quarta-feira, 21 de abril de 2010

Roquette disse

- O país tem que mudar, disse o Roquette no lançamento do seu megaprojecto turístico do Alqueva, depois dos elogios estimulantes de Sócrates. Que acha que ele queria dizer com isso de “tem que mudar?”?
- Ah! Pois, não sei...
- disse eu meio às escuras, ocupada a escrever o fruto das experiências da via televisiva da minha amiga, experiências audiovisuais que eu tenho falhado escandalosamente, pois gosto sempre de compartilhar as alegrias do nosso PM que não perde pitada nestas coisas dos projectos, sobretudo se forem dos de vulto.
- Será que o que ele quer dizer é que não se pode roubar mais?- continuou a minha amiga ensimesmada, a ruminar no que Roquette disse sobre a mudança do país.
- Ai, isso não pode ser, porque o roubo proporciona riqueza e os megaprojectos alimentam-se disso. E a gente indústrias não cria, agricultura não tem, a não ser de passagem. Há camiões que transportam sacos com a nossa produção agrícola, é certo, para a passagem sempre um pouco envergonhada pelas ruas, mas os Pingos Doces fornecem-se mais no estrangeiro. De maneira que o Roquette não devia querer significar o fim do latrocínio, para o seu projecto vingar, mas uma maior abertura nesse campo, para desenvolver um turismo de qualidade, pois não temos hipótese de variantes para a mudança, como o aumento da exportação.
- O que é certo é que o Roquette estava preocupado. Toda a vida sonhou com esta obra e vai realizá-la, disse que andava há dez anos a trabalhar nela, que se iniciou agora com o Parque. O Sócrates estava encantado, parece que a obra vai dar trabalho a muita gente, e disse também que assim é que é, que vai ser uma obra de “luxo asiático”, ainda por cima...
- Luxo asiático? Que horror! Sempre o novorriquismo da nossa pequenez! A menos que sejam influências livrescas beaudelairianas, da “Invitation au Voyage”, lá onde “Tout n’est qu’ordre et beauté / Luxe, calme et volupté”. Mas, enfim, Deus dê muita vida e saúde ao Roquette para levar o seu sonho avante, exclamei, associando-me ao encantamento da minha amiga, mau grado a sua preocupação por causa da preocupação deste. - Já estou como o nosso PM, o que era preciso é que muitos mais empresários investissem aqui e não fizessem como aqueles fulanos que se pisgaram para fora do país com os frutos das suas espoliações. Ao menos podiam mandar de lá para cá uns nacos patrióticos do que aqui sacaram. Eram gestos bonitos, a merecer estátua. Mas esses não são empresários.
- Estátua terá o Roquette se conseguir realizar a obra de tal gabarito turístico
, concluiu a minha amiga, sonhando com bruxas – as bruxas do nosso patriotismo.
A menos que sejam do nosso materialismo, não quero pintar-nos melhores do que realmente somos.

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