou da roupa de burel, que quatro alfaiates vinham, contratados dos arredores, fazer na casa dos seus pais durante semanas. A lã dos carneiros era trocada nas feiras por maçarocas já fiadas, das fábricas da Covilhã, com que, nos teares, as mulheres da casa fabricavam o pano – mandil - que, enviado para a fábrica do pisão, em Matadegas, (para cima de Destriz, perto de Macieira de Alcova), vinha grosso, transformado em burel, para as roupas dos homens e as mantas. Uma fábrica de dados a minha Mãe se revela agora, citando os nomes dos alfaiates e dos lugares donde vinham, e das mulheres que levavam o mandil e traziam o burel... Não nos lembramos de referências destas tão precisas anteriormente feitas, mas vemos que um prazer revivalista domina os seus pensamentos actuais, modo de ir superando as suas dificuldades e dependência.
De Abril lembrou vários provérbios:
«“Em Abril, águas mil”; “em Abril, vai velha onde hás-de ir e à tua cama vem dormir”; “em Abril sai a bicha do covil”; “ em Abril, queima-se carro e carril. E um bocado que ficou ainda em Maio se queimou.”»
Creio que o tempo mudou. Os tempos mudam, os costumes também. Já ninguém faz roupas em casa. Já pouca gente cultiva os campos de outrora. As terras do Carregal tão férteis então, estão quase todas transformadas em terrenos abandonados, onde crescem as plantas daninhas, algumas delas ocupadas por vistosas casas dos emigrantes, que largaram os campos dos pais na mira da fortuna.
Ontem a minha amiga falou na batata que comprou no supermercado. Era francesa, a batata. Nas plantas do nosso alimento, vamos perdendo os trunfos da nossa independência.
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